Parte 2
Me aventurei em minhas
possibilidades cruas, pálidas e insossas, o que eu poderia ser além de mim
mesma? Penso as vezes que as qualidades dos demais sempre vão superar meu entendimento, de uma jovem em constante mudança, e a velhice se aproxima como
uma grande carruagem espartana. Acho mesmo que estou sozinha aqui. O mundo é
recheado de pessoas e animais, casas, dinheiro e árvores. Em apenas um segundo
o planeta inteiro sofre mudanças enormes, e eu mesma posso sentir apenas o leve
toque de uma calmaria.
Se há
milhares de moças como eu, porque ainda não encontrei alguma que fosse,
poderíamos fazer uma tatuagem parecida, criar um selo de irmandade, e em um dia
quem sabe ao longe quando os rapazes nos avistassem, poderiam pensar que somos
irmãs.
Há
tanto o que pensar sobre as ofensas cotidianas, embora os dias sejam lentos e
os anos absurdamente apressados, me sinto como se estivesse liquidando todos os
pensamentos vis, o perdão e o desapego fazem parte da vida adulta e estou
saboreando de forma tao saudável que ainda posso crer que talvez eu não seja
tão exclusiva assim. Mas parece que as vezes estamos entre uma bifurcação entre
o bem e o mal, pensamos em grande parte das vezes que se todos estivessem bem o
planeta seria alvo e sorridente, e o que deixamos de alcançar o torna sujo, a
frustração. Gostaria que não me cobrassem tanto sobre as escolhas. Mas eu Nina,
porque ainda tenho de me apropriar de tais respostas se sou a proprietária de
minha existência?
Em um
passo apenas consigo corrigir o desvio e um pedaço de papel que se dobrou, os
meninos em cima da arvore não param de gritar, acho que estão eufóricos com a
presença de um tucano na arvore vizinha. Caso eu tenha me permitido a olhar
para eles, estou um pouco feliz pelos meus lábios também se contorcerem de
forma sutil e alegre. O que se leva de todas as incongruências encontradas ate
agora? Um pouco mais aqui me dedicando a meus botões e a salada de cenoura será
abortada para um omelete engordurado e calórico. Mas se não há problemas qual a
graça de se viver? Ainda não estou no céu.
A morte
é o frenesi evitado por todos. Onde as células deixam de reproduzir, e as
estrelas anseiam por seu brilho, tornar-me-ei uma. Enquanto isso, penso que
isso é triste, alguns se vão e os caminhos entortam, a saudade talvez perpetue
até mesmo sobre as estrelas brilhantes, sendo assim o pó do passado me fisga de
imediato ou recorrerei ao juiz do tempo?
- Marcos Leite
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