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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Viagem ao Oriente

         Nos comboios dos caminhões velhos, com os nativos, alguns sem os dentes, dois com a pele negra de tanto sol, embora a pigmentação do rosto fosse alva como a minha, mas o árduo trabalho ao sol desenvolveu tal característica. Há alguns balaios, com futas, animais sem vida e fumo, muito fumo, a economia deste povoado não é tao rica, e estou numa posição confortável, sob a lona da carroceria e a fuligem, a fuligem da terra, a poeira, a misteriosa poeira que ergue-se sobre nossas cabeças e levam os suspiros e as lamentações, caindo por terra e extirpando a dor para o ar.
          Nada aqui é tao gratificante quanto a refeição, se pudesse escolher, não olharia para os cantos e os vãos das casas nesta cidade, creio que esteja no oriente, mas não sei onde, um lugar onde se comem frutas e insetos, pessoas que brigam por comida e o luxo não é conhecido pela maioria.
          Há trabalhadores, muitos, autônomos e malucos, vendem remédios para a angústia e também haxixe em todas as singelas barraquinhas montadas, é o comércio negro e obscuro, sem a fiscalização, direitos ou devoluções, o que nos torna sagazes a primeira escolha, podes ser derrubado, mas em algum momento sua ignorância preliminar, aprenderás o ritmo do mundo. O que lhe apetece produz um desejo singular em seu peito, mas seus olhos não podem demonstrar, o negócio deve ser indiferente a vontade, pois os preços dependem de sua empolgação.
          Caminho as vezes pela terra molhada, areia da praia e algumas vezes pelos paralelepípedos de cimento, fortes e rígidos, não tão solido quanto os de rocha, porém simétricos e planos. Conhecer alguém por aqui entre as ruas lhe requer atenção e malandragem, o ocidente não conhece o oriente, pois, onde jorra o leite e o mel, jamais terá a maldição dos corvos ao mesmo tempo.
          Não sei ainda quanto tempo ficarei por aqui, um país diferente do meu, com pessoas e carros desgovernados, talvez seja atropelado e fique por aqui minhas últimas horas, mesmo com a imponência dessa terra, não pertence a mim e não a conheço, nem mesmo o nome sei.
Se for entender o que querem me dizer o tempo todo ficaria maluco, as religiões e a cultura imposta tão fortemente, faz-me recordar um ato malvado no Brasil, colocarem os pássaros em gaiolas miseras de espaço e atribuir-lhes comida, e água, com o mimo de poder ouvir seu canto a qualquer momento, como um prisioneiro, embora não tenha palavras para expressar, é o canto negro do lamento que ecoa entre o sofrimento e a angústia de ser fadado a cumprir uma pena que não lhes pertence. Sinto me assim, entre as palavras e a loucura destes homens, assim como os pássaros possuem a imensidão ávida dos céus para seu voo glorioso, teria eu a liberdade de viver sem a dureza deste lugar?
Rogo para que a justiça seja borrifada das nuvens e ao alvorecer me encontre em paz e sorrindo, gostaria de estar na plenitude do manto verde da America, colorindo meus olhos com tanta imensidão de beleza e imponência. O colosso do mundo mundo, florão e coração de beleza mundial, sinto-te falta Brasil.
Estou vivendo cada dia com mais certeza de que tudo que vivenciei não passa de uma pena entre milhares de outras de um grande forro para travesseiros, sou pequeno e jovem, e percebo que toda a idiotice no mundo não passa apenas de pessoas induzidas e enganadas pela estapafúrdia de outrora que fora traçado um passado maculado, todavia sua macula é motivo de glória e comodidade, como os trocadilhos nos beijam neste momento, se sempre foi assim, por que mudares agora?
Fecho minhas pálpebras agora e assopro um dente-de-leão e que as suas centelhas de vida caminhem para lugares onde querem ir sem que ninguém as segurem, e assim, as entrego a liberdade.

- Marcos Leite








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