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segunda-feira, 30 de maio de 2011

Noite qualquer



Vestido verde, pano leve. Devidamente dobrado, com requintes de quem sabe fazer a dobra perfeita. Por sobre ele uma calça jogada, largada como se fosse um mal a ser destruído. Uma regata branca que completava o monte foi carregada pelo vento, moleque travesso que brinca com qualquer coisa. Vai levando e jogando de um lado para o outro. Nesse balé jovial, uma onda mal humorada não quer brincar.

- Não aceito a brincadeira, agora é minha.

E toma a blusa e carrega consigo. Irá levar para Iemanjá? Talvez. 

A lua que de cima assiste tudo joga sua luz por entre nuvens foscas e arredias. Não gosta de ser chamada de farol do céu. Sente-se mais um preciso solitário a reluzir pela negra noite. Noite que é nova, sete e trinta.

- Amor, tá na hora? Pergunta quem não sabe o que fazer.

O vento moleque não quer parar de brincar. Encontra outra coisa para fazer.

- Vou ecoar os sons! E arrasta gemidos pela praia. Gemidos que viram uivos, uivos que gritos, gritos que viram barulho, barulho que vira som estridente.

- Pega ele!
- Se ferrou rapá.

A onda ainda joga as suas franjas na praia. Resfria os corpos quentes, que adormeceram aos seus pés.

- ReVitor

[Esse conto, foi escrito por ReVitor, alguém que tenho muito apreço e uma mente brilhante para a sabedoria de letras]

sábado, 14 de maio de 2011

Lilac Wine



Entre as luzes e o verde da grama, abri meus olhos, estava lhe esperando em baixo da parreira, os raios de sol contornavam as folhas e os cachos das uvas viscosas, ele as ultrapassavam, brilhava no chão seus raios, ele tomou conta de mim também, me aqueceu, me fez pensar o tanto quanto estive esperando por você, estive pensando o tempo todo os dias que estávamos unidos, os beijos daquelas noites, o perfume de seu pescoço, e o sorriso que me embriagava dentro de minha própria mente.
Estava aqui pensando em todos os acordes que nossas vidas tiveram, as qualidades dos encontros, e o afeto generoso. 
Algumas folhas caíam sinuosamente dos ramos, e algumas delas caíam e giravam até o chão, outras flanavam no ar como um pouso feliz e final de alguma jornada, dessa última eu me comparo como ela, que vim lá do ramo das belas e saborosas uvas, mas eu estive com você um tempo e depois tudo acabou, você se foi e eu continuei. E quando nosso amor se foi eu flanei sobre o ar até tocar a terra molhada e lhe beijar uma última vez para me lembrar todo o tempo que perpetuou nosso amor.
Hoje o sol me aquece cada dia mais, o orvalho me molha regularmente e em pouco dias estaremos juntos de novo, voltaremos a nos amar e aquecer-nos novamente, pois eu esperaria uma eternidade parar ter seu sorriso próximo de mim de novo, mesmo que por um minuto. Estou esperando o tempo me presentear com minha ida, pois meu peito anseia você.


- M. Leite

terça-feira, 10 de maio de 2011

Assoalho escarlate


Entre as alvas tranças estiradas sobre o chão, nós de cetim lilás as ajeitavam, o grande volume de cabelo tinha um aspecto grotesco, havia tons amarelados e fios negros, a cabeça estava caída, os olhos fora de sua órbita, a boca franzida e escoriações de orelha a orelha. O golpe foi certeiro, fez se um estrondo, a gravidade atraiu seu corpo e o tragou de súbito. Os assoalhos velhos e secos de maus tratos, fora encerado pela viscosidade escarlata, houve apenas um gemido e um tremor, os berros e aflições foram emanadas para seu interior. 
De grossa e robusta árvore fora feito, tão eficiente quando perversa, empunhada por mãos fortes e sem opinião, somente cumpriram o acordado.

- M. Leite
 
 
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