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quinta-feira, 23 de junho de 2011

Joaninha na janela

Hoje pela madrugada o galo não tardou a cantar, mas havia pessoas pra la e pra cá na rua, eram passos lentos, com pessoas cantando mais em um tom fúnebre do que feliz. Não era apenas uma ou outra pessoa, era centenas delas, com instrumentos tristes, pessoas falando e outras conversando no meio.
A casa era singela, havia duas janelinhas e um portão, havia pessoas dormindo nela, algumas nem acordaram com aquela passada pela rua. O barulho do lado de fora não incomodara alguns la dentro, ainda mais pela noite engrandecida que tivera ontem.
No meio das pessoas haviam um andor feito de madeira leve, rebuscado e ornamentado com traços finos, sobre esse, havia uma estátua bonita, com roupas desenhadas e feitas a mão, pois todos reparariam. As pessoas olhavam de forma singular e continua para ela, algumas olhavam e fechavam seus olhos, outras choravam, algumas faziam pedidos e outras ficavam questionando o porque esperar algo de um objeto feito de barro.
A moçinha que estava dentro de sua casa, era bem novinha, ainda cursava a quarta série, mas inteligência não lhe faltava, ela vendo toda aquela gente ficava admirada com tantos rostos novos em frente a sua casa, já que todos estavam dormindo, ela resolveu dar uma espiadinha lá fora da janela.
A madrugada ia se, findando e minguando cada segundo, todos aqueles sapatos, chinelos e saltos estavam chegando ao seu destino, a bandinha também, lenta ia com todos. Em certo deslize alguns dos integrantes da procissão cambaleou e derrubou o andor, houve muito arrepio, medo e susto, algumas ficaram aterrorizados pelo ocorrido, outros começaram a dizer que pragas viriam sobre todos, que maldições e sortilégios viriam a sua tenda.
Joaninha, a menininha apelidada, sorriu, com suas bochechas rosas e cabelos douradinhos, ela sabia que dali nada sairia, que o barro que foi feito, no quintal dela tinha bastante,  sabia de toda sua ingenuidade que a graça e vida não se pode enxergar ou tocar, mas sim sentir, e sim entendia que a oração dela invadia os céus, pois seu coração acreditava no real amor, e sua vida fora gerada e criada por ela. De assalto Joaninha voltou para sua caminha, ajoelhou-se e pediu a benção para ela e os outros do lado de fora.


- M. Leite

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Presunção



Saber de coisas é muito interessante, conhecer como funciona o ciclo da água por exemplo que sobe, condensa e precipita ou mesmo como as relações amorosas são complicadas e cheias de barreiras e buracos. Ter consciência de grandes feitos pela humanidade, assuntos teóricos polêmicos ou descobrir, ser um gênio, descobrir coisas ou inventar para uso comum e próprio.
Tais características podem ser cotidianas, como descobrir uma maneira de economizar seu tempo, se cuidar, tratar pessoas, mudar a maneira com que age, sem nem mesmo ser assim por via das vezes, somente precisamos regrar da lealdade, porque talvez a falsidade atinja seu próprio ego.
Mas há a presunção, palavra chave do câncer que a sociedade contraiu, ter a facilidade de se julgar esperto o bastante para enfrentar e desafiar qualquer conteúdo, sem muitas vezes nem mesmo pesquisar sobre ele. A mania de criticar obras, de artistas, escritores, pessoas comuns. O conceito de inibir pessoas e contestar obras de Deus, Ah! talvez esse seja o maior deles, as pessoas se acham muito inteligentes mesmo, ainda mais com o fato de que a inteligencia e toda sabedoria veio do criador.
A presunção não somente fere a língua que a profere quanto o caráter, pois tais ignorâncias ditas podem ser tao visíveis que certos não fazem questão de ridículo.
Conhecer e entender das demais possibilidades na vida, assuntos, tentar desvendar enigmas entre outros parágrafos é exuberantemente genial, no entanto tenha cuidado com o que pensa ou afirma, ser intencional em certas palavras pode lhe colocar um nariz vermelho.


- M. Leite

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Quarto Fúnebre

O bolor aglomerado das paredes estampadas emanavam um hálito fétido de anos empoeirados e silenciosos, o fúnebre quarto parecia uma prisão, com janelas imensas, vidros escuros e cortinas grossas, elas por fim escondiam toda e qualquer luz no ambiente. As lamparinas estavam sujas, teias de aranha e mofo para todo lado. Os móveis em verniz não brilhavam nem mesmo com o reflexo do abajur, a escuridão e a umidade já tinham os consumido.
A maçaneta era pesada e cravejada com pedras, a chave tinha traços específicos de alguma seita. A porta estava um pouco escoriada, algumas delas, julgamos que sejam de unhas ferozes e aflitas.
O piano tocava e gritava aos quatros cantos da sala, dilacerava sua voz estridente e grave contra a mobília e a aquele grande e fino corpo feminino que o tocava, com as vestes em seda branca e cabelo mais brancos do que a neve. Os sons ecoavam sobre a casa, parecia uma festa de espectros e gárgulas numa dança macabra. A quietude dos cômodos e o brado do piano tornavam o aspecto da casa grotesco e fantasmagórico.
O quarto que onde encontrava-se a morta estava deixado de lado, estava ela, as paredes emboloradas e o som do piano, constante e plangente.
O horror não era nada inusitado e novo naquela ocasião, uma morte lenta e dolorida, o homicídio ocorrera de manhã até ao atrelar da noite.
Com nós firmes de couro, amarrados as extremidades da cama, vestido carmim e cabelos soltos, a interpretavam como uma estranha, aquela rejeitada pela sociedade. O lustre e suas centenas de velas fora envergado, de modo que ficasse rosto a rosto com a finada. Pingando uma a uma, suas gotas quentes pareciam navalhas singelas, uma a uma, iam cortando e grudando em sua derme, cada vez mais rápido de acordo com a rapidez da chama que ardia em cada vela. Elas caíam feito uma metralhadora sobre um alvo, sem piedade e abruptas. Em sua boca havia um lenço prata, bordado na China, e com o bordão da família, estava tão fortemente amarrado que todo e qualquer esforço para gritar eram inválidos. A cabeça fora tracionada por duas talas de aço como um fórceps fixo. Era horripilante o estado de seu corpo após perder o sentido, havia sangue e cera e um pouco de chamas espalhadas esporadicamente desde o abdômen até a cabeça, a cera a medida que  o fogo a consumia ela formava uma montanha sobre o corpo estagnado, algumas eram tão quentes que criavam chamas que apagavam brevemente, o estopim de algumas velas caiam sobre o corpo também, um ou outro deles continuavam com chamas, a pele cedera e o rosto e os seios foram deformados pelo calor e a ação da cera quente. A cada gota que caia, notas eram soadas pelo robusto e maldito piano, aquelas mazurkas e nocturnes de Chopin não foram as melhores lembranças dela, a morte veio com essas canções, que a apavoraram e atormentaram sua mente minuto a minuto.
Já a noite o piano cessou, a convidada fora embora e os motivos pelos quais seu padrasto teria executado sua morte lenta, talvez fosse o beijo e o carinho negado pela estranha jovem que gostava de tocar piano.

- M. Leite

domingo, 12 de junho de 2011

Engraçou-se



O alucinado acaso
o assassínio impecável
o sangue do escárnio


A seda de seu lenço
as jóias geladas
adaga cravada


Entre os olhos de ira
eis o réu.
És vingança paga.


- M. Leite

sexta-feira, 10 de junho de 2011

No metrô

Os passos estavam calmos, andavam vagarosamente entre aquelas centenas de pés que rumavam em uma só direção, havia muitas cabeças, de muitos tamanhos e ornamentos diferentes, algumas tinham bonés, outros chapéus, lenços, faixas e uma e outra sem fio algum. As feições eram as mais diversas, algumas preocupadas, outras emburradas, algumas sorridentes e outras com sobrancelhas altas e olhos arregalados de pressa.
O embalo da escada que rolava era vagaroso, as bolsas incomodavam os que passavam, outros ficavam na frente como se nada tivesse acontecendo, a escada não parava e entrava e saia pessoas nas extremidades da superior para inferior.
Defrontavam com algumas pilastras de madeira e acrílico, tinham pessoas lendo as mensagens, outras ao telefone, gente era para todo lado.
Mas o olhar não deixou de perceber que havia algo mais, os ouvidos todavia começaram a sentir um toque doce, notas e mais notas ligeiras soadas por um exuberante piano. Eles tocavam músicas consagradas e esquecidas, havia uma roda de pessoas apreciando o momento.
O pianista sentado em seu banco feito de madeira maciça e acolchoada, comandava as canções, as notas iam se vinham nas mentes das pessoas e faziam bocas mexerem e olhos brilharem. Um senhor, um pouco velho, com cabelos brancos, nariz comprido, olhos pequeninos, trajava uma roupa humilde, mas muito adequada para a ocasião, era um cantor, daqueles que tinha na voz a ternura que emocionava os corações, a solidez de um tenor e o gracejo da calmaria, ele nos olhava com um olhar de gratidão, de poder em sua avançada idade mostrar seu talento, o rouxinol que trazia em sua garganta de velhas cordas fortes.
Apoiada sobre o piano, havia uma mulher com a idade avançada, assim como o velhinho bacana, ela cantarolava com amor as músicas de sua juventude, fechava os olhos com êxtase e entoava sua voz leve para o alto, era uma pessoa muito feliz e generosa, não a conhecia, mas sua feição a entregava.
As canções e notas foram tocadas, pessoas iam e vinham, a maioria delas apressadas, no entanto aquela noite valeria mais a pena, pois a beleza que fora vista, refrigerou os corações.


- M. Leite
 
 
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