Social Icons

.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Saxupquy – Judith

Capítulo 5 - Judith

  
O perfume das magnólias era tão prazeiroso que ambos estavam em êxtase diante toda essa maravilha, ao fundo se ouvia uma música, similar a clássica, era a voz das rosas cantando, elas estavam longe mas era possível perceber o som, até mesmo um sussurro emitido por elas. As rosas embelezavam o caminho para o melhor lugar de Saxupquy, o templo de Judith, era próximo ao sino que não dobrava e tinham mais do que apenas flores e um sino.
- Acho que estão perdidos aqui!
Entre olharam e permaneceram calados.
- Não tenham medo, vim para ajudá-los!
Simão meneou a cabeça para a direita e viu ao lado de um arbusto uma menina, melhor dizer menininha, tinha lá seus oito anos, de cabelos castanhos e olhos mel, estava sorridente e tinha a voz fina e alta.
- Conheceram Juniceu e Shito?
- Sim, foram realmente agradáveis conosco. – Canebre disse com olhar bondoso.
- Shito é desconfiado, mas é muito bom, já não posso dizer bom moço, não é mesmo?! – entre gargalhadas continuou – Venham comigo, devo levá-los.
Com uma sútil dúvida e desconfiança Simão questionou o Capitão sobre confiar ou não na pequena jovem que aparecera do sopro das flores e com jeito tão meigo.
- Ouça caro, algumas outras passagens aqui foram piores, uma foi um lemore que me levou, outra um gavião e a última foi o próprio Shito,tive de me explicar mais quatro ou cinco vezes de quem eu era. Acho que a menininha vai ser menos difícil. – A essa altura ela estava há quase trinta metros de distância deles, mesmo que quisesse não ouviria as dúvidas e explicações de Canebre.
- Venham, não quero que se distanciem, passaremos pelo lago da dúvida.
- Simão, antes que me pergunte, é o lago dos questionamentos, aparecerá coisas na água, como um espelho, de coisas que sua mente projeta e você crê que exista. Preste atenção. Não caia nessa cilada, é fantasia, se vacilar a água vai lhe tragar, é gélida e te consumirá.
- Não sou um rapazinho, sei como lidar com tal coisa.
- Peço que não seja presunçoso aqui meu caro, não estamos no Indico.
Certo ar de receio pairou sobre o coração do marinheiro, o qual tinha mais curiosidade em desvendar os mistérios do que o próprio medo, no entanto nunca vira o capitão sendo tão inofensivo como horas atrás, até mesmo uma moçinha de seus oito anos estava obedecendo.
O céu estava pálido com rochas e águas ao redor, não havia vegetação, pessoas e muito menos flores, era o lago das dúvidas. Chegaram os três juntos, até mesmo se encontravam na mesma gôndola, com as duas mãos e braços fortes o Capitão prosseguiu remando.
- Aqui é um lugar escuro quase todo o tempo. Apenas nessa época o céu fica cinza, do mais ele sempre fica negro e tão escuro que não se enxerga nada.
- Qual seu nome moçinha?!
- É Carol!
- Nome bonito. – Disse Simão. Que mais tens a nos contar sobre o lago?!
- Acho que deve se preocupar menos com o lago, ele o instiga pelo mistério, mas o mesmo mistério que vai lhe consumir. Pense nas rosas e no festival assim que o sino que não dobra tocar.
- És muito sabia para uma menina de oito anos. – Afirmou Canebre.
- Não tenho oito anos já faz quase treze décadas.
- Tens a pele e o jeito de uma menininha.
- Não pense que aqui é semelhante a seu mundo, ja vivi mais que o dobro de sua idade, mas isso não quer dizer que quero ser velha, aqui se pode escolher sua forma física.
- É um truque? – Questionou Simão.
- Acredito que sim.
- Só pode ser um truque, as pessoas não sabem confiar em adultos, mas em crianças sim, pois tem a inteção boa com elas.
Após o marujo calar-se um tom de culpa soprou aos ouvidos dos homens, e alguns pensamentos vieram. Como alguém pode confiar numa criançinha que tem mais de cento e trinta anos e ainda cair em uma cilada como essa, pode ser que a nos leve para o fundo do lago, quantos ela já não deve ter tragado com essas artimanhas. Será que posso detê-la, quem sabe a jogando no lago, ou será que ela controla a cor da noite?! Esses pensamentos martelaram por mais de dez minutos a mente de ambos, nessa circunstância, deixaram de ser uma hierarquia e sem a menor dúvida consideravam-se amigos ou até mais próximos.
- O que é aquele belo banquete Simão?!
- Não o consigo ver!
- Próximo a segunda pedra -  apontou o dedo indicando-a.
- Vi, serão alguma oferenda? Seja la como for podemos aproveitar um pouco dela.
- Não estou vendo, Canebre está sendo enfeitiçado pelo lago.
Carol observava tranquilamente os atos dos dois, mas seus olhos não vacilavam em momento algum.
- Não pode ser, creio que seja sim algo feito e preparado para nós, quem sabe Judith não tenha mandado.
- Agora o posso ver, parece que a mesa foi posta há pouco, até duas velas deixaram. E três lugares a nossa espera.
- Reme, ande, estou com fome.
Os braços fortes do Capitão admitiram mais forças ao ver uma recompensa deliciosa a frente, se empenhou a remar mais forte para que chegasse logo e já não importava mais nada ali do que seus olhos conteplavam.
- Parem – ela teve de interromper.
Não adiantou de nada, apenas piscaram e continuaram a falar sobre o deleite que teriam assim que a gôndola chegasse ao lado da rocha plana que avistavam.
- Parem agora – Com tom de autoridade e uma voz mais grave do que um fagote, gritou Carol.
Ficaram olhando impressionados, deixou o remo de lado e se aquietaram, e continuaram fitando-a.
- Ja tinha os avisado, não existe banquete algum, não existe mesa nem cadeiras, não há velas, são mais vulneráveis do que pensava, parem de ser tão inocentes, já havia dito no campo das magnólias que o lago era traiçoeiro, sei que não saiu de minha boca, mas Canebre disse, e você mesmo vacilou e caiu em seu feitiço. Ouçam bem, não posso controlar a mente de vocês, e se continuarem assim vamos afundar em poucos minutos, devem pensar nas rosas é o único antídoto. Pois o lago e as rochas esclarece com o som delas, e caso pense nelas eles se encarregarão para que saiamos o mais depressa de sua derme.
Com tom envergonhado entreolharam-se e começaram a pensar nelas, Canebre tinha o brilho nos olhos, o brilho que todo o que as ouve fica, já Simão sorria ao imaginar como seria, já que o som era como um breve sussuro que vinha de longe mas era possível perceber a beleza do seu canto.
Algumas horas passaram, e tiveram alguns assuntos trocados, mas brevemente interceptados pela perseverança da jovenzinha como a chamariam na praia. Estavam já próximos ao campo das flores misturadas, era um dos mais belos jardins que ali existia, as tulipas, orquídeas, crisantemos e outras embelezam e indicavam o caminho.
- Venham caros, não estamos tão longe, ainda tenho de chegar cedo em minha casa, minha nonna não deve estar nada feliz com minha ausência. – Carol sorria -  Pensei realmente que se deixariam enganar pelo lago e suas miragens, mas vejo que são fortes e astutos.
- Foi de grande importância para nós menina, mesmo eu ja velho e não sendo marinheiro de primeira viagem dessa excursão tive de baixar a cabeça e reconhecer meu erro.
- Não se culpe tanto, até mesmo Shito já foi engado pelo lago uma vez, mas Juniceu jamais permitiu que isso acontecesse, ele é de luz esqueceu?! – Sorriu novamente como uma doce menininha.
O céu estava rosado e tinham nuvens nada comuns, eram arroxeadas e os pássaros eram menores do que conhecemos, mas era muitos, mas tantos que pareciam uma cortina de fumaça no ar. O som que vinha de cima já estava com tom mais elevado, mas não podia ser reproduzido por ninguém, a não ser apenas pelas rosas, ela como uma língua inacessível a outros seres, mas quem sabe a mais belas de todas.
- Conseguem ver?
- Sim, é o sino. – Disse Simão.
- Está brilhante hoje, é um dia bonito quando isso acontece.
- Que tal chegarmos até Judith logo?!
- Vamos sim Canebre, estámos a poucos metros.
O aspecto de todas as coisas que se viam era único, o grande sino, as cavernas, os seres e as rosas, ah! As rosas, eram milhares, de todas as cores separadas e muita harmonia, o cheiro era o mais agradável e a temperatura também.
- As rosas, ouça Canebre, estão falando.
- Fiquei surpreendido assim como você quando as vi pela primeira vez. São maravilhosas e nada em toda minha vida verei de mais belo.
- Estão prontos? – Perguntou Carol. A encontraremos agora.
Caminharam até o pé do grande sino que não dobra e olharam firmemente para ele.
- Suas palmas e assovios valeram muito meu caro amigo, você nos trouxe até aqui. – Disse o Capitão com olhar orgulhoso.
- Não, foi você Canebre, eu apenas fiz o pacto.
- Meu amigo, eu ja fiz isso por anos, mas tinha de passar para um outro em que eu tivesse confiança e então passei meu cargo para você, Judith já está ouvindo. E ela mesma sabia de minha decisão. Pegue a aliança e a entregue, está embaixo de sua sola.
Sem pensar e intrigado Simão levantou o pé direito e viu que tinha algo encravado a borracha, estava esfusiante e sem arranhão.
- Simão!
A voz veio de uma rosa magna, vermelha como o sangue e viva como o sol, era maior do que o costume, desabrochou e então os olhos do jovem marinheiro conheceram a beleza da ninfa.
- Me entregue a aliança vai começar.
- Aqui está Judith, que de começo a nova estação em Saxupquy.
- Foi muito valente de vir até aqui, e com honra o nomeio como guardião das estações.
Judith voôu até o cume do sino e colocou a aliança, e uma, duas, três e quatro badaladas soaram por todas as extremidades e as rosas iniciaram seu canto, com fúria e harmonia.
- Seja bem vinda a nova estação. – Gritou Judith e logo se escondeu de volta em sua rosa magna.
O calor do festival tinha abraçado os dois marinheiros, ou diz-se por ai piratas, mas com todo esse caminho a percorrer eram mais desbravadores do que simples homens que se embebedam e fumam, conheciam o que fazia as estações mudarem e tinham a competência de fazer com que isso tornasse cada vez mais correto. A jovem despediu-se e foi para sua Nonna, o festival continuaria até que a próxima estação viesse, a Primavera era a estção mais calorosa e não parariam de cantar até que o verão chegasse e fizessem menos alvoroço.
- Canebre precisamos voltar.
- Precisa.
- Não! Precisamos!
- Eu já contribui em minha vida com tudo, quero um pouco de descanso, quando voltar me darão como morto e você dirá que não sabe de nada, pois o mar me sugou e me matou.
- Já não sei qual mais é seu intuito. E também não poderia voltar após dias fora, já devem estar proximos ao Atlântico, a América do Sul.
- O tempo não é o mesmo, mas isso vai entender sozinho. Deixe me aqui, estarei bem. Quero um pouco de paz e quando voltar pode ser que seja mais novo que a menininha Carol. – Disse entre risos.
- Caminharei até a saída e então de lá não olharei para trás.
- Pedirei que lhe acompanhe. Mas que não espere minha ajuda com Shito da próxima vez.
Com tons pálidos o horizonte selou o ínicio da primavera, mas somente o importante acaso entre a perseverança dos homens, da menina e da ninfa poderiam fazer a estação mudar e dar ciclo na vida dos dois mundos. Ja que não se sabe se sair de lá seguro ou se entrar lá é perigoso, do que sabemos é que o sino tocará  a cada vez que entregar a aliança, e serão tocado o numero de vezes correspondente a cada uma delas, a próxima será apenas uma badalada, e as rosas saberão o repertório a ser seguido.
Já o perigo entre a vida e a morte e da incerteza e insegurança de não se confiar em qualquer um persistirá, enquanto o houver aqueles olhos fumegantes do guardião, o lago traiçoeiro, a rispidez dos corais no beijo do palhaço, se tais arestas e destinos precisam ser passados, os heróis mesmo que não tendo a melhor conduta  ou quiçá a melhor imagem a ser mostrada perante aos outros viventes da terra, mostra sim que são morais e integros de seu destino. Gostaría de saber por quais ventos se encontram Canebre e Simão, não tenho a plena certeza que o marinheiro tenha convencido o capitão de vir com ele ou vice e versa. Se há mais lugares que possamos os encontrar, que atraquem o Mademoiselle a nossa margem.

- M. Leite


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Saxupquy – Shito e Juniceu

 Capítulo 4 – Shito e Juniceu


Manhã de segunda, um dia nada bom para desbravar lugar algum. Seria mesmo conveniente se tomassem sol e tivesse bonitas mulheres curiosas por ali. Mas o que viam eram apenas areia e árvores, rochas e um ou outro animal, no entanto, a vista do Mademoiselle era a mesma, os ângulos não podiam ser mudados, estávamos atracados numa posição que devido a extensão da ilha, por mais que quiséssemos veríamos somente a praia ao longo e frondosas paineiras a nossa frente.
Um dia quente e ensolarado, era um desses, nada mais, apenas quente e com o sol que rachava os galhos mais finos dos arbustos. Apesar de ser bela e riquíssima flora e fauna, havia perigos bem próximos, recife de corais, cnidários silenciosos e viventes, o problema real não era o fato de estarmos próximo a eles e sim passar por eles. Costumávamos nadar outrora entre eles, devido sua exuberância que nos atraia. Mas o grande fato que tinha de correr deles era muitas vidas que foram tragadas. O charme era apenas uma isca letal para toda e penosa alma que se atrevia a nadar entre eles, cortam facilmente e abriga alguns animais marinhos, melhor peixes e enguias, nada bonzinhos.
Em terra firme dei a ordem para alguns que fizessem nossas cabanas e outros que procurassem lenha e comida, chamei Simão comigo, noite seria muito longa.
- Rapaz, quais são suas duvidas pela bruxa da tormenta?
- Não quero falar sobre isso.
- Não seja reticente ao extremo.
- Cale-se, não lhe dou o direito de zombar de mim dessa maneira, ou esqueces de suas gargalhadas? – Disse furioso.
- Meu caro, somos piratas, de uma estirpe incrível e deve ter um pouco de senso de humor em seu interior, já que faz parte de nossa linha.
- Preferiria ser morto por ela aquela noite.
O crepúsculo engoliu o dia e só podia ver estrelas e o fogo que ardia na fogueira, pencas de carne de veado, e um barril de rum trazido do Oriente. Não era de se admirar como todos estavam cansados e cheio de sono, um dia quente como o fogo e uma noite plana e confortável como essa faria qualquer homem dormir e sonhar.
Estava vívida ainda a fogueira quando a noite já se emaranhava na madrugada, e estava eu ali com meu cachimbo a olhar para Simão.
- Hoje é o dia!
- Que esta a dizer?
- Hoje é o dia!
- Velho maluco, está cada vez mais biruta. – Pensou alto.
De súbito Canebre acertou-lhe um soco no queixo que lhe fez um corte.
- Seu imundo! Por que fez isso?
- Cale a boca! Hoje é o dia, venha comigo!
O marujo estava um tanto intrigado com a atitude do capitão, não era de se esperar que aquelas horas alguém ficasse tão bravo com uma brincadeira qualquer, mas não entendia o motivo de tanta pressa e ira de Canebre.
- Cumpriremos o pacto! – Disse Capitain.
- Que pacto? Que esta a dizer novamente? Que estapafúrdia foi minha idéia em vir com você, voltarei.
- Fique aqui Simão, a bruxa lhe espera.
- Ora, não venha com histórias infantis, já estou farto de tudo isso, cada vez mais vejo como essa sua demência esta lhe afetando.
- Ainda acredita que não exista?
- Não, eu não acredito! – Disse em tom firme e incorrigível.
- Incrível como os jovens são fáceis de serem manipulados. Acha mesmo que nada aconteceu, não a viu brilhar no céu? Suas palmas e assovios não lhe adiantaram de nada?
- Zombou de mim a ponto de gritar.
- Se não tivesse o feito daria com a língua entre os dentes, se bem lhe conheço, queira crer ou não, mas o conheço muito mais do que imagina.
- Hoje ela pairará no céu novamente e sua luz flanará sobre as águas, devemos já estar na água quando isso acontecer, o caminho estará aberto e ainda teremos de convencer Shito e Juniceu. Venha, vamos correndo, ainda há tempo, fica próximo ao beijo do palhaço. – Continuou Canebre.
Estafo Simão o olhava intensamente sem vacilar e acompanhou até que tomou de si e viu que tinha água próximo ao queixo. Em dois ou três minutos ela apareceu, com sua luz forte como um tigre e flanou sua luz, a lua estava tão cheia que era possível contar quantos orifícios continham. As águas giraram e tornou-se um redemoinho constante ate que engoliu os dois para dentro do mar encontraram-se zonzos e quietos próximo a um grande e robusto portão com letras torneadas.
- Que estão fazendo aqui?
Olhando para ambos os lados Simão, calou-se.
- Não vou perguntar de novo!
Com olhos abertos e boca semi-cerrada o marinheiro estava imóvel a frente de um gigante cão de dois metros de altura, era um Dobermann fulvo com olhos faiscantes, nariz absoluto e era tão assustador por seu tamanho que as mãos dos dois gelavam. Chamava-se Shito, e era o ser mais desconfiado que havia no mundo, ele podia ler seus pensamentos caso vacilasse em uma vírgula. Juniceu era cisne enigmático com olhos transparentes e tinham luz ao redor, era belíssimo e tratava de cuidar da chave do portão. Shito e Juniceu eram os guardiões de Saxupquy, eram perfeitos no que faziam, o cisne recebia ondas de luz da lua e Shito guardava a entrada com toda sua grandeza e ira.
Capitão como já conhecedor de Shito e Juniceu se propôs a falar, mas isso não o garantia nada, como disse anteriormente, o Dobermann era o ser mais desconfiado que pudesse existir, e até mesmo uma cicatriz que percebesse próximo a unha já o consideraria como um estanho sem menor cerimônia.
- Viemos entregar o anel de Judith!
- De onde conhece Judith? Dos livros dos humanos. – Disse Shito com ar cínico.
- A conheci no festival das rosas. – Tremendo Capitain respondeu.
- Que sabes das rosas?
- Elas falam.
Shito nesse instante avançou bruscamente até a face de Canebre e ficou a menos de um palmo de seu rosto, seus olhos estavam sugados por todo o brilho dos olhos do guardião e o nariz do cachorro estava úmido e rosnava brevemente. Simão desesperou-se em sua própria mente e desejou nunca em toda sua existência estar ali.
- Vou perguntar apenas uma vez! Os olhos de Judith são de que cor?
- São cinzas - Com voz tremula e fraca Canebre respondeu e então Juniceu esfuziou-se de luz e as portas abriram-se.
Após passaram pelo meticuloso interrogatório do guardião e a ave de luz, respiraram tão fundo no jardim das magnólias, que sentiram seus pés flutuarem de tanto alivio e paz.
- Nunca me disse que correríamos tanto perigo!
- Desculpe Simão, não poderia contar sobre eles para ti, se nem mesmo sobre a Lua acreditou, que dirá em um cachorro de dois metros e um cisne de luz?!
- Tive muito medo quando o vi, era como se um gigante e aterrorizante animal nos dizimaria em segundos.
- Não era difícil, caso eu errasse os olhos de Judith.
Simão permaneceu calado ao pensar nisso, mas surgiu uma dúvida e questionou o capitão enquanto passava pela grama verde e os lindos e belos raios que dourava o chão.
- Quem é Judith?
- É uma ninfa!

Continua...

- M.Leite

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Saxupquy - O rochedo

Capítulo 3 – O rochedo


- O que está fazendo aqui!?
- Não sei!
- Simão deixe a garrafa de rum de lado, tens uma preocupação maior aqui.
- Capitain! – Disse com dúvida, ao tentar dizer a segunda palavra, viu os outros do navio, alguns limpando o convés e o gaiteiro soprando aquele instrumento agudo.
- Tivemos uma bela presença de um temporal, quando me dei conta que estavas no seu quarto Simão, achei que estivesse cansado, os outros ajudaram a colocar as velas de forma correta para que o vento tivesse força.
- Mas e a Bruxa? – Questionou o marinheiro.
De tom tão alto que até as gaivotas que estavam longe na praia ouviram as gargalhadas e todo o escárnio proferido pela boca de Canebre.
- Acreditou mesmo? Por isso digo que és um patife!
Simão não disse mais nada, apenas o encarou com olhar de desprezo, cuspiu próximo onde estava e saiu.
- Marinheiros, todos aos postos, estamos próximos a praia! – Gritou bem alto o Capitão! Fechem suas braguilhas e recomponham-se, não sabemos o que podemos encontrar.
O sol estava castigando a tripulação, tão quente que o suor evaporava e o estoque de água aproximavam do fim, não era de se preocupar, a praia estava em suas ventas e água doce jorrava com tanta pureza e fartura que passariam a vida toda a bebendo.
A ancora foi jogada por cinco fortes e grande marinheiros, a içaram e a empurraram da superfície da proa para o mar, ao contar de números. Estabilizados e cheio de curiosidade prepararam alguns botes de madeira maciça que o navio trazia e foram alguns e outros ficaram, ao cuidar dos pertences e até tiverem certeza que nenhum perigo estava a espreita ou mesmo uma armadilha por de outros navegantes.
Sem dúvidas e desiludido com a pirraça de Canebre, Simão foi com os seus procurar água e comida, o capitão e alguns aliados ficaram a bordo, na espera de noticias. Após voltarem da praia com alguns cachos de frutas, três veados e uma grande porção de côcos.
- Estiveram em perigo Marujo!
- Capitão! O que vimos foram apenas bichos e uma cachoeira bela.
- Nada de bárbaros ou índios? – Continuou – ultima vez que passei por essas bandas encontrei pessoas mortas nas árvores e também alguns rifles pela areia. Já basta de batalhas!
- Não nada vimos! – respondeu Simão com voz amena, levemente cansada.
- Arrumem toda os mantimentos e assem um dos veados, amanha peregrinaremos um pouco mais pelo rochedo.

Continua...

- M. Leite

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Saxupquy - O pacto

Capítulo 2 – O Pacto

  A noite dobrava e suas nuvens sopravam mais alto do que as estrelas podiam alcançar, frio e quietude, nenhum rastro de luz, os peixes dormiam. Ao se olhar pela imensidão do oceano uma luz gigante banhava ao longe, sabia-se que furos nas nuvens continha, mas era mesmo de se acreditar que estávamos numa nebulosa maldita sobre nossas cabeças, nenhum brilho podíamos ver.
- Simao! Para de falar sozinho, seja um menor patife, você é um marinheiro! Marujos não são como menininhas que tecem roupinhas para bonecas e se perguntam da dificuldade de perfurar o algodão!
- Canebre! Não me encha com suas troças.
- A hora esta próxima!
- Não quero falar mais dessa idiotice, se me respeita, peço que pare com essa toda zombaria, já estou de saco cheio com toda essa historia. – Disse batendo a mão sobre o parapeito.
- Céus! Cale-se! Não sabe o que esta falando, um homem como você mereceria apodrecer nas profundezas das águas sem ter o direito sequer de estar embriagado! Continuou o Capitão – Se duvidas tanto de mim, porque não assovie e bata palma?!
Com um olhar semi-cerrado, o encarou.
- Lhe digo que se fizerdes isso e nada acontecer, ah sim! Não a cabeça minha rolará.
- Bata palma e assovie, faça isso quatro vezes.
O som do mar era insípido, podíamos entrar numa viscosidade ainda maior se pisássemos nas águas, pareciam negras como o ébano, nada poderia o salvar da morte caso vacilasse, se conseguisse a sorte de estar morto antes, apostaria uma morte menos macabra.
Um passo relutante pairou sobre a mente do marujo. As trevas que ali os cercavam eram tão negras que podiam apalpá-las, um sentimento de duvida no coração brilhava, algo fazia sua boca mexer descontroladamente, e o olhar cativo de Canebre o fez tremer das pernas e sentir o real cheiro do mar.
De assalto o primeiro zunido veio longo e cortado por uma palma, olhou para as extremidades e continuou, mais uma vez nada viu, apenas sentiu que o olhar do Capitão fervia e sua própria boca tinha dificuldade de lançar para o vendo o terceiro assovio. Ao cabal momento, com o peito aberto, com dois ou três botões que o cobria, com seus braços abertos e mãos esperando a serem tocadas uma pelas outras, zuniu o ultimo com tal forca que ecoou por todo o ar, invadiu as nuvens e a mostrou. Brilhava, como uma tocha de fogo no céu, ardendo e clareando toda e qualquer escuridão.
Continuaram calados próximo a beleza e magnitude da rogada, as águas que eram negras tornaram-se tão azuis como o tom da aquarela, e borbulhavam feito a lava dos vulcões, ventos que comandavam amenamente as nuvens, jorraram água e sopro nas velas do Mademoiselle. Numa dança violenta e abrupta foram atirados para o sul , esturricados em seus próprios corpos, tinham mais medo do que uma lebre a espreita de um gavião.
Já não se via mais nada, a escuridão também encobriu os olhos de Simão, o flagelo de sua duvida finalizou e entregou de vez o peito para o inconsciente. 

Continua...

- M. Leite

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Saxupquy!

            Capítulo 1 - Princípio

No horizonte onde as nuvens beijavam o sol e a claridade do céu era mais fosca que a fumaça de meu cachimbo, olhava firmemente esse largo e espaçado local, entre as ondas e trancos, o cheiro do mar e o costume de me sentir salgado o tempo todo, em comum já tinha me habituado.
Era manhã de domingo, algo nada diferente quando se está num navio, a única coisa grande que meus olhos podiam ver era a imensidão das águas e os peixes içados pelas redes. Uma tripulaçao pequena, com trinta homens a bordo e muito trabalho.
Ansiosos por aquela noite, o que pouco visto aconteceria, a estação entregaria a aliança para outra, e o portal se abriria, e estavamos atrasados, quem sabe um milagre de ventos nos fariam correr, ja era de se esperar pela outra estação, não a seguinte, mas a próxima, com quatro meses de diferença, muito teria de explicar.
- Capitão ventos do sul trazem uma branda tempestade. Mas o sentindo é contrário nosso, provável que mergulhemos para as profundezas se opormos contra a bravura do mar.
- Disso já sei Simão. Vou esperar que as baleias nos carreguem.
- Não é hora para chacota, o que faremos?
Com os dedos grossos sobre o cachimbo, o tragou e soltou toda a fumaça, baixou a cabeça e deu alguns passos até o para peito.
Quantas vezes já passei por aqui, milhares de peixes pesquei, dias e mais dias entre o sol e a chuva, o que posso fazer com uma ação tão incontingente do oceano. Terei de prestar contas. Maldito seja aquele nevoeiro do Indico, Maldito! Se não fosse por ele estaríamos a boca do rochedo. A luz não vai me encontrar se eu vacilar dessa vez, que patife fui, medroso e burro. Era névoa. – Pensou consigo mesmo.
- Ergam as velas, limpem o convés e estejam preparados para a tormenta. Somos ou não piratas?
De assalto entrou pela porta da cabine e cambaleou até a mesa, com os lábios tomados pela rigidez do cabo do cachimbo, seus olhos voltados para o mapa e uma garrafa velha de rum. O que lhe restava era ser engolido pelas águas tempestuosas que deglutiriam o Mademoiselle.
Vestido com calcas até os joelhos, chinelos de lona e uma camisa de botões, entrou também onde o capitão estava para relutar sua ordem:
- Que é Simão! A que tenho a honra de sua visita.
- Espero que tenha plena certeza do que está fazendo! – Com destreza respondeu.
- O que quer que façamos? Que ancoremos o navio e esperemos a própria ruína? A não ser que queira voltar?
- Voltar era o necessário, mas não sei como terei de dar imaginação a minha própria mente na estação que virá. Claro, não nessa e sim na outra caso não obtenhamos êxito.
- Acredita na Bruxa da tormenta?
- Quando pequeno sim, já com quase três décadas nas costas esses mitos já se dissiparam.
- A pagamento é sua cabeça!
- Minha cabeça?
- A de quem a invocar seu tolo.
- E ela não aceita um simples fardo de milho Sir Capitain!? – Com o escárnio nos lábios, Simão proferiu.
- Cale-se! Não seja estúpido. Estamos a três milhas do rochedo e continua com toda sua inerente mesquinharia. – Alterado e veemente colérico Canebre o xingou.
Continuando explicou – Ela pede sua cabeça, caso a invoque e não consiga fazer o que é premeditado. Posso esmiuçar melhor, cada tormenta dessa região a Bruxa se esguia sobre os sons dos trovões e entre as nuvens a espera de um rogo, porém aquele que a chama deve estar certo de que sua vida corre o risco caso falhe, em outras palavras caro marinheiro, se não conseguir atravessar o rochedo com a ajuda que ela dá, o sopro das nuvens para o sul. As águas brandas se acalmam, mas és tragado para o sono daqueles, aqueles das profundezas, entende?
- Porque o grande senhor do navio não o faz?
- Hoje a noite esperarei você na proa, e então rogará pela bruxa!
- Estou certo de que sua idade chegou, anda um tanto caduco e debilitado. Que estapafúrdia!
Saiu da cabine com um certo sentimento de raiva com sabor de dúvida. As velas estavam retas e lisas como uma folha de papel, o convés escovado e os homens cansados esperando silenciosos para o que ocorreria com todos.
Mademoiselle era um dos poucos que exploravam as águas do Indico, o oceano misterioso, tinha uma envergadura comum entre os seus, sua bandeira laranja e anil era o que o diferenciava dos demais. Um aspecto grotesco, velho e negro. Podia ver até mesmo um sorriso macabro ambulante nas águas, o que se parecia visto de longe.
Prudentemente os marinheiros olhavam para as águas com a única e pura esperança que baleias ou um grande cardume os levassem de forma rápida, mas era pouco o que faziam, por mais que quisessem não tinham remos e o vento era seu inimigo. A tarde lentamente ao som da gaita passava, aquela gaita que ninguém podia conter, como um lamento diante a uma derrota, o que sentia mesmo era isso, ela era fiel, mas o gaiteiro presunçoso.
- Que tal cessar todo seu choro?! Que sabe de derrota ou vitória?!
- Sei mais do que vês embaixo do umbigo feminino! – Disse severamente.
O tom nada moderado da conversa entre dois tripulantes não podia ser do mais agradável, assim a gaita não cessou e uns e outros dormiram e se embebedaram de rum.

Continua...

- M. Leite

 
 
Blogger Templates