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quinta-feira, 17 de julho de 2014

O homem lobo

    A intempérie esculpe os meandros deixados pelo tempo, inunda nossa existência de ruínas, em anúncio a debilidades naturais da vida. A força com que entramos na morte é conjecturada em somas medíocres de assassínios, rejeitamos a vida de forma crua, sem que intentemos a medida cabal da natureza.
       Segundo a lei dos homens, nada é inacreditável acerca de que os rumores perpetuem em tão longa escala de décadas, as sereias, os seres medonhos dos mares e rios, atraem homens e curiosos em seu canto envolvente. Embora tenham aspecto macabro, a suntuosidade de tua voz, explana aos ares o gracejo angelical sonoro. Sobre o aspecto circunspecto das tradições e lendas, encontramos as bifurcações das crenças.
       Ao longo esboço em que a vida percorre a perturbação de seu gênio tornando sua alma em um amálgama de loucura e ferocidade, as ações deliberam o cardo mais espesso de sua existência, tragando seu eu para o lado selvagem, o sinistro e a insanidade.
       Adentrando em um tugúrio imundo, por de trás de um manto finíssimo e surrado, os cabelos desgrenhados circuncidavam uma cabeça estranha, aos passos simples dentro do combinado, assentaram, olhando de frente a uma feiticeira. Os olhos brilhantes, de semblante hostil, os encaravam sem excitação, diante a tal faceta de uma visita que nada mais importaria, apenas receber algumas moedas de ouro.
       Como se estivessem deixando o óbolo no alforje negro de Caronte, anteciparam o pagamento, fora contado sem descrição pela bruxa, um a um, e em um sorriso desprezível os guardou. Antes mesmo que lhe pudessem contar o motivo de sua estadia efêmera os homens intimidaram-se pela perspicácia daquela que os interrogava.
       Dissera a um que a lua cheia se aproximava, e em algumas horas, poderia ver em seu caldeirão, onde a água fervia, as labaredas ardiam e o odor fétido já haviam se acostumado em tal circunstância, de que os dentes aumentariam, a pele enegreceria com pelos grossos, e a insanidade tomaria conta. Este, ficara gélido e estagnado em sua postura. 
       O companheiro não demorou a pergunta-la as medidas proeminentes, ela riu, em um grunhido vil, atirou a água ervas e condimentos, a lua se esgueirava em seu brilho primordial, dando assim o seu protagonismo noturno. O fervilhar do caldeirão manteve por algumas horas, a quietude imperava e o crestar da madeira servia de tortura fulminante ao peito deles.
       Ao cair da madrugada, pediu que um deles buscasse um animal peludo e de intrínseca ferocidade em seu instinto, acerca de que até mesmo o mais medíocre cachorro da rua lhe serviria, exigindo que o homem com o espírito mau permanecesse no local. 
       O frio e as protuberantes nuvens inundavam a região, dificultando a visibilidade da lua, em sua maioridade alertando que o tempo corria em passos largos, de longe o que se podia ver é um feixe de luz e fumaça que provinha de onde o homem lobo e a feiticeira se encontravam, as diligências em encontrar um animal não demoraram até que conseguira um gato grande e negro como o vestido que compunha o aspecto medonho da que lhe propusera o sortilégio.
       Diante dos dois, entregou o animal arisco e feroz as mãos sujas e feias, em resposta ouviu que somente se o homem lobo fosse morto por ela sua alma lhe diria o segredo dos lobisomens, os olhos da feiticeira foram fieis aos expectadores, arrancou do outro fios de seus cabelos, e em um aperto firme de uma agulha colheu um frasco pequeno com seu sangue. Quanto ao animal negro, amarrou-lhe os membros e em sua boca despejou a viscosidade escarlata, dando assim um aspecto mareado em seus olhos misteriosos, o afogou em seu caldeirão, e jogou os fios de cabelo ao fogo.
       Questionada por tal feitiço, ela os revelou que os anos de vida do gato seriam somados a do gênio bom do homem lobo, sendo assim a incerteza de manter sua vida comum por muito tempo, e que o feitiço traria por causa a colisão do mau gênio com o bom, e assim que o mau vencesse os anos protegidos pelo sortilégio, jamais conseguiria novamente fazê-lo.
                                                    - Marcos Leite



quarta-feira, 9 de julho de 2014

Lampejos viventes


Perpetuamos os sentimentos em nossa existência, de memórias e gostos, velejamos a rumo da incerteza que a morte prenuncia, interiorizando a cada um a dúvida entre o esplendor, o fim ou o sofrimento. Um prelúdio divino a suntuosidade primaveril da vida, e a agilidade com que ela cavalga.
Somamos ao mundo como uma gota pequena que é condensada do mar dentre outras incontáveis, deliberamos nosso viver entre as conformidades comerciais e políticas, fazemos parte de um sistema, e o contornamos as vezes, com idéias brilhantes, a cegueira é o vírus que afeta grande maioria, mas identificar o merecimento de existir entre os acessos de repreensão e normas, nos expõe aos melhores arrebóis.
As texturas e cores denunciam as mediocridades discutíveis que asseguram a ignorância magna a aqueles que se propõe a manter em discurso, as improbidades sociais exultam o esfacelamento cordial da convivência, emitindo as pessoas a recusa, e a imposição do preconceito.  Caminhamos a séculos em busca da fórmula concreta da vida perfeita, e esquecemos de deixar para trás as reminiscências sóbrias.
Um combate de palavras, os argumentos esvoaçam desde o princípio da humanidade, e só são aceitos e tomados em proporções gigantescas da premissa ao poder, o tempo objetiva ainda princípios a serem seguidos, somados anos e grupos de homens, acometendo as tradições e a cultura, que fazem parte como o molho entre estrutura mais concisa das leis propostas a todos. Circulamos ainda entre as diferenças, de maneira igualitária a respeito de imposições. Traçados a caminharmos entre a bifurcação dos deveres e dos poucos direitos.
Como lampejos viventes atribuímos a vida em meros anos, trancafiar os sentimentos e desejos expõe a escuridão da infelicidade, destinar-se a desprezar as diferenças humanas em um ato vão ao combate, elucida a paz entre todo o caos que a grande loucura terrestre fomenta.

- Marcos Leite



 
 
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