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domingo, 20 de fevereiro de 2011

Azul cor de paz


    "E o céu, está claro?" a voz rouca que emanava do fráil corpo ecoava no quarto mal iluminado. "Está sim. Os anjos acabaram de limpá-lo." As palavras iluminavam o local. Eram simples. Talvez a vida fosse simples. Nascer, crescer, morrer. Tudo é simples.
    "Conte-me mais." a voz já estava quase imperceptível. Cada vez mais frágil, já descrevia o destino de quem pronunciava. "O que se fazer diante da morte?" Ela se perguntava, olhando para aquele ser. "As nuvens se afastaram para o sul, o ar está bem mais agradável. Talvez chova no outono."
    O olhar dele agora era fixo. As palavras descreviam o céu e eram as mesmas que lhe davam paz, afinal, ele sabia que logo encontraria aquele cenário. Isso lhe alegrava e dava a segurança de que a vida não é em vão e o céu - lindo, pelo que ela dizia - seria uma boa morada pra ele.
    Ela começou a entendê-lo, mesmo sem ninguém dizer nada. As palavras lhe davam paz. E continuou. "Agora os anjos estão alegrando o céu. Derramam laranja e vermelho no azul cor-de-paz. O sol está começando a se deitar. Olha, está chegando a nossa hora."
    E nessa hora ele foi embora.
    Algum tempo depois duas enfermeiras conversavam no corredor: "É, foi o morto mais estranho que já vi, morreu sorrindo."
    "Acho que morreu em paz."

reVitor

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