Hoje, após chegar do barbeiro, assentei-me na cadeira de balanço, pus meus óculos de lado e fechei meus olhos para lembrar de minha vida. A espuma por debaixo do revestimento de couro, torneadas de rebites negros, estava gasta, mas minha lombar já estava acostumada com ela assim mesmo. Motivos e lugares que me fizeram sorrir, coisas desde pequeno, me lembro daqueles sapatinhos vermelhos que ganhara quando tirei a 4ª série.
Com meus olhos ainda fechados lembrei-me de quando eu olhava estrelas com Débora, com alguns gravetos e a tocar algumas frutas que não alcançávamos, ás vezes uma fogueira singela para aquecer-nos do frio na serra e também do lodo grosso que tinha nas pedras que passávamos e não nos deixava vacilar. Meu namoro foi magnífico, desde quando a vi, sempre soube que me casaria com ela.

Paciência, palavra forte e leve, para os que a abstém é um peso, porém posso julgá-la nesses anos todos que já vivi como um bálsamo da vida, consegui muitos tesouros com ela. Ah! Uma beleza mesmo! Educar meus filhos, acompanhá-los, ensinar coisas que ninguém os pode ensinar, ganhei meu pão com meu suor do rosto, empreendi, tive uma vida financeira confortável, graças minha perseverança, disciplina e honestidade. Me orgulho disso, de trabalhar retamente e sequer olhar para esquerda nem para direita. Agradeço a Deus.
Formular combates contra meus calos e pedras de meu caminho, jamais fiz isso, deixei que tudo fosse naturalmente correndo, assim como a água da chuva ou uma honorária cachoeira, meu coração hoje está feliz, em lembrar o quanto dediquei amor aos meus irmãos, pais e parentes, não vou esquecer de nada, os descasos, rancores e chateações foram se embora mais rápido que pensei, talvez sequer duraram uma semana, hoje com noventa e quatro anos tenho a plena convicção de que não tive câncer ou outra doença degenerativa porque usei meu coração para compartilhar sentimentos ao invés de estocar.

O peito dói em recordar coisas, minha vida foi muito grande, quando meus pais se foram, amigos, minha querida e amada Débora, alguns cães e também do tempo que perdi trabalhando e poderia estar mais próximo a todos, mas disso não tenho remorso algum, eu fiz o que pude, e sei que em seus corações são gratos por minha consideração. Não vou esquecer os lábios aveludados dela, nem da comida na panela de barro, quando aprendi a dirigir, Papai foi muito útil, tirado todo seu enfezamento, risos!
Vejo algumas folhas nascendo na árvore lá fora e isso me anima, pois sei que a vida nunca míngua, ela cria estações novas e faz você lembrar que vale a pena viver e reviver momentos que estão a sua espreita. Viajar, conhecer lugares, pessoas, sorrir com alguns tombos e entusiasmar-se, seja com uma saída para o parque ou quem sabe Minas Gerais.

Sorria para a vida, sorria para Deus, sorria para você mesmo, ainda hoje pegarei um táxi com amigos e visitaremos a praia, decidi antes de ontem que ainda essa semana quero tomar água de côco e admirar as montanhas e o mar.
- M. Leite
o passado bem vivido ou não, não retornará, detemos apenas o agora, e nesse momento temos a escolha de sermos felizes, o amanhã pertence a Deus. Lindos textos, como sempre.
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