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quinta-feira, 25 de abril de 2013

O cadáver alvo


       Os dias sombrios sustentam a imparcialidade do tempo, perscrutando o ritmo das estações, simbolizando os pecados e distantes invocações de ira e desespero dos seres, almas medrosas, corpos nus, pedras, velas, um ritual, haveria ainda assim um acordo macabro imposto a ser retamente desenhado por nossos olhos ou acabaria usufruindo do gosto pavoroso da morte.
                Joviais, corpos, ah! Corpos fartos, brancos, alvos como as nuvens, olhos clementes, bocas vermelhas, o retrato na parede, assemelham a Condessas em teu chá vespertino, echarpes de seda, anéis, e sutis olhares desprezíveis. Pendem ainda ânforas decoradas, uma gaiola gótica sem morador, peças talhadas, papéis de parede, um hall.
                Germinas um pouco do ar efêmero de ódio, as paredes ouvem, sentado, cujo, os pés se olham, e os olhos desvairam para os cantos em busca de um sentido. Leda moras aqui? Mergulho os pensamentos em casos arbitrários do passado, um buquê de rosas, triste e caído, estivera só naquela ocasião, nada que lágrimas e o tempo lhe curassem, praguejastes as divindades, aos homens e a tua alma. Um blefe sagaz, o noivo não a amava.
                Alta, enobrecida, maças das faces rosadas como uma carpa bonita num lago transparente, a mais leve coloração dentre elas, teus seios arfavam com gracejo em teus modelos festivos, cabelos negros e brilhantes, refletiam tal jovialidade, as graças de uma bela moça prestes a desposar com um varão tenaz. Pecaminosamente bela, estivera a felicidade entre os dedos, e a peste em teus sonhos, dizimados por horas de lamentações e palavras doridas.
                Vivestes bem sobre os eventos da nobre sociedade, a alta, entre os bailes, jogos, encontro de damas, e alguns eventos da aristocracia. A estirpe a favorecera, insinuo que jogastes às estrelas um pouco de teus gracejos, em troca fora banhada pelo doce mel dos corpos de luz.
                Colhem as rosas amarelas, formam ramalhetes dourados, um enfeite. Estive ainda com meus pés cansados, olhando a triste serenata das abelhas que flanam sobre as flores. Ainda mais tarde murcharão e servirão de fertilizantes.
                Ao esquivar de meus acomodados assentos de algodão, cambaleio sobre um balaústre, apropriado, as escadas seguem o desenho dos cômodos, não existem pios ou ruídos, apenas meus passos, a atmosfera funesta e os reflexos de minhas transgressões me acometem a refletir os maus caminhos e as pegajosas companhias que tive, pessoas comuns, pensamentos fúteis, com grandes bocas a expulsarem anedotas sobre os demais, os quais sequer tinham presença confirmada para sua respostas em defesa. Grandes goles, e canções lastimáveis de um peito em sofreguidão.
                Ao ultrapassar os arcos, alguns cristais soaram a soleira de uma porta, alguns cintilavam a cor do dia, outros balançam com beleza, estive encantado por tal esmero a meus olhos, cedi um pouco de tempo para tal admiração e congratulei a mim mesmo por ter chego a hora correta em que os raios do sol refletiam em tal enfeite.
                Adentrei a suíte, tirei meus sapatos, olhei a cama e deite-me, ao olhar para os o teto tive a lembrança de quando era um mancebo virtuoso, com um feixe de ignorância suficiente para apaziguar qualquer bela, castiguei-me em meus próprios pensamentos, e soergui-me, em direção a extremidade da cama. Entrei ao toalete e tive meus olhos cerrados repentinamente, o sentimento de tristeza e horror estiveram comigo e se estabeleceram para meu martírio.
                Nua, com pálidos véus de seda sobre os ombros, pele branca, tão bela e alva que me faziam reflexo por de trás de minhas pálpebras, ao primeiro flash que meus olhos viram, um momento de angustia, abri novamente os olhos, Leda, pendia sobre uma corda em teu pescoço, com a boca que outrora era vermelha, se comparava a uma embebecida de vinho por três noites seguidas, roxa e sem vida, o rosto macilento e sem gestos traçavam os pavores a uma beleza distinta de outrora, a imobilidade do cadáver contracenavam o aspecto macabro das dependências.
                Estive intacto, sem que movesse um centímetro para esquerda ou direita, a admirei, de teus belos cabelos negros, e teu corpo espetacularmente desenhado, relutei dois passos e olhei sobre a cama, deitei e meus olhos brotaram lagrimas, a dor estivera se aproximando de mim.
                Ao que notara em alguns momentos procedentes, teu corpo se igualava ao meu, a toquei, gélida e ereta, premi teus braços contra os meus e bailamos nus, perambulando meu desejo sobre aquele corpo com carnes frias e agouradas, bailei até que a noite adentrasse ao dia. A beijei e com cuidado a deitei novamente.
                Se não tivesse corroborado meu coração de orgulho, não teria cortado as cordas e a tomado em meus braços, fiz com que os vestígios de corda fossem atirados pela janela, enfurnei-me nas águas mornas de uma banheira, e fumei um cigarro. Cravando minha felicidade aos sopros de fumaça. Não trataria de demorar, minha noiva está a espera.
                Em seu sono de morte, parecia tão linda, que meu amor jorrava por todos os outros sentimentos, levantei os lençóis e encostei aos teus membros gelados, em um afago carinhoso, a abracei, fitei teu rosto pavoroso e adormeci após um dócil beijo.
             
               - Marcos Leite



domingo, 21 de abril de 2013

Homem de Lata


Sentimentos vãos, possibilidades perdidas
Em teu peito não palpitam semibreves 
Distancia-se das nuvens 
Habitando os dias de solidão 

A ti um coração de papel 
Que tenhas cores diferentes do brilho cromado 
Esqueças de engraxar tuas falanges hoje ao menos 
Dance comigo esta canção. 

Teus olhos são luzes, 
Nariz aquilino, boca sem traços 
És tu, Oh! Meu escolhido 

Se todos soubessem o quanto gostaria de amar 
Não teriam procrastinado tanto o amor 
És de lata, gélida e maciça 
É assim, só porque não tens amor. 


- Marcos Leite


quarta-feira, 17 de abril de 2013

Aroma do amor


Tens o aroma natural
Das terras brasileiras,
Engomas meus sonhos e lembranças
Dos meus passos mineiros.

Insinua o amor,
Juntando xícaras,
Inflando os pulmões
Do sobejo sabor.

És a ti essa serenata matinal
Aos grãos torrados, grossos e fortes
Diluem-se em águas efervescentes
Doando ao ar o aroma do amor.

- Marcos Leite


segunda-feira, 15 de abril de 2013

Sonhos aquarelados


Os sonhos são as viagens do teu ser
Excetuando as cobranças e exigências
Tens o mar e o sol em teus meandros
Moves o tempo, e ele de nada importa

As luzes esgueiram sobre as montanhas
Flutuas em teu belo ninar
Canta para as arvores e os pássaros
Anda na noite sem medo de vacilar.

Fechas os olhos e sinta o cheiro das rosas
De tintas anis, estão brotando ainda mais
O tinteiro está sobreposto
Ame a pintura íntima de teu ser

És o pintor,
Pleiteia teu cargo sobre os nevoeiros aquarelados
Assoprando um gesto original
Impondo teu talento aos olhos vencidos
A ti, um galardão de vida!

- Marcos Leite


sábado, 13 de abril de 2013

Por que és assim humano?


Não extraviamos nossas vidas do amor. O simples intuito dela é abraçar a espessura do sentimento inutilizando as ironias, palavras maledicentes, vislumbrando os olhos ternos quando fores dormir, o que importa da vida se não tens ninguém?
Posições, cargos, estirpes, castas, níveis, não passam de meros detalhes da sociedade, não possuem nada além do orgulho, o poço do homem, e o flagelo, lógico que o amor fosse uma companhia S.A., a ruína seria todas esses títulos, infringir a lei do amor, é algo da vida, seguir teu caminho blefando contra tua própria lealdade é o fardo.
Homens e mulheres, quantos existem por ai? Quem poderia imaginar uma sociedade perfeita, aristocrática, imunda, riquíssima, de capital? Talvez, paupérrima, pequena, vulnerável, de sentimentos reais. Um bom texto seria se não estivesse sendo tão determinista! Tens razão, há seres que amam sem cobranças ou que permanecem a espera de algo em troca, alguns que conheci, viviam em seus casebres e mal tinham o que vestir, mas nas noites de lua cheia, dormiam satisfeitos da comida e recitavam doces declarações de carinho na cama maltrapida.
Serafins, querubins, luz, ouro, beleza, festas magistrais. Ah! Porque ainda estão sentados nessa sala de cinema mental? A beleza do carinho e do amor não estão preocupados com o que o que tua cobiça desejas, és licito pensar em grandes coisas, a benevolência e os sonhos devem percorrem nossa alma, mas, jamais superar a proximidade e a ternura a quem tu cativas!  
Um ancião pragueja a morte de tua amada, pobre, talvez reste apenas algumas semanas de vida, não deveria tratar algo tão natural com tanta falta de compostura. É caro, é que ele talvez tenha percebido, a que a jovialidade e alimento da vida é o amor, pobre, agora digo, talvez se deprima tanto que seus dias comecem a definhar, na esperança de encontra-la novamente.
         
Nênias soam por muitos cantos, olho acima de meus pensamentos, e ajeito alguns papéis, estou atrasado, um encontro com a gentileza, seria uma infâmia faze-la esperar, a afinidade pode ser que fique farta de esperar-me também, hoje ainda quero beliscar alguns quitutes italianos, deixando um pouco minha dieta e todas minhas preocupações aqui nesse papel ridículo.
         Caro humano, a vida segue mais rápido que um leopardo em busca de tua caça, as oportunidades pairam como borboletas leves e flutuantes, e escorrem como mercúrio sobre a superfície plana, as reflexões de tuas atitudes soberbas deveriam ter sido vistas há muito tempo, ninguém será bom para você nunca?! Deixe que os outros falem de você, o mar é insultado pelos banhistas todos os dias e nem por isso deixa de beija-los com tuas ondas. Uma canção tocará em teus ouvidos, o frêmito da vergonha e insegurança o farás suar, e o enlace de sentimentos uma hora o esfuziará.

         - Marcos Leite

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Estranho visitante


Alguns dos meus dias mais extensos, estão entre os pedregulhos, as chagas e as lágrimas, permiti que machucar-te, ferir-me-ia em efeito, um adeus, o beijo das sombras, o lamento.
Há um tiziu próximo a mim, o azul negro, o belo passarinho, que fazes? Trazes as dores do passado? Pisco um de meus olhos, e o encaro amigavelmente, estás aqui para recordar, os traços, o fado, e as consequências. Belo voador, escura lembrança.
Intermitente outono, hoje o pesco de supetão, as folhas se esgueiram sobre a bruma, os tons acinzentados reinam, o escorregar do vento sobre os galhos que choram lágrimas de orvalho gélidas, o nascimento melancólico de uma estação, o diluir do calor, e amornar do solo.
Minhas mãos solitárias, pintam, sobre o papel enrugado, vejo um arlequim em meu reflexo, mas nas honras a ti, desenho um tiziu.

                                             - Marcos Leite 


 
 
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