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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

M. Leite, Freud, Moisés e São Lino


Meticulosamente abranger opiniões arbitrárias de searas de contestações, implodir ou catapultar opiniões de mestres e ícones, a versatilidade mental em contexto com a grande populosa opinião, ou quisera a síntese restrita na fé interior.
Indulgência mundial seria uma ótima correnteza para o mar, se bem que todos os questionamentos e teorias sejam incompatíveis, o mar realmente esta poluído de óleo e água, a tênue que os separa, talvez o limiar das opiniões controversas que permeiam os seculares, extremistas e bobos.
Quisera eu estar entre Freud, Moisés e São Lino o #2 Papa numa mesa redonda para conversarmos e acrescentarmos nossas opiniões quanto a crenças, poder e presunção. Acredito eu que São Lino estaria com a melhor seda, ou melhor tecido em suas vestes, Freud com uma certa soberba, e Moisés, com sua singeleza e tenacidade. Bem pudera eu estar da maneira que eu quisesse, de bom grado ou não, a roupa não vai mudar minhas idéias e as atitudes.
- Caro Freud, hoje vejo que há alguns anos tem se questionado do quanto tempo as pessoas tem perdido com a fé e crendo em um Criador?!
- Moises querido, já você zombam o quanto de mito seu legado deixou e quantas pessoas se sentem em êxtase ao pensar que você sequer existiu e o que a bíblia retratou foram pessoas sem inspiração divina!
- São Lino, sua santidade! Que honra tê-lo em minha mesa o qual grado e bom interesse o trouxe aqui, deixando todas suas regalias e o conforto para sentar-se nessa banquetinha de mogno de segunda linha.
Uma intensa e voraz discussão sobre a existência da humanidade, crenças e sapiência. Creio que deliberadamente Lino tenha ficado do Lado de Moisés para afetar Freud, porém ele com toda sua coerência e sabedoria tenham travado um belo duelo. No entanto Moisés como fiel filho, aposto minhas fichas que não tenha se corrompido de sua fé e convicção, apesar de que certos motivos e perguntas que fizera a Freud e Lino não o tenham respondido. Ah! Mas também pobre Papa, foi massacrado com tantas questões sobre erros e recursos financeiros, quiçá compreendeu o quanto difícil deve acompanhar uma nação com diversidade religiosa.
- A indulgência dos cavalheiros deve ser melhorada meus caros, não se pode fazer com que alguém pense ou creia da maneira que um ou outro pense. Voltamos para a lei da liberdade, se cada um pensa que a pedra é o infinito, tomara que as eras não a mudem de estado, e que no fim não a torne terra. Ou quem sabe se a eternidade existe, se fizeres o bem e andar no caminho correto, não desviando para esquerda nem para direita, conseguirá êxito. E pensarmos também que não existe nada, somente viemos do pó e voltaremos para o pó e não existe nada além da morte ou mesmo que a terra veio de uma explosão, é melhor aproveitar para gozar da vida enquanto pode, pois 45, 60 ou mesmo 89 anos creio que não tardem a passar.
- Sir, M. Leite a convicção vem de cada um, estou correto? – Freud
- A vida na terra é um sopro! – Moisés
- Terás de confessar suas palavras se tiveres o coração mau! – Lino
Tempos e contratempos, dizimados pela própria língua, quantos estão feridos, famintos e com dor, alguns realmente pensam que isso tudo é culpa de Deus, um tanto hilário e ignorante da parte de quem tem esse pensamento, a conduta dos governantes e pessoas de Estado nada tem a ver com obras do Senhor, acusar com o dedo inquiridor e fumegar a importância das coisas da terra contra a fé das pessoas, de nada vai adiantar.
Se crer e ter fé na criação mas de modo que afete o relacionamento com outros é como jogar uma pedra na água e esperá-la flutuar para pegá-la de volta, isso não vai acontecer. O respeito a diversidade é necessário, independente da lei de pregar ao próximo, se fizeres isso e não obter êxito, não quer mesmo que a outra pessoa tenha disponibilidade e paciência para você falar a mesma coisa. Tentar é necessário, já obrigar...
Um tanto saudável meus honorários convidados seria todos nos darmos a mão e agradecermos pela comida, no entanto não quero zombar de ti meu caro Freud, mas ás vezes uma pequena brincadeirinha não vai nos afastar e sim tornarmos mais sociáveis.
O temor ao Senhor é a mais bela das coisas, fechar os olhos e clamar, e saber que cada voz no mundo é diferente e Deus sabe cada uma que clama, ora ou blasfema. Certas condutas terão o julgamento, bem creio assim, espero senhores que não me questionem, assim como não pretendo alfinetar com qualquer tipo de escárnio suas afirmações.
Se realmente Freud estiver certo de que a religião é uma neurose, creio que grande parcela das pessoas estejam em tratamento, com minhas mãos colocadas sobre as suas e olhando no fundo de seus olhos meu amigo, digo que mantenha sua opinião diferente da minha, e que nossa amizade não se corrompa por isso.
Entre vocês dois aí, sinto um clima de intriga, não se pode caracterizar um pelo outro segundo a fé caros, Moisés você teve o privilegio de uma maior comunhão, já Lino teve de passar por todos os dogmas da igreja, seja eles errados ou não, não sou eu que vou julgar isso.
Requisitadas presenças tenho hoje comigo, e isso posso me vangloriar para sempre perante aos outros da sociedade e amigos, quem já esteve com vocês três ao mesmo tempo? Não apelo para nada, só sou grato ao despenderem de tempo para entrosar nossa amizade e relação, peço que não saiam aos quatro ventos me chamando de herege, prevaricador, ignorante ou mesmo dissimulado. Seria de péssimo tom!
O que deixo a vocês é o amor, a lei da vida, para poderem alcançar a paz e a felicidade, sem necessitar utilizar das línguas ferinas para impor sua opinião, melhor tocarem a mão um do outro e fazer um gesto de tolerância e respeito com a cabeça. O tempo passará igual para todos, o sol e a noite serão idênticos. Você apegar-se a rancores e ódio por conduta de outrem não vai te adiantar de nada e sim trazer uma doença degenerativa causada por esses sentimentos corrosivos.
Sir. Sigmund, grande Moisés, sua santidade São Lino, meu agradecimento!

- M.leite

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Natais


Envoltos na atmosfera natalina estão pessoas de todo o mundo, usando de seus dotes artísticos para enfeitar as árvores de natal, guirlandas, ruas, praças e empresas. São muitas luzes para todo o lado, pelo alto, nas varandas e na TV. Quanta festa para chegada do velhinho e seus presentes. Para alguns isso é realmente verdade, adentrar-se no clima, para muitos isso já se foi, o Noel não existe, mesmo quando criança sequer fez visita alguma.
Há muitos Noéis espalhados por ai, presenteando e sorrindo, alguns até tiram fotos, e em todo shopping estão lá com seu sorriso largo e generoso, abraçando criancinhas e alguns marmanjos também. Que natal legal, cheio de luzes, presentes e fartura.
Há também o natal do desapego, das chuvas e da solidão, pessoas nas ruas, crianças, roupas maltrapidas, fome e choro. Essa grande noite de 25 de dezembro é comum como qualquer outra, tendo que lutar por centavos para que a fome e a morte não o traguem de vez. Nunca tiveram o vermelho, nem o verde e nem o peru. A vida atormentada e vazia, entre o sopro dos carros, e a visão da beleza e felicidade das outras pessoas.
Jesus, o Senhor, poucos recordam o propósito do natal e deliberadamente usam de uma festa de devoção para gozo de lendas e mitos criados pelas pessoas que duram anos e anos. Não os julgo como prevaricadores, pois grande parte da culpa é a ignorância.
O natal, lembrança da estrela que brilhou na noite do esplendor, entre os animais e as palhas, de toda singeleza e humildade o menino Jesus nasceu, mas hoje não é mais menino e há muito tempo deixou de ser.
Enquanto o mundo corre em busca dos melhores presentes, algumas pessoas correm atrás do pão de cada dia, outros oram, outros viajam e alguns adormecem. Os natais são diferentes até mesmo dentro de uma casa só. Quem perde e quem ganha?
De natal todos já estão fartos de ver o trenó e o gorro, mas ainda podem descobrir o real motivo, algo um tanto fácil de saber e abençoado de conhecer. A vida se renova e olhar para dentro de si nesse tempo é mais que necessário, ver o quanto julgou o ano todo, quanto gostaria que as pessoas fossem como você e adoraria que todos tivessem o natal perfeito que tem. Mas o mundo não é bonzinho e o consumo jamais deixará de ser nivelado pelo poder aquisitivo.
Feliz natal para você que está sozinho entre os escombros, feliz natal para você que ganhou dez presentes, feliz natal para você que está na UTI, feliz natal para você que glorifica ter sido presenteado com a vida.

- M. Leite

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Estranheza

 
Sozinho, á noite, solenemente quieto e baldio, as estrelas não existem mais, nem mesmo a relva tem cor. Os grandes pensamentos estão dissipados no ar, a mente se parece uma escadaria sem fim, grande, extensa e insegura. Quantos caem, como se cada neurônio fosse um indivíduo subindo simetricamente os degraus pequenos e escorregadiços sem apoio ou corrimões, parecendo mais uma festa de fogos de artifício ao invés de atingirem o topo das escadas mentais que ficam entre as nuvens do seu próprio intelecto confuso e misterioso.
Estranheza pensar que quem sabe não sejam escadas  e sim engrenagens lisas e engraxadas vacilando o tempo todo sua pueril intenção, sem resguardar a lucidez ativa de uma grande e robusta árvore de pensamentos conectados.
Indagações sobre o amor que jamais terá novamente, seus traços belos de linha impecável com maestria e garbo invejáveis, pernoitam qualquer mente que possa lembrar ou reconhecer seus olhos. Ah! Maktub?
Libélulas que sugam seu corpo de energias vitais e claras, libélulas verdes, libélulas azuis, libélulas, libélulas. Quem são vocês nesse espaço macabro?
- Intensa sua questão Sir Jones!
- Não sabia que tinha todas essas qualidades!?
Ah! Calhordas maculados fechem suas bocas porcas e imundas, deslizem suas mentes e corpos para uma caldeira fumegante e façam um favor a vocês mesmos.
Mente esquizofrênica, surreal, sarcástica, pútrida, amena, indulgente, colérica, quais são os outros adjetivos dados pelas pessoas. Um grande e titânico fardo ou um fio de barbante para carregarmos.
Ah! Escritores quem da importância para eles, se acham sempre os mais espertos, mostram o quanto pensam e usam do intelecto, a vida fica marcada nas letras, mas o que isso importa!? Imundos!
Notas e mais notas, odeio esse som, quebrem e incinerem esse instrumento, mesmo que seu feitiço já tenha sido lançado em minha mente e não consiga mais deixar de ouvi-lo em meu interior. Eu grito, soltem as cordas da fera, em umas de suas cabeças ele irá abocanhar Chopin, e deixará  todas suas notas no ar.
Escute, escute, escute, se falares mais duas vezes saberei que é uma zombaria. Se todo esse escárnio for para me incomodar, prefiro que não me chame, pois você não me faz mais feliz. E quiçá houve sentimento, atmosferas lúgubres o transportaram.

- M. Leite

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Cemitério Medina


Defronte ao grande portão de ferro com pintura descascada estava eu, sozinho, á noite, e observando quantas letras tinham o cemitério Medina próximo ao lago das laranjeiras. Eram letras torneadas e grossas, feitas por um artesão da cidade que o próprio local já o tinha consumido, o que restara desse velho eram as letras da entrada do Medina.
Um passo relutante que não queria ter, usar dessa maneira para ambientar-me a atmosfera pútrida era o que em meu peito não queria ter, mas, sim a ordem mental de trocar alguns passos entre os sinuosos e lúgubres corredores. A noite espessa e afogada por nuvens controversas de um sopro que vinha do sul e na terra calmaria, assim como a terra molhada e os olhos que ali pertenciam anos e anos maculados.
Não era nada de se contestar toda a vibração tendenciosa que atraia todo e qualquer corpo para dentro desse poço escuro, a curiosidade de enxergar o quanto não sabemos sobre os que já se foram, os esquifes escondidos, saqueados e as tumbas escoriadas por unhas de outrora.  O céu apenas dobrava seu olhos para mim, naquela noite onde a lua era uma soturna aliada desde o manto branco que envolvia as árvores até seu semblante agonizante.
Após entregar o óbolo ao porteiro de marfim adentrei ao caminho negro e baldio das intermediações e observei velas e quietude, o vento tomava força contra elas, mas resistiam a ponto de se restabelecerem facilmente. Minha intenção não era fazer parte destes aqui que jazem há anos ou há horas. Sim encontrar paz em meu espírito.
Julgo que estivera com a pele pálida como uma seda Indiana e pés firmes como de um cavalo forte. Sem vacilar aos que os outros temem e chamam de fantasmas. Fantasmagórico era o aspecto singular da capela, a cabo de paus envergados, telhado de telha fina, porta e janelas diluídas pelo tempo e a chuva. Sem vitrais ou maçanetas. Havia mais insetos e vermes do que um altar ou bancos, era uma capela esquecida, após a morte do coveiro, dissimulada pela população um suicídio sinistro, com o uso de ossos e crânio de sua antiga e finada amante, Julia, a chamavam.
De toda minha estupidez, a estapafúrdia idéia de me colocar perante ao doce local onde minha querida sobrinha descansava, fez-me questionar quantos dias passei sem a visitar e como ousei deixá-la  a minha espera, estava tão negra a terra de tristeza que meus sapatos se adentraram a viscosidade úmida da terra e eu sabia que os olhos dela choravam.  Querida e dócil sobrinha, morta aos treze, após beber eserina no chá misteriosamente, ocorreu no inverno de 1935, quando ainda havia em seu corpo um ventre juvenil e intacto.
Havia mais de uma década que a deixei enlodada naquele imundo terreno com pessoas que jamais vi e pássaros de olhares sugestivos. Esqueci quantos dias mais teria de tentar conhecê-la, e usar de minhas artimanhas para ganhar sua amizade, seu amor e carinho, como sinto saudades da minha jovem e loura Ana, que em seus pequenos dias já estava numa festa entre os burgueses da região e nos braços de minha querida Irmã.
A noite era tão longa e extensa como um livro maltrapido e inconstante de um mero escritor de botequim que ganhava sua vida com romances e contos feitos entre a volúpia feminina e o teores alcoólicos demasiados, próximos aos esgotos e subúrbios infestados de ratos e as boas intenções do mundo.
Era uma aposta feita com minha bengala de que seu vacilasse uma só vez ela poderia me asfixiar deixando sem ar e me entregando aquele local, se ocorresse de me descuidar e trepidar em uma vala aberta, caindo, eu de bruços e sustentado apenas por ela em meu pescoço a ponto que somente içado por dois ou mais homens escaparia de meu triste fim.
As respostas de meu inconsciente não entregavam para mim mesmo uma súmula de minhas arquitetadas possibilidades de me tornar um grande e superior homem, sabia que ali onde estava era um lugar de descanso não era de me surpreender se uma hora ou outra eu fosse tragado para o chão ao preço de reinar o silêncio pretendido. Minhas mãos estavam gélidas e passos vagarosos circulando o tempo todo ao pensar de como e quanto tempo despendia meu interesse alheio das convicções passadas de muitos que ali passaram.
Ao cabal ato abaixei a tentar sentir o cheiro das rosas murchas entregues ao lado de onde Ana jazia há vinte e quatro anos, sentir o frescor e o som sereno da terra, observar a umidade escorrendo entre os grãos da terra e saciar minha sede de estar próximo a minha amada sobrinha. Encostei meu rosto, a maça tocara o chão, frio e pastoso, fui adentrando as entranhas esquecidas e invadindo o que estava escondido ali, entre uma festa de algazarras e assovios em minha mente sobre o frescor que meu corpo absorvera veemente. Podia já sentir alguns ossos duros, mas não podia os vê-los, já estava estagnado e prostrado face a face ao crânio e Ana, se era realmente o preterido não sei, mas presumia pelos cálculos mentais. De longa e abrupta insistência do solo de me acolher, eu perdi a luta e abracei minha querida, onde com grande entusiasmo sempre quis estar.
Sem me dar conta, adormeci para o sono dos mortos com um traje elegante e caro, sem me questionar qual foi a intenção de assassinar minha querida que hoje me abraçara tão carinhosamente. E por qual motivo usei de minha sagacidade para atraí-la para casa dos fundos da mansão e convidá-la para um chá, se todos na casa já estavam dormindo e eu seminu esticara meu braço para acolhê-la. Hoje creio que ela tenha me acolhido em seu seio com toda e bela reciprocidade.

- M. Leite



sábado, 10 de dezembro de 2011

Recadinho amarelo


- Ei! Já recebeu uma carta de amor?
- Ah! Não me lembro, mas bilhete sim!
- Era interessante?

A carta ou bilhete, era amarelo.
- Com fotos?
- Não, não, era um bem ajeitadinho.

- Oh! Com certeza era muito bem escrito!
- Que nada, a letra era escarranchada.
- Num bilhete de conquista?

- Não importa, o que importa é o conteúdo.
- Ai! é indiscreto, mas me conta vai, o que tava escrito?!
- Susi, eu te amo!

-  M.Leite

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Noely e as azaléias


           Algumas margaridas enfeitavam o canteiro, delas havia muitas, algumas vistosas e outras velhas, era um jardim um pouco desleixado, não contrataram nenhum jardineiro, e também não era tão necessário, ela gostava também de ver as flores velhas aquelas que já tiveram sua altivez e beleza quando jovens, era uma falta de respeito arrancá-las apenas por estarem mais velhinhas.
- Chico, poderia me ajudar com as daninhas? Elas incomodam muito as flores e deixa o cenário todo carregado. Se também puder vir aqui e regar um pouco os ramalhetes, mas sem tocar nos ninhos dos pássaros, eles são um tanto desconfiados.
         Noely e Chico, era um casal singelo e bonito, com muita dedicação um ao outro e ainda não tinham filhos, o matrimônio era recente, mas o namoro que tiveram perdurou um grande tempo, até que então um anel adentrou o dedo da moça de olhos castanhos.
         Sua paixão era por azaléias, as belas e sedosas flores, gostava de todas, enfeitava sua casa e seu jardim com elas, as tratavam como filhas e sequer deixava Jubo, o cãozinho estraçalhá-las. Todas eram muito bem regadas era como se fossem o sorriso da dona. Coloridas, algumas rosas, vermelhas, roxas e brancas. Apesar de ser caule e folhas serem revestidas por uma camada mais áspera, como se fossem pêlos, as azaléias eram bonitas de toda sua composição, desde as pétalas desenhadas até as pintas interiores.
         Noely não era muito dessas pessoas atualizadas, com celulares e redes sociais, ela tinha outros interesses, era uma ótima doceira, e sempre teve aptidão para música, quando mais moça tentou aulas de flauta doce, mas com o trabalho e os estudos contravieram, não tinha como se dedicar.
         Algumas amigas escolheram rapazes ricos, outras tornaram-se professoras, e outras até hoje estão nas esquinas comentando e rindo das pessoas que passam. Ela escolheu viver em paz, com seu marido, uma casa bonita, um cão e ter sua vida entre as azaléias e o amor dos seus pais, irmãos e amigos mais próximos. Sem a necessidade de se moldar ao que todos acham correto e moderno.
         Após anos corridos, teve filhos e netos, a vida soou como uma luva, nunca se queixou das barras e das tristezas, algumas vezes teve oportunidades boas, uma ou outra boa e muitas erradas, não se estropiou, a vida que Deus lhe deu foi boa, apesar dos anos terem sido como um sopro, Noely soube escolher as azaléias em vez da cobiça.

- M.Leite

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Rotina




Os olhos semi-cerrados
Bocas abertas como uma elipse
Trejeito desacelerado e preguiçoso.

Os raios brilham pela janela
Obrigações que lhe aguardam
Espelho que zomba, o tempo evapora.

A noite o lar te aconchega,
A cama lhe acaricia
E o beijo de um carinho te alivia.

- M.Leite
 
 
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