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sexta-feira, 31 de outubro de 2014

O armistício negado

      

      
      Sucedeu-se que a busca por feitiços inteiriços a protegerem as almas daqueles ameaçados por seres ocultos, alentou as feiticeiras de seu descanso diurno sobre as árvores nuas, os rios e lagos negros, deixaram os cemitérios esquecidos, a perpetuarem em suas cabanas e cavernas com intenso trabalho. Anunciara aos homens da vila, as prostitutas que usavam de suas noites para aliciarem novos rapazes, as mulheres solteiras, os velhos e alguns ou outro integrante da igreja. Se compraziam em desejo e medo, correram através dos montes e colinas a busca de poções, os encantamentos e a comunicação oculta deliberada as bruxas e o sinistro.
      Compunham uma carroça em armistício, direcionada ao morro-das-virgens-de-pedra, aquela que jamais veria o sol, o que esqueceu as esmeraldas, e a cruz de prata adornada no pescoço do terceiro, estiveram em silencio admirando o luar misterioso, e o relinchar da mula assustada entre as treliças desniveladas da ponte que os levava até a caverna, destino o qual o anseio e pavor os decepavam em contingência de minutos.
      "Numa noite em que as nereidas estavam soltas em companhia de homens e mulheres da vila, no fundo da mina abandonada um forasteiro enfiou-se até o local onde as atividades de mineiros e exploradores haviam sido extintas em anos, a lamparina até o seu limite máximo de óleo assegurando maiores chances de encontrar esmeraldas, a lua negra em sua fase nova, não o ajudou, esquivando da superfície com seu pequeno clarão que iluminava pouco mais que alguns passos. 
      Os ulos e sorrisos deixados para trás inundavam o pequeno plano não tão distante da mina, a festa da carne e o vinho distraia os rapazes seduzidos pelas donzelas de fios e pele alvas, a cítara e a fogueira ardiam entre a sucessão de horas. O caminho profundo da mina afunilara de acordo com os passos do desconhecido, o feixe de luz brilhava em pontos, e este com sua picareta destacava das paredes cruas algumas pedras foscas que cintilavam no negror sutilmente.
      Em determinado ponto subterrâneo deparou-se com um bifurcação onde contemplava dois vazios permanentes, como em um sopro a chama apagou-se, e ouviu alguns passos, em seu delírio, jogou o alforje no chão e acendeu com fósforos a lamparina, esta que voltara a produzir luz mostrou-lhe que o alforje com as pedras havia desaparecido".
      A mula disparou em uma curva, atirando a carroça a uma ribanceira modesta, os integrantes ficaram imundos com a terra preta e o mau cheiro deixado pelo resto das carcaças de animais pútridos deixados ali pelas feiticeiras. Já se encontravam no morro-das-virgens-de-pedra, propuseram a caminhar pela via de terra, os dois homens e a mulher.
      Ofuscado pela copas das arvores, o brilho lunar mantinha-se distante em alguns trechos, galgavam com dificuldade e apreensão, as mãos trêmulas e suadas era o que tinham em comum alem do mistério que ambos relatavam entre si, o animal debilitado tombou próximo a uma tronco, o cansaço fez que os três caminhassem sem ela. 
      "Nas noites brilhantes e aquecidas, as prostitutas aguardavam em seus quartos com venezianas velhas a espreita de seus amantes, o lupanar fervilhava enquanto o silencio imperava nas ruas e casas, dentro de seu estado de euforia gritavam e riam com seus parceiros. Importunadas pelas ordens do proxeneta, mantinham o sigilo e honra de seus visitantes em troca de dinheiro e presentes.
      Requisitada entre os maiores, disputavam o deleite de teu seio formoso, o rosto delicado e as mãos dóceis que mantinham os rapazes e homens a seu dispôr, enganada e conformada de sua condição desprezível perante as outras mulheres. Ironizava as famílias, e mantinha seu olhar cínico a aquelas que em seu entendimento, a viam como uma rival em culpa comprovada, embora, não tivessem coragem de enfrenta-la ou feri-la pelo fato de se entregarem as línguas das alcoviteiras, mesmo que se participassem do mesmo grupo de mulheres rejeitadas pelos maridos e amantes.
      A última noite da prostituta desejada, limitou-se entre uma ameaça e a morte de um cliente, rejeitou fugir para longe com o civil, e escolheu entre as duas facas que escondia debaixo de seu travesseiro assegurando sua liberdade".
      Chegaram na caverna exauridos, cada qual checou sua quantia em ouro e caminharam entre assovios, uma brilho de fogo desenhou na escuridão um circulo, a entrada dos três era bem vinda, a bruxa envolta de panos velhos e pulseiras sorriu ao ver os sacos pesados que receberia em pagamento a seus trabalhos. 
      Pediu para que cada um deles tirasse as roupas, sobre um mesa ela pegou uma guia diferente para cada um deles. Do forasteiro pendia uma bela esmeralda polida, colocou com rispidez sobre o pescoço do homem, da prostituta era um rosa invertida feita de madeira, o terceiro, o padre, recebeu a sua, um pingente em forma de sino pendia agora em seu peito ao invés da cruz que o protegera no percurso.
      "- Perturbo-te padre?
      - Quem vens a uma hora dessas da noite?
     - Perdão, devia ter deixado o sol nascer para confessares, mas não foi o bastante, a pressa permeia a minha alma,  e não sei se verei o amanhecer.
     - Estou a ouvidos, as nereidas estão a solta, e dizem ainda que os vampiros, como teve coragem?
      - Quem quer se apropriar de algo não se esgueira no tempo a esperar que algum miserável o atenda. Deve se procurar ainda ate no local mais sagrado, já que a lei sagrada não sucede aos homens vestidos assim emaranhados em pensamentos carnais.
      - Maldito seja! 
      - Não levante a cortina, maldita seja sua alma padre. O que opõe a ti os sacrilégios de outrora? Os jogos de azar e as noites enluaradas com as nereidas?
      - Quem és? Que queres de mim? Temo de ver sua face, deixe-me.
      - Crês em feitiços velhaco? Não deveria esquecer a noite que as ramas enrolaram em seus pés em seu puro deleite, entre os fios douradas e os dentes afiados. Sua hora não tardará. 
      - Qual o ônus a ser acertado?"
      A impertinência do caldeirão que fervilhava água e ervas, infestava as paredes de rocha de um cheiro desprezível, os três de mãos dadas em frente aos olhos da feiticeira temiam que a confiança foste traída por ela, seu manto negro arrastava no chão, pulava e ditava o dialeto oculto. Em um aceno se assentaram e aguardaram com pavor as ordens das mãos que os enfeitiçavam.
      - Forasteiro, achou que as esmeraldas eram de sua posse?
      - Jovenzinha, que trazes aqui? O assassínio não foi o bastante?
      - Quanto a você, o único que recebeu a presença das sombras pessoalmente, não estava seguro em seu confessionário?
      - Os três desejaram em outrora que fossem protegidos por eles, em troca de um pouco de sangue puro, quando eram virgens, foste acordado em troca da alma o beneficio da imortalidade, assim como os deuses orientais invejariam que se tornassem igualmente a eles, seja em poder ou vida, desprezam a chance concedida. Não posso retroceder o tempo, o trato fora assinado. Não gostariam de tornar um deles? 
      A prostituta interrompeu o discurso - " Por favor, por favor, minhas mãozinhas eram pequeninas quando aceitei, e fui enganada, me tire deste destino sombrio em vagar para sempre em busca de sangue e viver na escuridão".
      O padre implorou "Oh! Grande feiticeira do morro-das-virgens-de-pedra, lhe farei a mais rica de todas, era apenas um menino quando aceitei trocar minha alma pelas mentiras do homem morcego, não, não quero apodrecer para todo o sempre na terra".
      - Quanto a você homem das esmeraldas?
      "Me prometeu riqueza e eu a tive, mas nunca tive paz, sempre estive em busca de multiplicar o que recebi, não é justo, busquei maior riqueza a partir do acordo, não era tão criança, meu mérito deve ser colocado em justiça".
      Justiça a quem? Tiveram a escolha, não anteciparam em momento algum as chances de escaparem, aceitaram as linhas do contrato, perpetuarão para o sempre aqui, onde quer que possam esconder não tardará que os encontre, o mal já foi assinado, ceifarão seus irmãos e irmãs, sondarão os homens que namoram as nereidas a noite, acompanharão em visão as crianças que saem das igrejas, se acomodarão em paciência nas ruas onde as prostitutas e bêbados vagam. Tornarão-se parte daquilo que escolheram, e esta noite ainda, verei em meu caldeirão seus vôos em espreita aos desavisados.

- Marcos Leite



quinta-feira, 2 de outubro de 2014

As carpas denunciam


           Amanhecera os montes cingidos pelos raios de sol, dissipando as brumas habituadas a encenar as trevas em seu período negro do dia. Edificações gélidas, portões descascados, o cenário glacial advertia os moradores da região sobre os miseráveis dias que se aproximavam. Ainda assim os romances podiam ser vistos nas casas de chá nas primeiras horas do dia, nos restaurantes, praças, admirando os resfolegar de folhas e atribuindo a comunhão da paixão com chocolates quentes e beijos frios.
            Levados pela corrente de amores sazonais, os casais escolhiam entre os programas lúcidos e inebriados, dividindo sua permanência de dias em lugares de apreço ao ópio, bebidas, o sexo, alguns a passeios de charrete, bicicletas e tardes a cavalo. A cidade era distante a grandes metrópoles, os pássaros somavam seus alaridos em orquestra outonal se assemelhando aos réquiens.
            Distintamente as lampadas tinham a reverberação alaranjada, como as de outrora, a intempérie e o frio, produziam seu verniz natural as camadas vítreas que escondiam a admirável claridade eletrônica. O aspecto noturno atingia o glamour das noites enluaradas, de estrelas vívidas e enormes.
            - Um pouco menos de estudo.
            - Estou ainda pensando se há realmente possibilidade.
            - Logo voltaremos para a cidade grande, deixei esses jornais, arquivos e manuscritos. Não deixemos que nossa viagem se torne...
            - Ok! Não precisa de apelo moral.
            - Fui sugestiva.
            - Oh! Agora vamos brigar?
            Casados há três anos, as diferenças eram aprazíveis, comuns, entre os dilemas habituais entre os casais jovens. Refutavam de riqueza e luxo, embora, estivessem acima de quase todos que na região estavam nesses dias. Caminhavam entre os demais como quaisquer, a aparência ereta e fina os entregava, ao merecerem mérito por suas famílias. A estirpe é algo previsto entre os homens, uma pele de coloração rosada e aveludada como um pêssego, jamais se relatara como os vestígios de uma como furos, depressões e acne.
            Ostentavam em casas de linhas, tecidos, chás, bistrôs. As luzes mantinham aspecto favorável em sua mesa, um disparate ficarem sem a maior peça do restaurante.
            - Quando voltarmos, quero ver a praia.
            - Não gostas de frio?
            - Sim, mas estamos há duas semanas aqui.
            - As nossas afinidades se comprazem.
            - Como as pessoas que se odeiam?
            - Que quer dizer com isto?
            - Eu nunca mais o veria se fosse um namorado. 
            - Leva isso adiante?
            Inspirado em um guerreiro que degola a cabeça de sua esposa e caminha com a cabeça de órbitas mortas em baixo do braço, para que ela nunca esqueça quem a amara verdadeiramente. O filme iniciou, as cordas manchadas de sangue, os cabelos imundos, o ator belo e barbudo, uma cabeça de cera mal feita. O apelo da platéia era de nojo, alguns desprezo e outros o pavor. Entre as taças de tinto, a noite se lançou na perfeição inebriante das uvas, e o filme era de menor interesse a todos.
            Tinham ainda um pouco de interesse entre os dois, as vezes o carinho, os negócios, e os amantes, a utilidade de se viver num matrimônio acordado entre pessoas de negócios era simples como os papéis de admissão em uma companhia. Embora, estivéssemos observando que a conduta organizacional fosse tão exemplar como no matrimônio. 
            As ruas estavam baldias, os carros andavam vagarosamente, guarnições mantinham gárgulas em expressões pavorosas, assim como as múmias embalsadas vivas em rituais de punição, árvores fantasmagóricas e pios noturnos, a beleza do sinistro imperava, e a destreza em desprezar tudo mantinha-se viva entre os dois. Distantes, caminharam de mãos dadas até o hotel, o veículo chegava até a proximidade, devido uma passarela de concreto direcionasse ao portal da recepção. De um lado para o outro da guarnição no qual caminhavam sobre, tinha água para ambos os lados, e luzes azuladas que embelezavam as carpas aprisionadas naquela lagoa artificial.
            Entraram nas acomodações, salvos, voltaram a trocar algumas palavras, desnecessariamente mantiveram calados após notarem que o contato não era de interesse sequer de um dos dois. Apesar de manterem o desprezo e a medíocre relação que alimentavam há um certo tempo. Os gênios eram diferentes, e conduziam uma trama de difícil aceitação. 
            Mantiveram o tinto no adentrar da madrugada, a esposa foi a cozinha e preparou pães com creme, a uma hora dessas não tinha serviço de copa em andamento, os trouxe envoltos com mel em um cesto de seda com arremates de fios prateados laçados, deixou sobre a mesa e encheu sua taça. Após brindarem o vazio, esgueirou a espera da morte de seu esposo, recheou os pães com veneno e manteve-se atenta em não comer, com reclames a seu peso e o gosto adocicado do mel, também estava sonolenta nesta circunstância.
            Com os sentidos debilitados, olhou para o semblante imóvel do marido e notou que suas íris estavam enegrecidas, mas com órbitas cinzentas como um farol envolto de névoa visto ao longe de um navio.
             Com esforço de quase uma hora, conseguiu com uma maleta de facas e serras, já trazidas para este desfecho, arrancou a cabeça do esposo, e mirou com precisão o meio da lagoa em que as carpas nadavam como se flanassem num céu azul. 
            Por sua gratidão e honra, ela subiu o parapeito da janela para que não perdesse a visão admirável da morte e vingança de seu esposo, o sono estava grave, escorregou nas pedras lisas e atirou-se adormecida ao lago com a cabeça sobre os braços, as carpas fizeram um círculo rosado formando um redemoinho e a esposa se manteve belíssima em seu sono de morte, a cabeça do esposo flutuava como uma flor de lótus.
            No vinho, o veneno de uma aranha mantinha o corpo paralisado por horas, alegando a morte, a substância foi colocada pelo marido, assim que a esposa adormecesse, ele a afogaria, os desejos de morte se compraziam até em seu ódio, os crimes funcionaram como nas tramas orientais em que existe o suicídio em conjunto, neste, o assassínio foi deliberado em uma bifurcação que morre em apenas uma via.
            
- Marcos Leite





 
 
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