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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Encontro às claras


             A chuva molhava o pouco que restava dos vidros, pintando um quadro melancólico, sobre o qual sequer uma borboleta azul marinho pudesse voar, perturbando o ar metropolitano, nunca tal ser dócil poderia sobreviver por estas redondezas. Um raio esfuziante no céu, e alguns trovões reprimidos entre o deleite das nuvens na tarde escura.
                Ondas percussoras de vento sucumbiam o saguão do aeroporto, a temperatura intensa e a locomoção vagarosa das pessoas, contracenavam com rigor a ocasião, não apenas traçada pela conduta moral em um estabelecimento como tal, mas assegurando a atmosfera outonal que abraçava-os impertinentemente.
                Ao olhar para trás, reconheci uma mulher basalquiana, com apetrechos, uma maleta portátil de couro, e outra no chão com rodas pequeninas, trajava um corte em lã feito a mão, botas e um cachecol arroxeado, discretamente solto em seu pescoço. Aproximei-me:
                - Como mudara, tenho comigo que prosperou!?
                Ao olhar-me, hesitou e com um faceiro sorriso, proferiu – Aposto que tenha tido o mesmo êxito. Deu com a cabeça para trás e continuou – Quanta coincidência encontrarmos nesse local.
                - Talvez, estivéssemos marcado algo na faculdade?! – Sorri.
                - Acho que minha memoria não está tão boa assim.
                - Tens alguns minutos para um café, meu voo parte em 25 minutos, se pudesse...
                Antes que pudesse completar, ela sugeriu o café que estava há dez metros,
 assentamos, nos olhamos por alguns segundos, e percebi que não mudara quase nada com o decorrer dos anos, mas o semblante tinha se tornado respeitoso e vigoroso, uma mulher de negócios, com olhos firmes e sem muito exageros nas palavras. Suponho que não tenha pensado o mesmo de mim, já que não trabalhava no ramo há mais de oito anos, talvez pensou que eu fosse um desocupado, ou quem sabe um sonhador.
                - Como está sua vida? – Comecei
                - Uma pergunta genérica! Acho que tenho muitas coisas para lhe contar, mas acredito que não dê tempo.
                - Talvez tenha razão, és empresária?
                - Como não acertaria Marcos?! Sua perspicácia sempre foi aguçada. Não é mesmo?
                - Bom, caso encontre uma mulher com uma maleta de couro, pode pensar que é uma empresária, ou seria uma dentista?
                Entre gargalhadas, prosseguiu – Acertou, sou sócia de uma grande empresa, e estou numa condição favorável agora, e estou feliz com meu legado, não fiz nada que outra pessoa com mesmos sonhos que eu não o tivesse feito.
                - Sempre a vi como uma mulher obstinada e segura, aposto que está muito feliz. Adivinhe o que faço?
                - Não errarei, quer que eu diga assim de imediato?
                - Por favor!
                - Um escritor!
                - Está tão explicito assim?
                Cada minuto que passava, pensávamos o quanto tínhamos em comum, tencionando sempre a vida e a carreira, não eramos nada mais do que amigos, aqueles que a sentimos falta e saudade, ate mesmo das brigas e outras pequenas coisas, via em seus olhos a mesmo sentimento, todavia, o tempo nos reservou uma vida assim, feliz e distante, encontros assim nos faziam recordar que nada que o mundo nos pudesse proporcionar ou mesmo o gozo do dinheiro, supriria alguns minutos de palavras sinceras e próximas.
                - Viajará com seu marido no ano novo? Estamos muito próximo, sabe como são essas datas comemorativas, muitos fogos e pessoas próximas. - Perguntei
                - Ficaremos em casa desta vez, receberemos nossas famílias e alguns amigos que conquistamos juntos, acho que nossos filhos se divertirão muito.
                - São quantos?
                - Dois, um casal, tenho uma foto. – A tomou de sua carteira e me entregou, crianças adoráveis, com espirito de levadas, acho que sua paciência e amor por crianças quando a conheci, os envolveu de muito carinho e punho.
                - São adoráveis! Há alguém ainda para eu conhecer?
                - Tenho dois cães, ficam em casa, caso não tenha dito, mudei-me para o interior, e vivo entre os sons dos pássaros e a tranquilidade interiorana.  – Mas diga-me, para onde vais?
                - Vou publicar um livro em Marselha, na França, não creio que tenha muito alvoroço, um livro simples, porém, tive a oportunidade.
                - Acho que se teve, não deve desperdiçar, o comprarei. Mas exijo que tenha uma dedicatória sua, o que é um livro sem uma dedicatória, quando- se conhece o escritor? – Sorriu para o lado.
                Em um momento, ambos perceberam o quanto a vida passou, estavam ali diante de um passado bonito, colegas de faculdade, trabalho, entre algumas guerras, outros sorrisos, muitas guloseimas e saudades. Cada um com seu princípio e realização.
                Obviamente não podiam crer, de tudo que atinaram para seu futuro de uma forma ou outra, aconteceu positivamente, anos se passam rápidos demais, mas nada que a memória não restaure momentos felizes em todas as pessoas. Um dia assim, talvez uma página com milhões de histórias, corridas e aflições.
                Perceberam que o tempo se esgotara, e o adeus estava próximo, o que mais poderiam pensar no que se abraçarem e combinarem eventos futuros. No alto-falante proclamaram o embarque para ambos:
                - Temos que deixar este café, vou encontrar outros na França. – Meu sorriso era amarelo.
                - Não posso atrasar-me, estou em apuros com tantas negociações, perdoe-me em não ter mais tempo.
                - Quando eu assinar a primeira folha do livro para você, nos encontraremos.  Foi ótimo revê-la, Natália. Espero que nos encontremos novamente...
                - Ótimo encontra-lo, esperarei meu exemplar na próxima vez – Tchau, tchau!
      - Tchau, Tchau, Mon ami!

- Marcos Leite


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