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quinta-feira, 27 de junho de 2013

#5 Frase

As manhãs tranquilas são o fermento para o esplendor da alma, pois delas, 
apenas o frescor é aproveitado.
- Marcos Leite


domingo, 23 de junho de 2013

Cativar

Cativar-me-ia aos teus mais belos perfumes
Permitindo assim um reflexo de luz
A qual a terra se lamenta em não ver
Ondulando a beleza em cataclismos singelos

Se atenuassem teu brilho magistral
Chorarias por não conheceres teus olhos lívidos
Fazendo de mim um mero expectador
As facetas obsoletas dos demais no mundo.

A ti, fui predestinado a colher sorrisos
Pairando meu fôlego deprimido
A teus fados, longes de mim, quem és tu?

Ah! Me apetece tua presença,
O singelo motivo de permanecer junto a mim
Ditaria ao espaço que bruxuleasse estrelas
Em uma fermata, findando um beijo em ti.

- Marcos Leite

domingo, 16 de junho de 2013

Kingur - Você é o rei



          Parte 4 – Você é o Rei - Final
          
          Foram os dois pelo caminho até Gallard, antes Sophie voava como um sabiá, agora andava com suas perninhas curtas, se cansando e olhando ao redor para toda a destruição de Kingur. Foi um longo caminho, mas enfim chegaram a Grande árvore. Assim que atravessaram os limites de Gallard, a menina e o tiziu sentiram um estranho amortecimento em seus sentidos.
           - Sophie, não se deixe adormecer, fique de olhos bem abertos, não durma, preste atenção em tudo.
         - Por que sinto tanto sono?
         -  Porque a atmosfera de Gallard suga toda a sua vitalidade, tome cuidado. Pense em coisas boas.
        -  Vou tentar.
        Chegaram até um tronco podre e seco de uma antiga árvore, o tiziu olhou em volta e disse:
         - Estamos aqui.
         -  Aqui onde?
         Disse a menina com olhos arregalados.
        -  Quieta, não estava falando contigo.
         Neste ínterim um grande e feio Abutre chegou voando baixo até eles. Pousou no tronco da velha árvore e disse:
         - O que quer aqui tiziu?
         -  Salvar Kingur. Eu trouxe a menina.
            O abutre a encarou, seus olhos luziam como anéis dourados, impressionavam e deixava os demais perplexos com tamanha intensidade, o semblante se tornou amigável e de assalto abriu suas grandes asas, ficou grandioso, e o tiziu e a jovenzinha sentiram medo, pois, o tamanho do da ave era deveras maior que ambos em centenas de vezes, gritou de seus pulmões bem alto e tão agudo que ecoou ao longe.
Sophie fechou os olhos e o tiziu escondeu-se atrás dela. Temeram a morte, e a falta de amor do estranho. Então o silencio pairou sobre eles, e ela abriu os olhos e viu um jovem menino, de cabelos louros em uma extensa túnica, a roupa era um tanto bela, mas parecia também nem um pouco adequada para a ocasião.
- Você transmutou?
- Oh sim! Perdoe-me, estive a sua espera há longos anos. – Disse cordialmente o menino.
- Cheguei há pouco, e tudo parece tão confuso e novo. Seu sonho era mesmo tornar-se um abutre? Porque escolhestes esse animal tão estranho.
- Não escolhi.
- Segundo Karnel, o tiziu, aqui escolhemos o que queremos.
- Em Kingur sim, mas não em Gallard.
- Oh! Então posso me transformar em algo que não goste.
- Tens medo de algo?
- Claro, aranhas. São horripilantes.
- Não pense, pode se transformar em uma, quando teu delírio se tornar realidade, e não quero que seja assim, pois, a beleza de teus rubros cabelos a fazes tão faceira.
Sophie corou e pediu para o tiziu bem baixinho que ele falasse um pouco, e em teu coração criou uma centelha de carinho, todavia, o que sentira a passos largos desde que vira Rafael triste e enrijecido fora pena e dor.
- Temos um dia cheio, ou uma noite, seja lá como for.
- Fico feliz que a trouxe e viera junto meu belo tiziu, estava com saudades.
- Estive também, mas desta vez não o abandonarei.
- Nunca me abandonastes, foi eu mesmo que fiz isso, pois minha mente me tornou assim, vaidoso, como as pessoas grandes, e elas além de esquisitas, sequer se importam com os outros.
- Talvez tenha tempo ainda de recuperar suas venturosas belezas.
- Tenho esperança. – Interpelou Sophie e o menino simultaneamente.
Os três se acomodaram em um tronco retorcido, e tentaram pensar em coisas, mas os pensamentos eram como uma nuvem vulgar, que vagava sem destino ou beleza, se desfazia em tão poucos segundos que se sentiram compelidos por suas próprias cobranças, o jovem e a jovenzinha se culparam, e o tiziu tinha seus olhos cerrados, parecia que estivera em um sonho, bem distante dali, pensava em seus dias ensolarados, e em sua cor e maestria ao participar da inefável beleza da natureza, o ritmo da vida, os pássaros, as arvores, os rios, e toda a vida existente que habita uma frondosa floresta ou capoeira.
Começaram a questionar-se. A de cabelos negros agora, pensou em tua vida e tuas atitudes, o desprezo, a vida vaidosa, e o ato de procrastinar os sonhos das pessoas que amava, e esqueceu também ate de teus próprios, olhos para suas mãozinhas e pensou que seria difícil ajudar alguém confeccionar cartões de natal agora, era tão pequenas que jamais poderia usar uma tesoura convencional,  se entristeceu e pensou em bolos, jamais trataria de preparar algo dessa magnitude caso tivesse um corpo tão pequeno, não aguentarei levantar sequer um copo de trigo, que dirá partir os ovos. E então pôs-se a pensar que poderia fazer pinturas e desenhos em folhas pequenas, e as ajuntariam e formariam um belo cartão. Pensou também que mesmo com a pequena mãozinha se fosse determinada poderia produzir origamis minúsculos, sendo assim uma grande artista minimalista, e em seu peito brotou novamente alguns sonhos.
O menino, sentou-se próximo a um pequeno buraco, e viu que ate mesmo sendo negro e sujo, tinha uma fina era que brotava com dificuldade e percebeu que as dificuldades da vida nem sempre nos privam de sermos fortes e comparou-se com ela, se recordou de tua vida, de toda sua preguiça, seus luxos, e maledicência, e se arrependeu de ter um peito tão excêntrico, calou-se de todas suas exigências, fitou novamente era que crescia vagarosamente e pensou que de nada fez quando estava livre, não colecionou figurinhas, deixou de fazer novos amigos, e jamais educou seu coração para que sua família tivesse orgulho dele. E se entristeceu.  Mas recordou-se de tua fazendinha, a de brinquedo, com um cavalinho baio, três vaquinhas gordas, um carneiro, galinhas, cercas para marcar o curral e uma velha camionete para ir a cidade, e então recordou de tua infância, e usufruiu da nostalgia bonita, sem regras ou imposições, meneou a cabeça duas vezes e dedicou-se a pensar que faria de tua bela fazendinha um presente a alguém, e sorriu. 

O tiziu por sua vez sorria, recordava-se da entrega de jornais, de quando era um vendedor de leite, quando trabalhou como carteiro, e também quando a feira era sua casa.  O humilde menino pensou então quando era jovem também, e se recordou das dificuldades, da fome, e da humilhação, se lembrou que não tinha sapatos no frio, e sua mãe com dedos nodoados do árduo trabalho em vida, fazia as vésperas do inverno meias de lãs e alguns arremates em outras antigas, e assim a singela família com teus poucos confortos superavam o inverno. E se questionou o porque tornara-se um tiziu, e a resposta flanou sobre sua mente e em teu coração ele sorriu e continuou sorrindo com olhos fechados, teu semblante de todo o êxtase demonstrava a cordialidade e respeito que todo o tempo cultivou, e então entendeu que a forma do tiziu foi um presente dado a si mesmo, a beleza e fragilidade de um pássaro brasileiro, se espelhara em sua índole e personalidade,  sem exultar seus ganhos, nem cultivar a cobiça em teu ser, acalentou os outros com tua presença e fez-se assim amigo de outros, mesmo com tua aparência diferente e gostos incomuns.
Uma luz pairou sobre os três,  estavam de olhos fechamos e então abriram lentamente, se assemelharam com a luz e ela por sua vez era um raio longo e de espessura cilíndrica, brotava da terra e atingia em media quatro metros, era um esplendor, ao invés de uma luz solar ou elétrica, um esplendor que fora gerado da lagrima de ambos, o que o tiziu e o menino, Gallard, precisavam era o arrependimento, a lagrima de arrependimento de Sophie e de todas tuas atitudes impensadas quando jovem, e obtiveram. O esplendor reluzia como um espelho místico para os olhos de cada um.
O tiziu viu-se bonito, com sua esposa e duas filhas, vestido de oficial, e uma boina que o demonstrava garboso e tenaz. A menina se viu entre animais, e percebeu sua vestimenta branca, tornara-se uma medica deles. Já Gallard, o que criou a tristeza na dimensão Beta, tornou-se um bibliotecário, mas já velhinho, talvez teu tempo nesta dimensão foste outro, fora talvez abduzido quando era mais velho e sua vida negra de jogos de azar o fizeram criar uma lúgubre atmosfera, sofrera com tais pensamentos, e reconheceu-se no esplendor que a vida o presenteara com a nova posição.
Uma voz entre o esplendor soou levemente:
- Sabem por que estão aqui? Sabem quem sou eu? Sorriu belamente, sou Rafael, o cisne, estive aqui o tempo todo, e cuidei para que vocês encontrassem a chave de teus próprios medos, se recuperassem de tuas transgressões, e fizessem o melhor de si, e obteve êxito.
Sem interferências confiaram uns aos outros a própria vida, o menino esperou a bondade do pássaro, e a menina doou de sua generosidade a esperança a eles, criaram entre si o amor e o carinho, e então cativaram-se. Os perigos ou a escuridão não se impôs sobre suas escolhas e cultivaram a chama da esperança.
Apareci como um cisne para ambos, mas o tiziu que não sabia nadar eu o acolhi, você Sophie, fiz com que a flor fosse sua casa, e o menino era meu amigo, um outro cisne quando chegou, mas me abandonou, pois, não era o bastante bom para ser teu amigo.
Encontraram a chave dos mundos, cativaram uns aos outros e perceberam que o mundo não esta cheio deste sentimento, a conduta que tiveram foi o que fizeram refletir, e as incoerências foram corrigidas pelas próprias reflexões. Quando fecharem os olhos e pensarem no que viram em mim, a minha luz, vão voltar de onde vieram, assim como foram trazidos, e terão de fazer tuas próprias mudanças, assegurando o futuro que os revelei, caso não tratem de comportar-se de tal maneira, terão a vida distante do que aqui exibi.

Se cativas o amor a alguém, deve ser firme em teu feito, assoprar a plenitude e a lealdade aos olhos daquele que escolheu, entre os amigos e o amor, criaram aqui um ciclo de fidelidade, os sonhos não se misturam, mas se queres bem uns aos outros, sigam sua vida com retidão, não te estribes por vias menores, elas não mostrarão o civil, a medica de animais e tampouco o velhinho bibliotecário.
Kingur se refere ao Rei, você ser o teu próprio dono, escolheram aqui o que queriam ser, e na vida da terra escolhemos, a vida lá tem pessoas que nos atrasam, e pedras que nos machucam, aqui escolheram ser e logo se tornaram, não tiveram que trabalhar ou fazer preces de sonhos, e então viram também que tornaram-se outros seres, mas rapidamente deixaram de ser, creio que de onde vieram, se escolherem algo podem ser a vida toda.
Eu despeço de vocês com um fraterno abraço. E então a luz se esvaiu-se do centro  de onde estava, e passou por eles como um vento, e os abraçou ligeiramente, e Sophie se deu conta que estava engomada em um pijama de algodão, sobre os cobertores, em um domingo gélido no sul de Minas Gerais. Acordou de tal belo sonho, e olhou para o espelho, viu em seus cabelos ruivos, um pouco de glitter, sorriu levemente e foi despertar sua casa com um belo bolo enfeitado  e doses gordas de café e leite.


- Marcos Leite e Priscila Pereira

Leia aqui também: http://www.recantodasletras.com.br/contosdefantasia/4345391

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Kingur - Gallard


Parte 3 - Gallard

Os dois seguiram juntos como duas criancinhas brincando em uma floresta encantada. Andaram tanto que os pezinhos de Sophie começavam a doer, transformou-se em um sabiá do peito amarelo e voou a frente de Karnel, que vendo a iniciativa de Sophie,  transformou-se também  e ambos voaram juntos até uma árvore enorme que parecia separar e guardar Kingur de algum mal.
- Onde estamos?
-  Estamos  na divisa de Kingur, do outro lado da Grande árvore está o  reino de Gallard, lá tudo é sombrio, sem cor, sem imaginação e sem amor. Olhe, vês  a escuridão e os tons de cinza?
- Vejo sim, é muito feio e triste. O que fazemos aqui?
- Temos que salvar Kingur de se tornar como Gallard.
- Mas como? Kingur parece bem, nunca será como Gallard.
- Kingur  era toda a dimensão beta, quando Gallard se instalou e foi tomando pouco a pouco o território. Hoje ele já tomou mais da metade da nossa dimensão.
- Que horror, mas como podemos detê-los?
- Foi por isso que te raptei da dimensão alfa, preciso de você, só você pode nos ajudar a salvar Kingur.
- Mas como? Aqui sou tão pequena e indefesa.
- És pequena porque queres. Mas isso não importa. Só preciso de uma lágrima sua.
- Deixe disso, não quero me meter nisso, estou farta de tantas coisas, de cisnes que falam, de um tiziu que se torna em menino, veja meu cabelo?! Sai glitter dele? Veja! Estou farta, quero voltar pra casa, e fazer as coisas como a menina que era. Já pensou quanto tempo estou aqui? Nessa pintura? Nesse quadro? Sei lá o que quer dizer isso tudo.
As nuvens negras como o ébano, tão densas que parecia a escuridão da noite, se precipitaram ao olhar de Sophie e o menino, estavam inertes sobre uma nevoa, ambos sentados, e os olhos deles brilhavam como safiras, ela fechou os olhos, cruzou os bracinhos e franziu os lábios, a tristeza e a trevas se aproximavam e o frio os beijou com intensidade.
Algumas gralhas negras voaram sobre os dois, um circulo macabro delas, grasnavam no ar, e riam-se, não tinha claridade, e a rara luz que vinha da lua os deixava prateados com o brilho mórbido do ser de luz.
- Sophie! Não faca isso, por favor!
- Que estou a fazer? Karnel deixe me em paz.
- Sophie, lhe peço, lhe peço, sua mente esta criando a atmosfera medonha e noturna, pense nos lírios.
- Não sou eu, estou enfurecida, não têm o direito de colocarem-me aqui, como uma mera criança, pequeninha, veja eu não aguento sequer comer um grão inteiro de arroz.
            - Sophie, você esta escurecendo Kingur.
            - Não! Não sou eu, o clima aqui mudou, não tenho culpa de nada.
            - Se não pensares nas flores, em Rafael, na beleza das tintas, ou nas frutas, Kingur será negro como o reino de Gallard, parece que não vês? Estou aqui o tempo todo te mostrando.
            - Não seja petulante Karnel, não estou fazendo nada, meus pensamentos estão apenas tristes. Deixe-me em paz.
            - Pode ser que  nada mais brilhe aqui.
            Levantaram, o menino colocou a pequena Sophie nos ombros e ela sentiu que estava nos ombros de um gigante, o chão estava longe e o frio estava intenso.  Pensou consigo mesma sem que falasse com Karnel enquanto ele andava rumo ao encontro de Rafael – Não vejo mais lírios, os animais sumiram, essa nevoa e a escuridão estão crescendo cada vez mais, estou no ombro de um gigante, que mais se parece um robô, ele não tem traços normais, nem sequer pisca os olhos, e para onde estamos indo? Oh! Onde estou? Quero sair imediatamente daqui.
            - Chegamos, aqui esta o lago.
            - Estas maluco, o lago não é negro, era anil, onde esta Rafael?
            - Estás ali.
            - Não, ele é um cisne branco e de luz, não um negro maltrapido, com olhos cansados e o pescoço baixo devido sua idade. Vou até lá questionar aquele velho cisne negro.
            - Não menina, o lago pode ter animais agora, e ele esta triste, não poderá conversar contigo. Não vês?
            - Que tipo de animais. – Perguntou com medo.
            - Serpentes, peixes carnívoros, vermes. Não sei ao certo.
            - Por que ele não é atingido pelo mal em baixo das águas?
            - Ele é um cisne, e é respeitado entre os demais, mesmo nessas condições.
            Colocou suas mãozinhas sobre os cabelos e viu que estavam secos, não saia nada mais deles, não tinha sequer uma partícula cintilante, Sophie tinha agora os cabelos negros, toda a vida e a beleza ruiva deles, fora tonalizada pela atmosfera lúgubre. As flores do lago estavam murchas, e o menino transformara em tiziu novamente, sua real forma, as frutas não existiam mais e a solidão se instaurou no bosque de Kingur, o reino que cintilava luz e tintas, estava seco e melancólico.
              Sophie não acreditava que Kingur estava sem cor e sem vida, fora em apenas alguns instantes, tudo se transformara em lúgubre falta de cor, falta de leveza, de beleza, de alegria. O tiziu  olhava para ela implorando por uma mudança, mas Sophie desconhecia o real motivo da transformação horrenda que se operava a sua volta. Sentou na beira do lago outrora límpido e cristalino e agora, imundo e fétido, cruzou suas perninhas e com a mão sobre o rosto chorou.
              Suas lágrimas escorriam como uma cascata e isso piorava ainda mais o ambiente, nuvens rubras se avolumavam sobre suas cabeças, relâmpagos e trovões estouravam no ar, o cheiro químico dos relâmpagos impregnava Sophie de mais tristeza e melancolia. Queria estar em casa.
             Karnel, o tiziu, implorava para Sophie se controlar senão destruiria toda a dimensão beta. Começou a chover, inundando os dois e congelando-os, Sophie chorava ainda mais, por ver como tudo estava piorando.  Karnel disse:
            - Sophie, olhe para mim.
             Ela levantou sua cabeça o olhou em seus olhos.
             - O que mais gostavas em Kingur?
             -  Não sei, gostava quando não estava chovendo.
            - Então confies em mim e pare de chorar.
            A menina parou de chorar lentamente, aos poucos se acalmando, notou que a chuva ia cessando a medida que suas lágrimas secavam.
            -  A chuva está parando por que parei de chorar?
            - Eu tinha te avisado que podias fazer qualquer coisa em Kingur, lembras?
            - Sim, mas não achei que era tão sério.
            - Pois é sério sim. Queres salvar Kingur agora ou ainda estás zangada comigo?
            - Ainda posso salva-lo?
            - Podes  se realmente quiseres.
           -  Quero.
           -  Então vamos, teremos que volta até Gallard.
           - Não quero voltar lá, olha o que aconteceu na ultima vez que estivemos lá.

           - Não temos outra escolha. Se você controlar suas emoções estaremos bem.
     
            Continua...


- Marcos Leite e Priscila Pereira


domingo, 9 de junho de 2013

Kingur - Transmutação


Parte 2 – Transmutação

A musica e os flamingos pareciam sugestivos, estivera em um lugar nunca visto antes, não possuía um corpo comum e andava devagar, ainda um pouco de temor a rondava, mas olhos grandes e azuis a encontraram, era o cisne, Sophie foi para outra margem sem saber, e ela a disse:
- Estas aflita?
- Um pouco, gostaria de algum lugar para ficar ao anoitecer.
- Queres que anoiteça?
- Posso controlar?
O cisne abaixou seu pescoço ela o abraçou e ele a colocou novamente na flor de lótus, ela se sentiu menos atemorizada e deitou, o cansaço a consumiu e dormiu por horas. Abriu os olhos novamente e viu que a flor era arroxeada agora.
Saindo da flor de lótus com um pouco de dificuldade por causa de seu tamanho mínimo, Sophie não avistava o lindo cisne, sem ele não poderia chegar até o outro lado do lago, estava apreensiva e pôs-se  a chamar  pelo cisne:
- Rafael, onde tu estás?
-  Aprendeu meu nome.
Disse o cisne aparecendo como que por encanto ao seu lado assustando-a e quase a fazendo cair no lago.
- Como aprendi se ninguém me ensinou?
- Kingur é assim mesmo, aqui aprendemos sem que ninguém nos ensine e ensinamos sem que ninguém veja.
- Como isso é possível?
- Ah menina, esse é um dos mistérios de Kingur.
- Quais são os outros mistérios?
-Logo saberás, não seja tão apressada.
Subiu em suas alvas penas e foi levada até a margem do lago,  notou que seus pezinhos pisavam  em tinta lilás,  sorriu, era sua cor favorita. Despediu-se de Rafael e se dispôs a investigar um pouco mais dessa dimensão tão diferente da sua, queria também descobrir porque fora raptada daquele jeito.
Andou com cuidado, observando tudo ao seu redor,  viu coisas inimagináveis, sorriu ao pensar em como era belo aquele mundo, como era doce o ar que respirava e como a luz do sol alimentava o seu corpo. Foi então que Sophie percebeu que não comera nada desde o rapto e não sentia fome alguma, olhou ao redor e viu uma arvorezinha carregada de pequenas frutas cor de anis, não conteve a curiosidade e comeu uma frutinha, o gosto era maravilhoso, a fruta era muito pequena, mas quando mastigada, se transformava em nuvem dentro da boca.
- Vejo que comeu a fruta da transmutação.
-  Que susto Karnel, porque sempre chega de surpresa assim?
Karnel tomou a forma de um menino louro de olhos verdes e sardas no rosto.
- Vamos, pense no que quer ser e transforme-se.
- Não sei como fazê-lo.
- Confie em mim, vamos pense.
- Estou pensando...
Sophie foi se transformando em uma linda borboleta, com assas multicolores,  subiu planando lentamente,  Karnel observava da superfície com um sorriso no rosto.
- Use as correntes de ar.
- Isso é maravilhoso! Estou voando!
Karnel ria e corria atrás da linda borboleta Sophie, mas de repente ela voltou a sua forma original, e foi caindo, seus bracinhos balançando e de seus cabelos caía muito glitter. Karnel se transformou em um corvo e amparou a queda de Sophie antes que se chocasse ao chão de tinta.
- O que aconteceu?
- Você ainda não consegue segurar a transmutação. Precisa treinar mais, você se esqueceu de continuar  pensando que era uma borboleta.
- Ah que pena, estava a gostar de bailar no ar...
- Podes continuar depois, agora preciso levar-te para ver uma coisa.
- O que é?
- Não seja tão curiosa, tudo tem seu tempo.

Continua...

- Marcos Leite e Priscila Pereira




quarta-feira, 5 de junho de 2013

Kingur - O rapto


Parte 1 – O Rapto

Andava apressada e com medo aquela hora da noite, as ruas estavam vazias, o ar era gélido, uma densa neblina cobria todo o horizonte. Preocupava-se em andar sozinha, mas nada podia fazer, tinha ouvido uma voz clara a lhe chamar continuamente, como se fossem ecos de seus pensamentos, até agora não sabia exatamente se era real, mas precisava averiguar.
Saiu da rua e entrou em um caminho que cortava uma linha férrea, era um campo bem extenso, coberto por grama baixa, no meio passava a ferrovia meio abandonada. O frio subia do solo como uma fina fumaça alva, tudo estava no mais profundo silêncio e Sophie olhava ambos os lados, apreensiva.
Um clarão cortou a escuridão da noite, Sophie olhou assustada e viu um portão dimensional se abrir a alguns metros a sua direita, um cavalo branco, um cavaleiro com uma espada em punho saiam do portão que se fechou. O cavalo vinha em sua direção; ficou paralisada de horror. O cavaleiro a segurou pela cintura e colocou-a sobre o cavalo na sua frente, presa entre seus braços. O portão dimensional se abriu mais a frente e os três passaram.
Ninguém viu o acontecimento, o campo da linha férrea continuava em silêncio e agora vazio. Sophie não podia acreditar que tinha sido raptada para outra dimensão, diziam que os raptos haviam cessado há muito tempo, como não imaginara isso quando ouviu vozes a chamar incessantemente o seu nome? Porque tivera que sair de casa? Fora uma presa fácil.
Karnel segurava Sophie bem forte contra o peito musculoso e ágil de guerreiro que era; não poderia deixá-la fugir, precisava dela.
Aparecera em uma flor, uma flor de lótus, rosa, bela, emanava beleza, o que pensaste? Viu seus dedos brilharem como pequenas lanternas de luzes azuis, e estava sozinha, a luz por trás das pétalas refletiam os reflexos rosados por sua pele e entre um vão de uma pétala, percebera que estava num lugar bonito, como um jardim, e se deu conta que era menor do que pensava, até mesmo um pote de novelos era maior que seu corpo.
Quedou-se entre as sedosas e rosadas pétalas, e admirou um belo cisne que nadava lentamente sobre um lago anil, e viu que ele era branco como a luz, e belo como uma aurora boreal. Ele se aproximara e ela temeu, ao ver que se aproximara da flor, ela flanou como uma pena nas costas da bela ave, e nadou com ele ate a extremidade do lago. O cisne tinha olhos azuis, e seu tom amigável, fê-la sentir confiança, acariciou levemente uma parte de tuas asas, com mãos pequeninas e pulou para a terra.
Sophie olhou para um espelho, adornado com sementes de girassóis, cascas de ovos trituradas, e um singelo lírio na parte superior, achou um tanto exótico, sorriu e percebeu que tinha cabelos fulvos ali, um vestido azul e uma fita verde que servia de cinto, estava bela, como uma pin-up, mas comportada como uma jovem na noite de seu debute.  Chacoalhou a cabeça e de seus cabelos ruivos pularam um pouco de glitter, mas algo amedrontou, ela não tinha sombra, parecia um fantasma.
Ao aferir teu reflexo, olhou de soslaio e viu um tiziu, negro, o pássaro, e ele posou sobre teu ombro, e disse baixinho:
- Conheces a ti mesma?
 Oh! Um pássaro que fala! – pensou alto, mas não se voltou para o tiziu.
- Sophie, não seja tão antiquada, estás em Kingur.
- Como fui parar aqui?
- Busquei-te!
- Estava no Brasil, como pegou-me e trouxe pra cá?
- Em meu cavalo, transmutei, somos transmutáveis aqui!
- Eu poderia ser uma borboleta?
- Se quiseres...
- Como faço? Gostaria de voar, depois me tornar uma leoa, e quem sabe um peixe.
- Estas admirada, mas não posso ainda, com o tempo vais entender.
- Porque pisamos nesse chão pastoso? Estou um pouco desconfortável aqui.
- Não estou pisando em lugar algum. Apenas no teu ombro.
- Pare de rir de mim – Sorriu bondosamente, e continuou – parece que vou ser sugada pelo chão.
- Não apetece para ele, estas pisando em tintas, a terra como dizem no Brasil, aqui estamos em pisando em tintas. Não vês que teus sapatos estão coloridos agora?
Em teus olhos brilhou uma chama de beleza, pensou e percebeu que estava num lugar bonito, pegou uma pequena flor, tão pequenina que conseguiu colocar em tuas mãozinhas, e a premiu levemente e ela se tornou um borrão de tinta amarela.
- Ei, porque somos tão pequenos aqui? Tive medo de um cisne tão grande.
- Somos como queremos ser Sophie, não quer ser como uma borboleta?
Sophie caminhou com admiração sobre os caminhos de uma trilha, o tiziu a seguiu, parando, comendo algumas sementes e muitas vezes desaparecendo. Ela pôs-se a cantar, e embelezou com trejeitos e a voz suave as grandiosas arvores, e bateu palmas quando viu de perto os olhos de um rã que estava ao pé de um tronco. Sorriu e saiu levemente.
Deu-se conta que estava longe de sua família, mas um panapaná de borboletas a enfeitiçou de beleza e maestria e ela admirou como uma criança, esqueceu seus familiares e o mundo por um longo tempo e não voltou a pensar nisso, as borboletas coloridas voavam  e dançavam entre si, ela disse alto para que elas a esperassem, pois ela também era uma delas, e queria fazer parte do grupo.
- Tens um apreço por borboletas!
- Não faça isso Karnel, não chegue de supetão, estou ainda um tanto admirada e assustada.
- Como sabes meu nome?
- Eu não sei!
- Sophie, estas começando a pertencer a Kingur.
- O que é Kingur? E como estou pertencendo a isso? Sou uma fada?
- Esqueceste o que eu te disse? És aqui quem quer ser. – De assalto ele voou para uma arvore bem alta e a jovem o perdeu de vista.

Temeu, o sol estava avermelhado, sabia que a noite se prenunciava, uma sinfonia começou, e ela olhou para os lados e nada viu, parecia uma musica erudita, mas como se fossem pingos de chuva ao invés de um robusto piano. Andou apressadamente e cruzou uma dezena de flamingos. E não percebera, mas teu rastro fora marcado com glitter, que saia de teus cabelos.
Continua...

- Marcos Leite e Priscila Pereira

 
 
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