No horizonte onde as nuvens beijavam o sol e a claridade do céu era mais fosca que a fumaça de meu cachimbo, olhava firmemente esse largo e espaçado local, entre as ondas e trancos, o cheiro do mar e o costume de me sentir salgado o tempo todo, em comum já tinha me habituado.
Era manhã de domingo, algo nada diferente quando se está num navio, a única coisa grande que meus olhos podiam ver era a imensidão das águas e os peixes içados pelas redes. Uma tripulaçao pequena, com trinta homens a bordo e muito trabalho.
Ansiosos por aquela noite, o que pouco visto aconteceria, a estação entregaria a aliança para outra, e o portal se abriria, e estavamos atrasados, quem sabe um milagre de ventos nos fariam correr, ja era de se esperar pela outra estação, não a seguinte, mas a próxima, com quatro meses de diferença, muito teria de explicar.
- Capitão ventos do sul trazem uma branda tempestade. Mas o sentindo é contrário nosso, provável que mergulhemos para as profundezas se opormos contra a bravura do mar.
- Disso já sei Simão. Vou esperar que as baleias nos carreguem.
- Não é hora para chacota, o que faremos?
Com os dedos grossos sobre o cachimbo, o tragou e soltou toda a fumaça, baixou a cabeça e deu alguns passos até o para peito.
Quantas vezes já passei por aqui, milhares de peixes pesquei, dias e mais dias entre o sol e a chuva, o que posso fazer com uma ação tão incontingente do oceano. Terei de prestar contas. Maldito seja aquele nevoeiro do Indico, Maldito! Se não fosse por ele estaríamos a boca do rochedo. A luz não vai me encontrar se eu vacilar dessa vez, que patife fui, medroso e burro. Era névoa. – Pensou consigo mesmo.
- Ergam as velas, limpem o convés e estejam preparados para a tormenta. Somos ou não piratas?
De assalto entrou pela porta da cabine e cambaleou até a mesa, com os lábios tomados pela rigidez do cabo do cachimbo, seus olhos voltados para o mapa e uma garrafa velha de rum. O que lhe restava era ser engolido pelas águas tempestuosas que deglutiriam o Mademoiselle.
Vestido com calcas até os joelhos, chinelos de lona e uma camisa de botões, entrou também onde o capitão estava para relutar sua ordem:
- Que é Simão! A que tenho a honra de sua visita.
- Espero que tenha plena certeza do que está fazendo! – Com destreza respondeu.
- O que quer que façamos? Que ancoremos o navio e esperemos a própria ruína? A não ser que queira voltar?
- Voltar era o necessário, mas não sei como terei de dar imaginação a minha própria mente na estação que virá. Claro, não nessa e sim na outra caso não obtenhamos êxito.
- Acredita na Bruxa da tormenta?
- Quando pequeno sim, já com quase três décadas nas costas esses mitos já se dissiparam.
- A pagamento é sua cabeça!
- Minha cabeça?
- A de quem a invocar seu tolo.
- E ela não aceita um simples fardo de milho Sir Capitain!? – Com o escárnio nos lábios, Simão proferiu.
- Cale-se! Não seja estúpido. Estamos a três milhas do rochedo e continua com toda sua inerente mesquinharia. – Alterado e veemente colérico Canebre o xingou.
Continuando explicou – Ela pede sua cabeça, caso a invoque e não consiga fazer o que é premeditado. Posso esmiuçar melhor, cada tormenta dessa região a Bruxa se esguia sobre os sons dos trovões e entre as nuvens a espera de um rogo, porém aquele que a chama deve estar certo de que sua vida corre o risco caso falhe, em outras palavras caro marinheiro, se não conseguir atravessar o rochedo com a ajuda que ela dá, o sopro das nuvens para o sul. As águas brandas se acalmam, mas és tragado para o sono daqueles, aqueles das profundezas, entende?
- Porque o grande senhor do navio não o faz?
- Hoje a noite esperarei você na proa, e então rogará pela bruxa!
- Estou certo de que sua idade chegou, anda um tanto caduco e debilitado. Que estapafúrdia!
Saiu da cabine com um certo sentimento de raiva com sabor de dúvida. As velas estavam retas e lisas como uma folha de papel, o convés escovado e os homens cansados esperando silenciosos para o que ocorreria com todos.
Mademoiselle era um dos poucos que exploravam as águas do Indico, o oceano misterioso, tinha uma envergadura comum entre os seus, sua bandeira laranja e anil era o que o diferenciava dos demais. Um aspecto grotesco, velho e negro. Podia ver até mesmo um sorriso macabro ambulante nas águas, o que se parecia visto de longe.
Prudentemente os marinheiros olhavam para as águas com a única e pura esperança que baleias ou um grande cardume os levassem de forma rápida, mas era pouco o que faziam, por mais que quisessem não tinham remos e o vento era seu inimigo. A tarde lentamente ao som da gaita passava, aquela gaita que ninguém podia conter, como um lamento diante a uma derrota, o que sentia mesmo era isso, ela era fiel, mas o gaiteiro presunçoso.
- Que tal cessar todo seu choro?! Que sabe de derrota ou vitória?!
- Sei mais do que vês embaixo do umbigo feminino! – Disse severamente.
O tom nada moderado da conversa entre dois tripulantes não podia ser do mais agradável, assim a gaita não cessou e uns e outros dormiram e se embebedaram de rum.
Continua...
- M. Leite
Have a SUPER weekend, Folheta!
ResponderExcluirShow! Histórias de piratas são muito boas, principalmente essa aí. estou curioso por mais :)
ResponderExcluirAlguns poemas de Fernando pessoa e agora roteiros dele descobertos apra o cinema, se passam em barcos. O mar e seus mistérios. vlw.
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