Vestido verde, pano leve. Devidamente dobrado, com requintes de quem sabe fazer a dobra perfeita. Por sobre ele uma calça jogada, largada como se fosse um mal a ser destruído. Uma regata branca que completava o monte foi carregada pelo vento, moleque travesso que brinca com qualquer coisa. Vai levando e jogando de um lado para o outro. Nesse balé jovial, uma onda mal humorada não quer brincar.
- Não aceito a brincadeira, agora é minha.
E toma a blusa e carrega consigo. Irá levar para Iemanjá? Talvez.
A lua que de cima assiste tudo joga sua luz por entre nuvens foscas e arredias. Não gosta de ser chamada de farol do céu. Sente-se mais um preciso solitário a reluzir pela negra noite. Noite que é nova, sete e trinta.
- Amor, tá na hora? Pergunta quem não sabe o que fazer.
O vento moleque não quer parar de brincar. Encontra outra coisa para fazer.
- Vou ecoar os sons! E arrasta gemidos pela praia. Gemidos que viram uivos, uivos que gritos, gritos que viram barulho, barulho que vira som estridente.
- Pega ele!
- Se ferrou rapá.
A onda ainda joga as suas franjas na praia. Resfria os corpos quentes, que adormeceram aos seus pés.
- ReVitor
[Esse conto, foi escrito por ReVitor, alguém que tenho muito apreço e uma mente brilhante para a sabedoria de letras]