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sábado, 27 de agosto de 2011

Romance do interior


Era de manhã e o dia ajudava, o sol era forte e compartilhava de um calor gostoso e vibrante, o dia era como um daqueles em a que primavera entrega a jóia da estação para o verão, o verão feliz e sorridente recebe da bela e delicada mão da primavera a jóia brilhante e generosa, a aliança das estações. O rumo do dia era o melhor, pássaros e flores, árvores vistosas e algumas casas, o vilarejo era receptivo e charmoso. Tinha algumas casinhas espalhadas, meninos e meninas brincando pra lá e pra cá. Alguns cachorros na rua, o laticínio soltando fumaça e trabalhando assiduamente, os caixas do banco com pessoas, a igreja sinalizando as horas e na praça pessoas andando, trabalhando e passeando.
                Ceci era uma menina gordinha e baixinha com seus poucos anos de juventude, era inteligente e simpática, estava ela e suas amigas, Marina e Joana, conversando e pensando sobre os meninos bonitos e que iriam fazer na festa que estava chegando.
- Joaninha, você viu que o Dudu está te olhando cada vez mais?
- Ah gente, para! Ceci ainda não percebi, mas que eu acho ele uma gracinha, eu acho.
- Hmmmmm! – Exclamaram Marina e Ceci.
- Ué! Ele é bonito, muito educado e charmoso, eu adoro quando ele me olha e sorri.
- E vocês? – Perguntou Joana.
- Bem – disse com euforia Marina, eu gosto do Guilherme, ele é alto, forte e me escreveu duas cartinhas já.
- Sério?
- Serio, e disse ainda que queria ser meu namorado.
Houve uma algazarra entre as meninas, pois namorar naquela idade era algo tão novo e interessante, enquanto algumas namoravam, outras sonhavam com isso, e outras também pensavam mais nas bonecas e maquiagens.
- Ceci, e você?
- Ah! Joaninha eu gosto do Flavinho, ele um dia já falou que me achava jeitosinha. Mas não sei se é verdade, ele acho que ficou com a magricela da Aline.
- Para de bobeira Ceci, você é linda! – Disse Marina.
- Linda como um sonho de padaria. – Ceci exclamou com certa frustração.
A entrada da festa já estava coberta com bandeirinhas, com algumas toras de madeira fixas no chão, entre elas tinham uma grande roda de boi, circuncidada com ferro, e havia furos em seu interior. A entrada do parque onde a festa começaria também tinha uma grande faixa onde se lia, Grande Festa do Doce, essa festa era famosa por diversos doces oferecidos pelas quitandeiras e doceiras da cidade. Havia uma disputa e como  mérito um troféu para melhor receita da cidade. No entanto, os gados, cavalos e animais de pequeno porte também faziam parte, como uma exposição em menores proporções. O Palco era modesto, mas geralmente apresentava alguma dupla sertaneja e uma banda para os mais jovens divertirem.
- Gui, o que você acha da Marina?
- Eu acho ela uma belezinha, eu  paquero ela faz um tempo já, agora na festa do Doce eu vou conversar com ela.
- Ela vai querer? – Disse Dudu
- Uai, Dudu, isso eu não sei, mas acho que ela vai querer conversar comigo também. Eu já disse pra ela que eu a achava bonita. E você com quem quer ficar?
- Eu quero a Joana. Mas ela parece ser séria, fico tímido quando ela chega perto de mim. Mas vou ver se falo com ela na festa também, assim caso ela não queira eu arrumo outra pra não ficar feio. – Sorriu Dudu, inseguro.
- Flavinho, faltou você ficar com a Ceci, né?! – Disse Guilherme.
- Eu não vou ficar com ela não!
- E por quê? – Questionou Dudu.
- Tenho um rolo com a Aline, e a Ceci não é tão bonitinha, e eu to começando a gostar dela, talvez eu peça ela em namoro na festa.
Os dias caminhavam depressa, o calor tinha chego fazia uma semana, já era véspera do início, e muitas pessoas já estavam se aprontando nos cabeleireiros da cidade e o comentário das pessoas na rua era só sobre a Festa do Doce e as atrações. As barraquinhas de doce já estavam montadas, o pula-pula também e a atmosfera era outra, as pessoas estavam animadas para comemorar.
Ceci e morava próximo ao armazém do Seu Tenório, onde ajudava regularmente, era seu avô, e adorava organizar as prateleiras, escrever os cartazes com o preço e mudar o preço dos produtos com a máquina etiquetadora manual. Sua casa era sempre cheia de gente, com parentes, amigos e conhecidos. Nunca tinha um aspecto sombrio e quieto, era muito feliz o ambiente, assim como Ceci, era uma moçinha dos seus 14 anos de idade, sorridente e faceira.
O dia chegara, e todos estavam entusiasmados com isso, já se passara das seis da tarde, e como de costume, já se aprontavam em casa para irem. Alguns já se encontravam no recinto, aqueles que trabalhavam nas barracas de doces, na cantina e também nos brinquedos.
O Show começou bem, com músicas conhecidas e que tocavam nas rádios e passavam na TV regularmente, a esse ponto quase toda a cidade já estava no parque. Os pais, avós, tios, amigos, colegas, as meninas os meninos, todos já estavam pra lá e pra cá. Alguns conversando, outros dançando e alguns outros beijando sob guarda fiel dos pais da moça.
                O anuncio esperado da noite seria revelado, os críticos e juízes eleitos em estância já tinham seu veredicto, o apresentador subiu ao palco e com voz grave e garbosa bradou:
- Caros cidadãos de Goiabeiras, a cidade do Doce!  É com grande prazer que anuncio o grande vencedor do concurso de doces da XXVI Festa do Doce de Goiabeiras. Foi dura e apurada a situação, a competição foi acirrada. Mas felizmente temos que eleger os nosso pódio, lembramos que nosso intuito não é chatear e nem provocar pessoa alguma com o  resultado, assim como disposto nas normas do concurso. Eu com grande prazer digo que em terceiro lugar ficou a famosa marmelada da D. Cida! – Os olhos dos que aguardavam o veredicto estavam brilhando de esperança e curiosidade, esse momento era um dos mais esperados do ano, após anunciado D. Cida levantou, recebeu alguns abraços e ficou irradiante com o mérito e prêmio que havia ganho – O Locutor continuou – E de grande valia quero apresentar a vocês o segundo e primeiro lugar respectivamente, com vocês quero que apreciem e cumprimentem a Cidinha da farmácia pela ambrosia cremosa que concorreu nesse ano e ganhou em segundo lugar e a vencedora da XXVI festa do Doce de Goiabeiras é Marilda da rua dos ramalhetes, por seu estonteante doce de morango e hortelã.
A felicidade encontrara as vencedoras do concurso, era como se tivessem acertado a loteria, pessoas conhecidas e parentes festejaram as com abraços, e cumprimentos, após saberem o resultado, o locutor exaltou as qualidades de cada uma das ganhadoras e explicou os requisitos que as fizeram campeãs. O prêmio singelo era simbólico, no entanto, era muito desejado, nada mais do que um troféu em forma de caldeirão e um buquê de rosas. Esse episódio só era visto uma vez ao ano, assim que a primavera beijava o verão e entregava a aliança da estação.
                Os planos dos meninos e meninas não tinham acontecido como o combinado, algumas circunstâncias intrometeram-se no meio deles. Como o prêmio é a parte mais importante da festa, o momento em que todos aguardam tinha se acabado, com ele foi tragado muitas pessoas para suas casas. E Marina que esperava os trejeitos e palavras de Guilherme não a encontraram, seus pais a ordenaram:
- Venha conosco Marina, não quero que minha filha fique mal falada na cidade por ficar sem os pais aqui na Festa do Doce!
- Mas pai, é que a Joaninha vai ficar comigo e depois eu volto com ela...
- Não Mah, venha! Amanhã pela manhã você tem que me ajudar – Disse a mãe de Marina.
Com certa fúria, Marina fechou a cara, despediu das meninas e caminhou atrás de seus pais vagarosamente com se fosse uma pirraça não tão bem feita.
O que houve foi de que Joaninha  ficou sobre olhar de seus pais e não pode fazer nada com Dudu, além de ficar sentada no banco com os pais de Dudu de um lado e os seus do outro.
                E quem menos esperavam, vencendo a sutil zombaria das meninas por ser um pouco rechonchuda, Ceci que estava na cadeira do restaurante ouvindo a música que tocava, foi surpreendida por João. Ele era um rapaz esperto, não muito bonito e também não tinha tantas posses, porém era muito divertido e sincero. Ele trajava uma camisa de flanela marrom xadrez com listras brancas e pretas, usava jeans e tênis, seu estilo era o do momento, era apropriado para a ocasião é tinha boa pinta. Assentou ao lado de Ceci e lhe cumprimentou, ela o fez o mesmo. E então lhe perguntou:
- Quer um pedacinho da minha maçã do amor, Ceci?

- M. Leite

sábado, 13 de agosto de 2011

Certas coisas...


Algumas vezes penso, qual o motivo ruim de se envelhecer?
As pessoas fogem ou mesmo se escondem atrás de uma peneira, só se esquecem que o sol a transpassa, assim como os anos e a idade corrói o sujeito que se escondeu. A vida é boa, grande, pode-se pensar na imensidão do céu e da abundância das águas que Deus lhe deu?
Algumas vezes já vi que envelhecer é ruim, você não ganha mais doces como antes, nem é amparado quando faz algo de errado, geralmente te cobram ou culpam, será mesmo?
Vamos dizer e combinar uma coisinha?! Não pode se lamentar mais quando os anos vierem, em troca eu lhe dou experiência. Bem me chamo tempo e fui criado para ajudá-lo a passar sua vida bem e lhe mostrar quantas coisas existem na terra, mar, céu e além de tudo isso. Basta você aceitar, mas isso depende de ti, ok?
No entanto mesmo que o narrador seja o tempo e ele traga algum recado para nós, nunca vamos saber entender corretamente o real sentido, pois batemos a cabeça sempre de pensarmos de forma racional que ele só vai te levar para cova.
Supondo que a cova seja o caminho do sucesso, gostaria que ela tivesse próxima, bem de mim não sei, mas a cova é o fim, e isso tá longe, assim espero!? As texturas e aromas que ainda não senti, estão a minha espera, e se tiver que trilhar todo esse caminho de sucesso, quero que seja assim, pois o fim de todos é o mesmo, mas o sentimento e as escolhas de cada um são arbitrárias, pense sempre de forma positiva, você se irritar ou entristecer com o tempo e o seu arredor, não vai lhe trazer nada, além de uma chata enxaqueca ou alguma dor lombar.
Sonhar com a vida é necessário, é bom olhar para as nuvens e imaginar um grande e longo sofá! Também é muito prazeroso estar na praia, fitar seus olhos no mar e imaginar o infinito. Certas coisas ninguém pode nos contar, certas coisas ninguém pode nos mostrar, pois o que nos é reservado, é bênção, do mais é o vento apenas que assopra.

- M. Leite

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Dia de pesca

Com cabelos encaracolados e muita curiosidade levantou do sofá em que estava e apanhou o almanaque da antiga farmácia, que vovô recebia quinzenalmente. Abriu e começou a folhear as páginas lentamente, com aqueles grandes olhos cor de mel e emoção, lá tinha as Pin-ups fazendo propaganda dos perfumes da época, pó de arroz, sabonete, aspirador de pó. Oh! Que luxo! Havia também as balas, os doces, os cigarrinhos de chocolate. A parte de humor, com piadas e charges, as últimas ele não entendia muito bem o sentido das palavras, mas os desenhos eram muito engraçados. 
A parte mística! Uau... que misterioso! Com os astros e signos. A parte da vovó, das receitas das quitandas e doces, a outra que lembrava a titia, irmã do vovô, as poesias. De repente aqueles olhos castanhos claros, próximos ao mel das abelhas se depararam com Dia De Pesca!
- Ô Vó! Pescar tem dia certo?
No velho almanaque continha uma página dedicada somente para os pescadores, aqueles que por hobby gostavam de pescar e se divertir, e isso intrigou o menino, como pescar pode ter dia certo se ninguém fala com os peixes? Dizia que os dias de pesca são guiados pela lua, que nas determinadas fases dela o ato de pescar melhorava ou piorava.
- Vamos lá, na minguante é regular, será que mingua os peixes também? Ah deve ser isso. A Crescente é boa, Hmmmm, acho que to entendendo esse negócio aqui, na crescente ela chama os peixes com certeza. A cheia é neutra, Uai!? Como pode ser neutra, devia ser excelente por que cheia, seria cheia de peixe!? Bem to entendendo mais ou menos. A nova, é ótima, Ahhhh! Essa eu já sabia, porque nova quer dizer que os peixes nascem. Bem!? Mas se nascem não podem ser pescados porque são miudinho ainda. - Pensou consigo mesmo.
O piuí da panela cessou, e os temperos ja exalavam seu cheiro, de avental branco e chinelos estava uma velhinha simpática cuidando do almoço.
- Vovó! Tem dia pra pescar?
- Ah filinho, é o que dizem por aí?
- A senhora já foi alguma vez pra ver?
- Para de conversa fiada, e pinica daqui, por que se é verdade eu não sei, mas que dizem que dá certo, dá!
Sentou no sofá, colocou as duas mãos embaixo do queixo, inspirou e soltou o ar com grande dúvida e frustração.


- M. Leite
 
 
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