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domingo, 8 de janeiro de 2012

Beleza de se viver


Hoje, após chegar do barbeiro, assentei-me na cadeira de balanço, pus meus óculos de lado e fechei meus olhos para lembrar de minha vida. A espuma por debaixo do revestimento de couro, torneadas de rebites negros, estava gasta, mas minha lombar já estava acostumada com ela assim mesmo. Motivos e lugares que me fizeram sorrir, coisas desde pequeno, me lembro daqueles sapatinhos vermelhos que ganhara quando tirei a 4ª série.
Com meus olhos ainda fechados lembrei-me de quando eu olhava estrelas com Débora, com alguns gravetos e a tocar algumas frutas que não alcançávamos, ás vezes uma fogueira singela para aquecer-nos do frio na serra e também do lodo grosso que tinha nas pedras que passávamos e não nos deixava vacilar. Meu namoro foi magnífico, desde quando a vi, sempre soube que me casaria com ela.              
Que saudade de minha casa, Papai, Mamãe, João, Ruth e eu, acordávamos e dormíamos quase sempre no mesmo horário, adorava as regalias que Ruth me entregava, sinto falta dela, já se foi há algum tempo, nunca poderei esquecer daqueles olhos castanhos claros. Quando tinha rosca pela manhã era uma alegria, saborear algo a mais, era sempre muito bem vindo. Sinto muita falta da singeleza da vida, o dinheiro não me trouxe esse amor que guardo até hoje comigo.
Paciência, palavra forte e leve, para os que a abstém é um peso, porém posso julgá-la nesses anos todos que já vivi como um bálsamo da vida, consegui muitos tesouros com ela. Ah! Uma beleza mesmo! Educar meus filhos, acompanhá-los, ensinar coisas que ninguém os pode ensinar, ganhei meu pão com meu suor do rosto, empreendi, tive uma vida financeira confortável, graças minha perseverança, disciplina e honestidade. Me orgulho disso, de trabalhar retamente e sequer olhar para esquerda nem para direita. Agradeço a Deus.
Formular combates contra meus calos e pedras de meu caminho, jamais fiz isso, deixei que tudo fosse naturalmente correndo, assim como a água da chuva ou uma honorária cachoeira, meu coração hoje está feliz, em lembrar o quanto dediquei amor aos meus irmãos, pais e parentes, não vou esquecer de nada, os descasos, rancores e chateações foram se embora mais rápido que pensei, talvez sequer duraram uma semana, hoje com noventa e quatro anos tenho a plena convicção de que não tive câncer ou outra doença degenerativa porque usei meu coração para compartilhar sentimentos ao invés de estocar.
Meus olhos podem lacrimejar quando me lembro disso, meu caçula formando em medicina, meus filhos constituindo família e criando asas para um vôo sem volta. Imaculado seja o Senhor, que bênçãos tive! Coro de me lembrar quando Leci nasceu, aquela tarde fria e nublada de domingo, era Maio, não tinham pessoas na rua, mas aqueles que me viram se lembram do quanto sorria para o vento.
O peito dói em recordar coisas, minha vida foi muito grande, quando meus pais se foram, amigos, minha querida e amada Débora, alguns cães e também do tempo que perdi trabalhando e poderia estar mais próximo a todos, mas disso não tenho remorso algum, eu fiz o que pude, e sei que em seus corações são gratos por minha consideração. Não vou esquecer os lábios aveludados dela, nem da comida na panela de barro, quando aprendi a dirigir, Papai foi muito útil, tirado todo seu enfezamento, risos!
Vejo algumas folhas nascendo na árvore lá fora e isso me anima, pois sei que a vida nunca míngua, ela cria estações novas e faz você lembrar que vale a pena viver e reviver momentos que estão a sua espreita. Viajar, conhecer lugares, pessoas, sorrir com alguns tombos e entusiasmar-se, seja com uma saída para o parque ou quem sabe Minas Gerais.
A vida é um sopro, e você escolhe e ora para que seja o mais doce, vai decidir se quer baunilha ou anis, está ao seu alcance ser íntegro e cordial com o seu redor. O tempo é um lampejo para odiar e guardar fúria em seu tórax. Isso não vai te adiantar de nada, é como jogar um metal no ar e esperar que ele flutue. Deguste de sua vida enquanto pode, quantos queriam ter a vida que você teve ou mesmo uma dispensa farta?!
Sorria para a vida, sorria para Deus, sorria para você mesmo, ainda hoje pegarei um táxi com amigos e visitaremos a praia, decidi antes de ontem que ainda essa semana quero tomar água de côco e admirar as montanhas e o mar.

- M. Leite

Um comentário:

  1. o passado bem vivido ou não, não retornará, detemos apenas o agora, e nesse momento temos a escolha de sermos felizes, o amanhã pertence a Deus. Lindos textos, como sempre.

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