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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Carta a minha querida esposa


Numa tarde de outono, estarei sentado no banco a espera de ver-te, com os raios breves do sol a iluminar o dia, desabotoarei minha bolsa e jogarei migalhas para as aves, permancendo assim no frio e na atmosfera dócil para meu peito e triste para meus olhos.
          Se encontrasse seus passos próximos a mim, trataria de compor uma canção com suas pegadas, retribuindo sua visita com meu generoso carinho. Impondo-me as leis da vida, ou quem diria enganando o tempo.
          Tombo em pensar que meus dedos estão velhos demais para uma serenata, e minha voz não é mais a mesma, apenas elucidarei a melodia, fecharei minhas pálpebras úmidas e pensarei em você.
          Jamais cumpri minha promessa, uma culpa que levarei até o fim, estender minha vida e deixar-te do outro lado da margem, meu veleiro vai mal, estou a ponto de naufragar, ainda sabendo que estou aqui sozinho, mas não pude realizar tudo, você se foi e uma avalanche em mim, iniciou.
          Intimidaria contar-te que hoje em dia não se vendem mais leite em frascos de vidro? Ou que o café e o trigo são vendidos em sacos plásticos? Sorriria ao ver as caixas de leite, são práticas, mas o leite parece não ter o mesmo sabor.
          Está chegando, é, ainda há tempo de pensar no que, mas o que posso comprar? Depois de amanhã, não me esqueci querida, o aniversário de casamento, tratarei de encomendar belo buquê com tulipas azuis, suas prediletas, e também algumas rosas amarelas para enfeitarem.
          Já é hora de me apresentar novamente ao meu local de convívio, com pessoas das quais não conheço, alguns simpáticos, e outros um tanto ranzinzas, mas tenho paciência com eles, sempre em meio de minhas leituras pensei como é triste a perda do intelecto, então não as menosprezarei.
          Estou com o peito cheio de saudade de ti, hoje vejo que o passado é um laço de fita, e o presente é apenas o nó. Mas o futuro é desfazê-lo, e sinto que não perdurarei muito tempo por aqui, não que não goste, mas já estou cansado e velho, mas em meu coração tenho as belas lembranças e a paz divina. E peço que não te estribes de meus pensamentos, pois, se vivi até hoje, foi apenas por pensar em ti.

         - Marcos Leite

Um comentário:

  1. Lindo e emocionante ler, tua inspiração se funde entre o real e o imaginário, e viajo junto no tempo em que escreve a carta, Marcos, sucesso, você realmente merece, bjo.

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