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sábado, 29 de setembro de 2012

Ciranda popular


Zombeteiro coice do Estado,
Murchas os cálices,
Inebriam a falange,
Tosquiando a plebe.

Jurisdição vetada,
Diminua a bitola,
Os trens cessarão,
Cairá a nevasca conveniente.

- Marcos Leite

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Trato selado


Assuma o alvo como o triunfo,
O animal perecerá,
Culpa, não lhe pertences.
Nunca mais.

Lave o sorriso
Dobre as mangas,
Lustre a arma,
Ninguém mais.

Conceda um terno olhar,
Permeando os colibris,
Fuja do reflexo,
Nunca mais.

Corteje-a,
Fumegues o peito,
Êxito,
Arruinar-te?
Ninguém mais.

- Marcos Leite


quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Matemáticina


Oh! Algarismos numéricos que de nada me importam.
Sumam de minhas vistas
Implodam suas álgebras inegáveis da exatidão
Tornem-se as mesmas sempre para todo o sempre.

Asserto a vós,
Perante a lei de minhas promessas
Expulso ainda qualquer escárnio
Que seja provido de tal ironia assinada.

Ecoem nos calabouços escuros,
Para que jamais tenham a inexatidão
Da beleza de uma flor,
Perante a luz que das frestas brotam.

Corram!
Seguro em minhas mãos, as cordas do cabresto.
Não tardarás,
A besta as encontrarão no lamento matemático.

- Marcos Leite

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Se nós flutuássemos


Inunda assim meu ser
Com a exatidão de amar
As polegadas tortas de meus dedos

Temporiza o olhar junto a lua
Sugando o tutano da luz
Acerca de enxergares o amor

Encontre-me então sobre a relva
Ao anoitecer...
Flutuaremos no ar a caminho das estrelas.

- Marcos Leite

domingo, 23 de setembro de 2012

stupidité


    

Véritas,
Eximi
Impersonates
Hecatombe
Humana
Del
Ignorância.

- Marcos Leite

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O espelho oval


              As opressoras rajadas de vento que sucumbiram sobre a palidez da neblina onde me encontrava atuou com maestria em meu sentir de que além do que estivesse pensando naquele instante, nada poderia mudar o trajeto de meus passos, singulares e contínuos passos.
Meus pertences assemelhavam a uma manada extensa, ruidosos, cada vez mais ruidosos, estive por alguns minutos me perguntando se algo me encontrasse eu teria minha vida ali tirada ou ainda que pudera estraçalhar meus olhos com supostas chaves. Piamente conclui que estivera solitário por aquela via, e nada que eu fizesse poderia tirar-me deste fim.
Janelas grandes e luzes, o que vira era isso e nada mais, o ar estava tão fosco que se eu me perdesse de mim encontraria apenas o cinza amarelado da calmaria e ainda assim perderia meus sentidos.
Enfurnado de lógicas banais sobre o cotidiano noturno que vivera naquela época, indiscutivelmente assopraria todo o salobro pó de minha mente ao encontrar com algo tão inesperado que ainda lhes mostrarei, e firmemente terei de saborear os olhos daqueles agourados leitores que assim se fazem prostrados a mim.
Instintivamente o que meus reflexos oculares permitiam encontrar era apenas uma construção antiga, árvores negras e toda a quietude que sequer desafiada foi por algum animal. Obviamente que o silencio tomara conta daquele lugar há mais de séculos, obrigando-me a contentar com a fajuta companhia de minhas vestes e o sopro soante da própria quietude.
Expurgado de meus medos encontrei-me ao cômodo com altura superior a oito palmos e meio, desvencilhado da mobília e abraçado por véus alvos, embora estivesse com feição severamente atenta alguns dos véus passaram por mim como rastros fulminantes, é fato que meu mero consciente arguido de poder, jamais aceitaria outra teoria.


          Quanto mais posso pensar dessa maneira em que meus dedos estão com vida própria, deliberados a criarem algo que jamais faria se estivesse francamente utilizando para benefícios próprios, a não ser que a arte não incorporasse em mim de forma tão abrupta, cá estava olhando entre um longo tecido, entre o atrito de questionar quais eram as hipóteses encontradas para tal objeto ofuscado.
Após revelado relutei meus membros a olhar entre o que me amedrontava encarar, assentei e coloquei meus punhos sobre a superfície, lisa e envernizada, senti que havia poeira e nada mais do que isso, fora criada a partir do carvalho, todavia anos tivessem esse móvel, o passado da madeira talvez tenha sido grotesco impondo-se ao motivo de estarmos nesses arredores.
Longe de estarem aquecidas, minhas mãos tragavam a ambiência do local, impulsionadas por minha face que as ordenavam, ao contrario do que se deduz eram apenas o refugio do que ela não queria confrontar, tragando toda a direção de minhas faculdades visuais para sim e não deixando que fosse tragado para ele.
A tênue consciência era o que não me atreveria desafiar todos os mistérios do ar com minhas possíveis lógicas humanas ao interpretar que uma vez que minha mente fora tocada seria afetada ainda que não pudesse correr de todos os devaneios. Justo é a lei da óptica, mostrando-me o que pudera ver, sutilmente que nada fosse tão controverso como meus gestos mas sim frio com meu semblante.
Saboreando de meu cabal estado, qualquer anomalia vinda de minhas vistas poderia integrar meus resquícios de loucura, ainda que pálido e com olheiras, a razão tomava conta de mim como se fosse um gado preso a grilhões pesados, todavia o aspecto da mobília era de horror, sem mesmo que pudesse me proteger, apenas com luzes baixas e quietas, eram tão inferiores ao brilho de meu charuto fumegante que se assemelham com velas inversas e seus rastro leve.
No que mais podia pensar a não ser o fato das portas estarem trancadas, ao invés de que fossem abertas para a ventilação de uma construção tão antiga. O molho de chaves fazia-me cócegas a procurar em todos os cômodos algum corpo ainda que morto para fazer companhia nessa nefasta madrugada. Seria patético de imaginar a quantidade de pessoas que já tentaram o mesmo. Ainda que deixe meus pertences presos aqui, o feitiço medonho das paredes dissimulariam minha vergonha.
Talvez encontrasse fotografias antigas, as quais sentiria-me, extasiado em fitá-las, embora toda a quantidade de artefatos ao arredor, asseguro que se as encontrassem contariam algo que suporia que fosse verdade em questão, mas não tão desastrosa realidade na qual eu imagino e o arrepio que meus membros inferiores sentem. Quiçá tivesse zombado de meus dotes investigativos, não relevei as previsíveis gavetas de onde me assentara. Eram velhas e pesadas, com puxadores prateados, um móvel antigo, pela espessura e tenacidade obviamente fora criado arduamente, e tão pesado e resistente que o tornou feio e inútil. Com mãos curiosas abri a segunda, e de nada vi, a não ser um pequeno dardo, e pó, muito pó, era tão comum nessa ambiência o aspecto imundo que jamais gostaria de sair dali, ainda que eu amasse o conforto, a tristeza e o anos empoeirados me desposaram.
Rapidamente coloquei as duas mãos sobre as extremidades, direita e esquerda com respectivas mãos que dão sentido ao mesmo, empunhei os dedos com força e coloquei um rastro de sutileza, era quase um truque para se abrir a quinta gaveta, já que esta parecia trancada com pregos espessos, como seu puxador de nada adiantava, recorri a essa hipótese, um tanto difícil, creio que por quase uma hora estive com toda esse trabalho e breves cortes no indicador e alguns mais profundos no polegar, de fato necessitaria ainda de uma alavanca de ferro, mas nessas ocasiões ainda que esperasse o sol banhar as gramas do jardim, meu peito teria se diluído em toda minha curiosidade e orgulho, era mais que um simples ato de tragar para meus próprios olhos o que ali encontraria, mas uma sequência de afronta para meu ego, ainda que austero de minhas convicções e orgulhoso acima do que aferiam como garbosa educação. O esforço trouxe o que não esperava, meus lábios se entreabriram e observei minuciosamente o exemplar que me revelara após muito empenho em abri-la.
Com traços avermelhados, estava escrito Arbre, letras finas, uma impressão feita fora dessa região, não apenas bela e colorida, tinha certamente explicação o fato de estar escrito em Francês, mesmo que minhas aulas do idioma estivessem longe de mim, a guarnição de minha mente, jamais deixariam que palavras como essas fugissem.
A atmosfera taciturna na qual me encontrava, fazia o ressoar de meu coração afinar um ritmo sonoro entre as paredes e o espelho oval, o qual eu permitia a mim mesmo esgueirar-me dele. Obviamente a oca tepidez de meu peito não afetara a comodidade dos demais cômodos da casa, mesmo que eu não soubesse o numero deles ou pessoas que estivessem por aqui. Mas lhes asseguro que um sentimento de tranquilidade pairava sobre minhas têmporas, ao ler tal trecho:

“Je laisse la vie comme un congé de l'ennui”.
- Álvares de Azevedo

                A retaguarda de minha insensatez não passava de uma fagulha de um fósforo, sobre a nobreza de um trompetista, mas tão banal como o preço de uma donzela fácil. Olho por dentro de minhas pálpebras e de nada vejo, alem do reflexo coroado, como uma coroa de tecido de um arlequim, sobre os traços feito por Hades no pavoroso inferno.
                A clemência que carrego torna ainda mais arbitrário minha decisão, assegurando o trecho do célebre escritor brasileiro, que ainda que me permita cruzar o sol, de nada poderá impedir meu olhar inquiridor defronte ao rosto que minhas meninas dos olhos retrataram de esguelha.
                Corrompo meus pensamentos acerca de que meus olhos se abram e então prostro-me sobre a figura macabra desse espírito maldito traga para si. De tortos e minguantes traços, o encaro, e o examino, um rosto levemente triangular, negro como o lago na madrugada, mas lustrado  identicamente ao cabo metálico de minha bengala, olhos profundos e sinceros, de brilho sagazmente cruel, sobre a cabeça a coroa tecida pelo deus.
                Ainda que relutasse minha cabeça na direção oposta, de nada seria feito, mesmo que traçasse uma linha imaginaria de possibilidades tacanhas para ludibriar o medonho rosto, mesmo que o pavor de meus sentidos pudessem ser vistos, eu mantinha o ódio aquecido em mim, e girando meus poucos pensamentos em busca de um cabal gesto de liberdade.
                O espírito imóvel de nada servia seus lábios, imóveis e rígidos, apenas seu olhar macabro mantinha a comunicação momentânea sobre mim. Reitero ainda que o sua imobilidade tornava esse breve tempo grotesco uma eternidade sobre meus medos e aflições, mesmo atuando em meu intelecto uma valsa de interesses e raciocínios atrapalhados.
                Honestamente sem que o tempo fosse generoso, o assoalho e as sedas alvas na qual cobria os anjos barrocos, participavam apenas dessa trama mórbida, ocupando-se de assistirem o atrito de meus membros contra o espelho. O dardo fora lançado sobre o semblante fantasmagórico que me encarava sugando dos medos a energia para se estabelecer como um agoureiro companheiro e assim me tragar para seu imundo aspecto e morada.
                Os estilhaços feriram singularmente a veia jugular e dela jorrou tanto sangue que minha camisa encharcada tornou-se escarlata e as preponderantes letras de Álvares de Azevedo começaram a cumprir-se.
                Ao inverso de que vi carnalmente lhes asseguro, sequer um pedaço do espelho caíra por terra, ainda com esbelta torneação emitisse o lúgubre passado e culpa, enganaria qualquer que fosse como um feitiço amaldiçoado na ruas dos Alpejivas, retamente coloco-me pronto a seus ombros, acerca de narrar-lhes o real motivo do olhar irretroativo do espelho oval, e traço os delírios quanto as possíveis e frustradas tentativas de corromper o triste fim.

- Marcos Leite   

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Entre as cerejeiras sem cor

Procuro entre as flores das cerejeiras rosas, a mais bela das coisas, o que asseguro para o ar, um dócil e pleno sentimento, talvez eu não a encontre aqui, mas mesmo assim poderei apreciar a formosa brisa e o exuberante ramalhete que aos poucos formando-se sobre minha cabeça, como uma auréola, e sei que daqui guardarei belas lembranças.
Não sei bem dizer se sou daltônico ou não, quem sabe sentir as cores seja mais importante do que os rótulos. Ouvi falarem uma vez que a percepção pessoal das cores varia, assim como uma frequência de rádio, assimilam com maior facilidade um nome para tal tom. Quiçá seja necessário entre os livros e os lápis. Nesse momento entre meus olhos e a majestosidade das pétalas, apenas o pincel seria meu juiz.
Rogo ainda que as letras não estejam tortas, pois a cada sílaba, eu me pergunto o sentido, provável que não entenda jamais, assim a arte deita-se e acordo de meu sono de lucidez. Um trago a mais de imensidão, sei que não me perderei na dimensão brilhante, mas desejo eternamente embriagar-me dessa inesperada faceta.
Assim como um conhaque envelhecido, é amargo e denso, o sabor forte e pouco apreciado, o torna inefável, assim como a caligrafia dos anjos tecendo em sua mente um caminho apropriado para seus pensamentos. Mais um gole, e pestanejo a encontrar a precisão das cordas que fazem os moinhos ficarem rígidos, sei que nada disso me importaria, pernoitando meus segredos, saberei ainda mais que minha vontade e indiscrição, farão engradecer-me de sonhos e sabores.
Talvez digam que esteja velho demais, um cachorro sem o ofalto, uma catástrofe humana, um ancião cheio de devaneios e gostos meticulosos e diametrais a sociedade. Mas sei que sou um rei, pois, não apodreci como os demais, busquei em minha vida descobrir os sentires juvenis, aqueles que todos plantaram e com a vida, sequer regaram, não me obriguei a nada, nem mesmo perdi minhas estrelas na noite por algum motivo frívolo. Porque hoje sei, que o dinheiro esta aqui, e daqui jamais sairá, meus amores, jamais os esquecerei, e minha atuação no palco da vida se encerrou com maestria, na qual meu espírito flana na beleza dos céus.

- Marcos Leite



sábado, 15 de setembro de 2012

Linha de produção


                Os clarinetes de minha mente, beijam o vapor do ralo das indecisões, liberam a doçura do toque, afirmando ainda mais a textura úmida da sala de espera. É fácil caminhar entre os vales, mas não sobre o lamaçal. Ilude-se aquele que ainda permite acreditar nas pessoas, se há um grande estofado de neurônios.
                O figo quando podre, possui larvas, a mente podre possui perversões, nada mais comum, o corpo é fruto da alimentação, e a mente de sua busca e a de sede questionamentos.
Mentes fortes, algumas realmente são extremamente fortes, não necessitam de outras para viverem, também as fracas existem, assim como tudo no mundo, há coisas que não existem apenas por existir, mas sim para formar o conjunto, você não enxergarás apenas casas bonitas quando passares nas ruas.
                As frágeis, são descartáveis, manipuláveis e contraditórias, como um palito de fósforo, existem, mas não fazem nada a mais do que lhes é proposto ou requerido na vida, algumas são comuns demais, poderia citar uma rotina, mas talvez seja um tanto inconveniente de minha parte. Mas me pergunto como seria minha vida se eu acordasse, trabalhasse, chagasse em casa, assistisse as novelas e depois reclamasse um pouco da vida com meus familiares.
                Rogo para que as mentes brilhantes continuem brotando, espero que o lote de pessoas assim não tenha esgotado, seria um lamento, a arte não viveria mais, livros não seriam escritos, nem filmes, nem a arquitetura de minha cidade sobreviveria. O ar ficaria poluído de tanta normalidade, nada fora do escopo, ereto e fabricado, assim como uma linha de produção de palitos de fósforo.

               - Marcos Leite

terça-feira, 11 de setembro de 2012

O homem soberbo e o humilde

            Ainda que o odor do tempo me encontrara nesta sala vazia, é prazeroso sentir o abafadiço sabor dos anos que se passaram, percorreram por estas cortinas, os assentos e a este velho espelho. Uma vitrola entornada de prata com grande imponência, velha e brilhante. Uma família de bens, raramente teriam tais artefatos se não o fossem. Gasto meus olhos em pensar o quanto de luxo obtiveram, mas ainda sei que a maneira como traçou-se os caminhos, de nada lhes foram abençoados.
            Homens austeros e mulheres formosas, atenuavam qualquer chance de serem criticados, uma beleza ímpar, traços frágeis e delicados, consumiram de belas peles, carros e vinhos. Um grande gesto de integridade a sociedade, seus bailes, todos categoricamente escolhidos e decorados, teço ainda uma tela, e que seja pintada por minha memória as lembranças de dois amigos, que aqui também rondaram.
            Frederico Ornelas, O grande, impetuoso e nobre homem da sociedade e militância, seu legado invejável, rotulado como um major, ainda que seus fios estivessem brancos, o olhar severo e nu exibia a tenacidade de um cavalheiro algoz, saberias tratá-lo com devida educação, acerca que não bastasse um brado para me ver entre os policiais e a pocilga dos soldados, vindo da mesma linha de ratos traiçoeiros, que mata uns aos outros para sobrar-lhes mais comida e mordomia.
            Caminhou sua vida com grande requinte, entre o poder e as iniquidades, posso lhes afirmar, todavia, tinha afeto por alguém assim, sentindo me as vezes colérico ao imaginar as trapaças e a imoralidade dele pudesse alcançar os céus, reitero de minhas perspectivas que quem sabe as nuvens tem sido brandas com sua chegada, mas de nada me liberta a condenação da maledicência em vida e dos atos nefastos e vis com famílias e a inocência das moças de sua época.
            Permito a mim mesmo tocar nesta caneta, uma das douradas, era cintilante durante o dia ao vê-la encaixada em seu bolso do paletó. Uma assinatura movia montes, mas de nada mais que isso, um larápio imundo, a labuta nunca lhe foi próxima, mas sim o orgulho e a fortuna familiar, e toda a tirania com os seus e levemente amigável com os demais. Percebo o quanto essa caneta pesa, mas, ainda mais, o tormento que nela personificou.

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Nada valerá o dinheiro,
Nada valerá o luxo,
Quando o tempo
For lhe tomado

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            Permaneço com esse discurso monótono, mas acerca de fatos importantes, rapidamente perceberão a diferença proposta, há ainda tempo para traçar caminhos opostos, mesmo que de nada adiante, receberia ao menos uma menor pena, a culpa de transgressões liberta pela serenidade, e a bondade de coração, nada mais do que traças e pó poderá presentear, assim como a ampulheta irretroativa.
            Ângelo Prado, mero comerciante, benevolente de toda sua singeleza, dono de poucos dotes, nada mais do que uma velha loja de linhas e um ou outro tostão no banco, uma família bonita, edificou seu patrimônio com o suor de seus poros e a honestidade de seu ser, nunca foi um homem de cobiça, algo apenas que o deleitava, uma mesa farta e a imensidão da noite para sua mente. Criara filhos e seus netos, intencionado sempre na retidão, ainda que muitos homens de má fé o ludibriasse nos negócios ou na concorrência.
            Famoso entre as vozes da vizinhança, de todo seu lustrado passado, comportou-se de maneira que um homem deveria se comportar, tranquilizou sua alma com a devoção divina, caminhou pela pobreza, mas acerca que jamais lhe deixasse praguejar, correu por dias em busca de sapatos novos para seus meninos e grande força para se estabelecer após a ida de sua esposa, acredito que tenha sido devastado pela notícia, no entanto, auferiu seus frutos de acordo a sua inteligência e maestria.      
            Um bom amigo, sou grato por ter mostrado tão íntegro e sensato de todas nossas conversas e encontros, sinto falta do fato de tomarmos café sobre o balcão de madeira, algumas vezes soltávamos risadas altas ao sabermos que nossa amizade não mudara com o decorrer dos anos e pensavamos o quanto de tempo teríamos ainda para viver e continuarmos nossa comunhão.

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“Os moinhos de Deus moem lentamente, mas bem pequenininho”.

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            Debruçado em minhas memórias e sobre este pedaço de papel me recordo alguns outros fatos que fazem parte dessa trama anêmica. Estive ainda pensando em coisas diferentes, a procura de alguma explicação, seja da verdade ou mentira que estou pronto a dizer.
            Não me refiro a assassinatos ou crimes, apenas a mortes naturais, de em datas opostas e sem qualquer pretensão de uni-las para algum enlace absurdo. Não havia cumplicidade entre ambos, jamais se conheceram e me recordo das lembranças pelo motivo em que a vida se encarregou de por-lhes um fim.
            A soberba e a excentricidade de Frederico o corrompeu. Um velho caduco, não restava mais nada que dinheiro, uma fortuna inestimável, uma casa gigante e bela, invejavel até entre os de sua igualdade, lhe veio a demência após não ter sido o escolhido entre os demais majores numa honorária cerimônia quanto a glória de seu trabalho e competência.  Como um cavalo velho, que cavalga vagarosamente para que seus ossos frágeis não se partam, estava, aos cuidados dos criados, e longe de seus familiares, asseguro para minha própria certeza, de que jamais gostariam de ter um velho pernicioso em volta deles. Até que uma hora o tempo o presenteou com sua morte, e os bens e o orgulho se dissiparam entre os encargos administrativos e a ferrenha luta dos parentes.
            O amigável velhinho que vendia linhas, também teve seu fim, dos seus bigodes castanhos e a constante pigmentação de fios brancos, também atravessou o sol. De coração grande, teve muitos problemas em vida, nada que se comparasse a morte prematura de sua esposa, deixou-o com três filhos e a dor da perda, continuou seus dias com a gentileza e tranquilidade com que a vida lhe propôs, um homem trabalhador, inteligente e bondoso, permaneceu rígido de sua posição de pai, e nunca deixou-lhes faltar nada, passou a loja para seu primogênito e trabalhou até quando pode, vivendo de sua condição modesta, rindo-se nos almoços e jantares, entre seus cunhados, netos, filhos e amigos. Um dia a luz do dia resplandeceu e nunca mais ele a viu.
            Proponho um chá, quero sentir o gosto do hortelã assim terei mais com que me importar, ao que me recordar de histórias que participei, entre meus olhos algumas lágrimas involuntariamente correm, e sei que tenho a saudade de ambos, mas em meu ser aceito a condição de terem traçado os próprios fins. Saiba ainda que de nada poderia fazer a não ser compartilhar minha amizade com eles. E sei que tal carinho jamais pudesse ser selado caso não os amasse tanto.

             - Marcos Leite

domingo, 9 de setembro de 2012

#2 Frase


Uma vida sem sonhos, é o mesmo que o mar sem peixes.
- Marcos Leite


sábado, 8 de setembro de 2012

Espetáculo circense

                Um álibi, um a prova cabal, um laço de fita. Um dia doce e nublado, aqueles que busca aconchegar no estofado com seu caso ou cônjuge, compraria toda? A parcela disso talvez, um raro e largo sentimento. “Acho ainda que está confuso em seus pensamentos”. Já foi, esta feito.
                Quando o palco estiver montado, terá ainda tempo para esconder, não se importe com o seu medo, esta fácil, cortar, “sim”, bem pequenininho, assim como os moinhos que moem bem de mansinho e miúdo. Tocar aquela canção? Uma insinuação deselegante esta. A hora é inoportuna, aflija seus dentes quando for pego, do mais, trate de se portar como sempre se portou. Sim, como sempre se portou.
                “Não gosta de sopros”, não mencione mais uma vez, estou farto de saber disso, como se sua opinião fosse relevante, esperas que mude minha forma? Seja indulgente, tenho cartas. “Não faria”. Se puder alocar meus dois dedos sobre a mesa, faria.
                Percebe? Uma pocilga, imunda, assim, a hora não importará. “O espetáculo em breve iniciará”. Corrompa-o. “improvável” permita a mim então?
                Faça jus, mas arranque mais gargalhadas do que consegue ser asqueroso, sei que não conseguirás. “Um assassínio, não te é indiferente, meça as palavras”. Uma âncora, levaria um rinoceronte até a lua nos ombros. “Ótimas metáforas e péssima atuação melodramática”.
                Feriu em cheio, amanhã o corpo já estará inerte. “porque não hoje?”As abelhas buscam o mel de pouco em pouco. “Um blefe premeditado”. Talvez não seja tão insolente, o dia amanhecerá e a alvorada trará novas oportunidades. Erga os olhos, coloque os sapatos grandes, e ajustes as calças largas, temos ainda que burlar essas pessoas.

             - Marcos Leite

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Cavaleiros do zodíaco


Encontrar alguém!
A gratidão e o entusiasmo são estonteantes.
Alguém que deixou de ser um estranho,
se tornou alguém que você ama!

Saber que o tempo não importa,
a amizade continua sempre,
mesmo que algumas milhares de léguas os separem,
o sentimento prevalece.

Nada do que dizem ou que falem mudará isso,
saber que pessoas não são como as nuvens,
que passam daqui para acolá num piscar de olhos.
São verdadeiras. Bonita presença, doce feição.

Saudades é o que resta quando se está longe,
mas as coisas não são do jeito que deveriam ser sempre.

Aceitar que pessoas sempre estarão juntas mesmo que longe,
é acreditar que a vida pode ser mais bonita que já é!

- M. Leite (09.06.2010)



terça-feira, 4 de setembro de 2012

Textos ruins, e os títulos crus

            Certamente já esteve minguado de inspiração e vontade, incomodado pelo número de pessoas lhe incomodando e interrompendo seu breve grito de paz. Há alguns dias assim, em que não se sabe quais são os perigos e o lado correto da calçada, entende que andar por impulso como a inspiração é mais arriscado do que uma dose de morfina.           
            Quem ainda não sentiu nos pulmões o fisgar de agulhas com o susto, jamais entenderá para o que a vida existe, uma vida cheia de cuidados, ascos e rejeições, conheci pessoas que tem o prazer em criticar a conduta dos outros apenas por serem humildes, que farão quando a velhice chegar e a ajuda ser necessária?
            Momentos assim, onde a frequência de uma voz lhe atrapalha e ira, não percebem o que estamos fazendo? Inúteis, há muitos inúteis por ai, o tempo todo posso enxergar, não se importam com suas próprias inconveniências e insinuações impróprias, já se não bastasse a conduta banal e idêntica, são muitos, muitos comuns que viverão uma vida pequena por terem uma alma pequena, cheia de cobiça e orgulho.
            A arte lhe foge, é como uma gota de mercúrio na palma de uma de suas mãos, alí, pequena e traiçoeira, lisa e ágil, a qualquer vacilo escorre e se perde no chão, assim as vezes sinto, como um desesperado para manter a gota de mercúrio nas mãos, que de mim a arte nao fuja e que nos dias em que pouco manisfesta eu não relute de escrever rapidamente acerca que não torne mais um dia oco e comum como os demais.
            Um presente, dos deuses como os outros acreditam, digamos assim, que nada poderia ser mais impulsionado pela catástrofe mental, a arte em si é uma loucura culta que brota entre os olhos, pouco acima do nariz, um local onde o ar refrigerado torna-se saboroso, gélido e brando, talvez seja a fonte da criação. Uma mina, expurgando meus males e bens, em uma fumaça de esplendor que corre meu rosto e flui como um manacial de meus lábios e dedos.
            Todavia um texto ruim, assim como este, com palavras e palavras sem conexão ou beleza, uma arte contemporânea, que talvez entendida seja, com os anos futuros, quando a arte inundar a maior parte dos juízes da terra e então quem sabe torne-se magistral, mesmo que assegure de meu próprio sentir a desaprovação na base e estruturas, mas que seja finalizada, assim como no mundo, produza uma casa feia, um elefante branco ou talvez um estádio de futebol.
           
            - Marcos Leite

 
 
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