Quando a aurora boreal apontar no cume dos montes, perpetuará o frio e a dissonância única das ilusões óticas, um sinistro brilho de cores dúbias, dosam a íris e o consciente, há o que interpretar desta valsa gigantesca de proporções belíssimas? Estamos dentro da sintonia idêntica e a similaridade compartilha a respiração efêmera e extasiante.
Como num inverno devastador, as lembranças que ocorreram trepidaram no desfiladeiro do destino, ungindo de esperanças e a saudade modéstia parte, mas não percebes ainda que o nivelamento dos dias só se dá com o tempo? Hei ainda de sugar um pouco do brilho das estrelas opressoras, as que estão mais próximas de nós dois.
A pressa não é amiga, o que marcamos para ser real já se estende por mais de dois anos. O que esperaria de apenas uma noite ou um acordo feito entre testemunhas desprezíveis. A resposta só pode ser a mesma da qual quase todos na terra já ouviram. Nada!
- Acorde!
- Mas não estou dormindo.
- Deduza que sim, um dia quem sabe encontre o sono perfeito.
- Permitiria ainda um dia encontrar-me numa avalanche esquiando ao invés de simplesmente ser atingido por toda a neve?
- Se estas concorrendo a uma vaga no outro lado, pode fazer, mas tenha plena certeza que não estou pleiteando tal posição por agora, estou um pouco confortável aqui ainda.
- Qual tipo de sonhos posso escolher? Acho esse jogo confuso.
- Feche os olhos!
As intenções são calibradas pelos corações e cérebros de acordo com as possibilidades e sentimentos, um beijo inclusive tem a intenção particular de escolher entre o amor e o sexo, e inclusive o asco, existem bocas lindas, finas, carnudas e molhadas, anunciam algo ao olhar, mas inibem em muitas vezes o inebriante êxtase da paixão, acerca de que o prazer em inúmeros casos é colocado na dianteira.
Na vida estamos dispostos a tudo, as direções são escolhidas vulneravelmente e as consequências são o produto de nossas determinações cerebrais, às vezes não é tão interessante como deveriam ser, e em outras são melhores do que esperamos. E existem coisas que não controlamos, não esperamos que aconteçam, pois, fluem inesperadamente, acho que isso começa com um beijo.
- Oras, ainda não interpretou?
- Estou cansado de ficar com os olhos cerrados.
- O que vê?
- Uma imagem negra que aparece de vez em quando traços brancos, cinzas, imagens de meu inconsciente e algumas vezes você.
- Já começou a me enxergar?
- É pra isso que pedistes?
O gelo nos polos nessa época é ainda mais belo, e quando percebidos doam sua beleza, nos acometendo a imaginar que são a fumaça solida do céu, alvos, brilhantes ao longe, gélidos a ponto de se tornarem únicos, e imensos. Resta apenas dois seres nesse lugar lindo, onde as estrelas nos sondam, a lua é maior que podemos pensar e a quietude cria a ambiência de um encontro romântico.
Estamos distantes da terra neste lugar, não há qualquer silvo, as árvores não existem aqui, e a possibilidade de encontrarmos alguém parecido conosco é mínima. Nos apresentamos mais próximos do espaço neste momento, e até mesmo o ar é mais difícil de aspirar. Duas almas, juntas e únicas, um enlace.
- Qual foi minha feição em seu quadro negro mental?
- Você estava mostrando a língua, como sempre fazia para me atormentar.
- Merecia em muitos casos.
- Mas estava linda!
- Sequer meus cabelos estavam arrumados?
- Não reparei.
- Nunca reparou.
- Senti sua onda de insatisfação, mas sabe que isso é o que gostaria de ter feito agora, te estressar, acho que sempre vou te estressar.
- E acho que por isso me cativou, com sua eterna implicância.
Um brilho estelar cortou o céu e deste todos aqui neste planeta perfeito já conheceram a lenda, ou ainda conhecerão. Assim que uma estrela cruza as outras em um maior esplendor, ela compartilha a possibilidade de fazermos um pedido e quando de coração dizem que eles são elevados ao criador. Os mitos não são de todo mentirosos, se existe tal ditado conhecido por milhões, quem foi o gênio brilhante que o inventou?
A luz cruzou nossos olhares, neste momento meus olhos já admiravam os céus, e minha companhia também, estávamos de mãos dadas a contemplar tão magnitude esfuziante, demorou por cerca de dez segundos, nunca antes em minha vida tinha visto algo tão longo e intenso, foram os dez segundo mais bonitos de minha existência, a minha alma gêmea e a perpetuação do maior presente ocular concedido a nós dois.
Uma lágrima flanou sobre as maças de meu rosto invariavelmente, e um frêmito me atingiu levemente, conheci o real sentido do amor, e estava pronto a compartilhar.
- Qual foi teu desejo?
- Desejei... Bem, eu desejei que você ficasse aqui até o fim.
- O meu foi o mesmo, mas ainda não me tornei de carne novamente.
- Estou esperando a intercessão da estrela cadente.
- Eu te amo!
- Eu amo você também, e todas suas facetas de me encontrar até que termine teus dias.
- Se as estrelas não me ajudarem, vou esperar todos os invernos para poder vir aqui, e assim que a aurora boreal brilhar saberei que você me encontrará.
- Tenho que voltar.
As sílabas chegaram com atraso com cerca de um segundo, e as palavras se formaram lentamente em meu consciente, e percebi que apenas daqui um ano eu a poderia encontrar novamente e as diferenças entre o mundo e o amor já tinham sido liquidadas, eu esperaria até o fim, me ajuntar com teu espírito e vivermos juntos na imensidão.
- Deixe um pouco de tua existência comigo.
- Mas sou uma fantasminha.
- Me beije!
Após o dócil beijo, vi sua luz subir no horizonte, era ainda mais bela que a estrela, e então me dei conta que talvez aquela que raiou para nós, poderia ser outras pessoas apaixonadas que já estão juntas, e percebi que a porta está entreaberta para nós, e em meu peito a ânsia de teu amor busca o tempo todo por algum sentido, as palavras bonitas e o sentimento eterno pairam sobre mim, e eu me despeço com um sorriso entre lágrimas e o fervor da paixão. A esperarei para todo o sempre...
- Marcos Leite