Parte 1
Quando olhei para o vento, vi que
as jabuticabas estavam amontadas sobre os galhos e muitas crianças ao redor e a
colher, percebi a distância, em que meus pensamentos flutuaram entre o passado
e o presente, e aqui estou, mais velha e adulta. Oh! É como se uma tarde de verão
acometesse aos meus dias áureos, e assim perpetuasse aquele momento. Embora, eu
esteja prestes a comprar um pouco de cenouras e tomates, há ainda a salada para
fazer. Mas ainda percebo que isso tudo não se esgueirou de mim, estou aqui,
e a luz que transpassa as folhas me
fornece a gentil companhia, e essas crianças sujas e sorridentes fazem
perscrutar meu interior.
As
cartas empoeiradas... De repente lembrei-me delas, ri e chorei, estou solta
nesse mundo sem aspas ou pontas a aparar, o mundo se esquivou e eu me perdi. Se
importassem todos os méritos que adquiri até hoje, eu estaria sorrindo ao invés
de largar meus pés e sentar, questionando o porque do destino e as interferências
ocorrerem de modo a atrapalhar os sonhos de uma pessoa, assegurando somente o
amargo sentimento de frustração. Muitos insinuaram que tive oportunidades, e a
melhor forma de tudo se solucionar é acreditar e correr, mesmo que seja pelos quarteirões.
Um doce
de nozes, tortas e cremes, são tao fáceis de serem feitos, se pudessem provar
um pouco de alguns, uma contribuição generosa, exerceria um favor as tuas
memórias, as vejo assim, participei de coisas, e cá estou a pensar, que as
nozes me lembram do sabor adulto, o que jamais abracei quando menor, o morango
sim era meu predileto quando jovenzinha, e como o tempo e as condições climáticas
não só mudam a vida vegetal, mas a mim também mudou. O frio faz parte de mim em
muitos casos, e o gosto adocicado da fruta vermelha mais famosa, se foi.
Assim
que as aves voarem para o sul, sondarei mais casacos, e o de sempre, gengibre,
me faz bem. Acontece as vezes que pensar em todas essas mínimas coisas são tão inúteis
e requerem meu tempo e a ocupação da minha mente, acima de tudo, acho ao menos
que estou pensando, alguns sequer fazem isso. Há muito do que desvencilhar de
meus dias mais escuros e brancos, não como um tabuleiro de xadrez, mas a
caminhada de qualquer homem, ou mulher
no meu caso, é mais incerto do que posso deduzir. Hoje tenho sapatos com
plataforma, há alguns anos, entendia realmente do tato, sabia quando pisava na
areia, grama, terra ou nos paralelepípedos, não havia meias ou sapatos, andar
descalça é o que me lembro agora.
O som
do fagote é extremamente irritante quando teu vizinho é um principiante
qualquer, o estorvo é tao constante que até a massa de meu pão ficou
engordurada, e já nem entendo mais o dialogo da novela vespertina, torço para
que se acomode e sua disciplina se esvaia entre os soar do instrumento, assim como vão para as nuvens e os querubins devem estar esgotados de paciência.
A tendência
feminina de me tornar uma senhora mal humorada é calculável, todas as coisas no
mundo são medidas e anotadas, um núcleo de pessoas e a matemática unem-se e
criam a estatística, a qual é seria, caso prefiras fazer parte dela, os números
estão espalhados por todos os cantos, dizem por ai que os homens estão vivendo
mais, as pesquisas sobre curas, há inclusive números que mostram pessoas que
quebram tabus e outras que os fortalecem, calcula-se mais do que pensas, até o
numero de pensadores pode ser mensurado, mas de que adianta? Se o que tens eu
teu interior não ultrapassa nada além de teu próprio viver, és totalmente responsável
por eles, e ainda talvez se enquadre em alguma esfera estatística, pois bem,
não disse anteriormente que tudo pode ser medido? Talvez, se perturbarem meus
dilemas com transgressões ou confusões, então não poderão me medir, serei única,
o que neste momento vejo que sou.
Quando a primavera vir, posso ter um pouco menos de angústia ou felicidade, os
sentimentos parecem estrelas cadentes, nunca se sabe o momento certo, contudo,
a plena certeza que elas estão ali. E pode ser que as veja, ou que vire o
pescoço no exato momento, quando chegar a primavera não quero estar com a cabeça
inclinada para o lado. Uma folha macetei entre o polegar e o indicador, elas
lembram a vida, mas são fedidas como a vegetação sem cuidados, selvagens e
verdes, gosto de sentir o cheiro de folhas espremidas pelos dedos, habituei
meus sentidos a se comportarem sincronizadamente, há memórias abertas.
- Marcos Leite
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário