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segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Golpe de eternidade


    
          Na noite de estrelas adormecidas, anunciados pelo brilho exponencial da lua, as intermitências da noite logradas do cansaço e a sequencia de pegadas deixadas na areia. As dunas desenhavam o deserto em dégradés sombrios, a luz vinda do céu, cedida por Atum o grande deus da criação. Caminhavam revezando o calor retumbante diurno e a fragilidade noturna de sopros gélidos. Adiantavam-se fugindo de animais e pessoas, e ao longe desprezando a vista de um Oásis, viram pirâmides, recheadas em torno de homens, mulheres, crianças e templos.

         Ludibriados pelo tempo e espaço, decidiram que voltar faria que o deserto se encarregasse dos dois forasteiros, a busca por facilidades em viver ao saquear camponeses cuidadores de ovelhas, porém, não encontraram em parte alguma, a água já não sobrava mais que meia bilha. Precipitaram a descer as dunas e se esconderem entre os egípcios nas ruas. Puseram-se a caminhar e participar das feiras, nos mercados de peixe e nesta mesma noite, passearam em um trecho escuro em busca de prazeres femininos.
         - O Egito e seus mistérios!
         - Passamos bem por egípcios, mesmo sendo forasteiros, acreditam que somos um dos seus.
         - Não há como saberem, temos os mesmos traços, e adoramos os mesmos deuses.
         - Quem adoras?
         - Nós, aqui somos como eles, não quero que os guardas ou generais do Faraó nos surpreendam. Há muito ouro aqui. – Riu ambiciosamente
         - Pensas mesmo em saquear o grande Faraó.
         - Não te passa, que se comportarmos como seus servos, numa noite em que a lua dormir, envenenaremos o cantil dos guardas e surrupiaremos as bolsas de ouro.
         - Seria triunfante sairmos daqui ricos. Sendo assim não temeria tal risco.
         Uma semana passaram para os forasteiros.
         - Finalmente, estamos muito próximos.
         - Quer se apropriar de algo tão precocemente. E qual plano tens em mente?
         - Não estamos em situação confortável como pensamos no vilarejo. No templo estamos cercados de magos, soldados, servos e realezas. – Escute – Temos que adiantar nosso plano. Ainda temo que descubram-nos como forasteiros.
         - Não seja tolo, a não ser que tu nos entregue.
         Em ritual precedido ao deus Osíris, congregavam a vida e o renascimento, a vegetação da humanidade em crescimento e a indolência da morte. Aliciaram todos do templo, véus brancos pairavam sobre as enormes colunas, carnes assadas, vinhos, frutas, danças envolviam os sacrifícios oferecidos ao grande deus.
         Os sacerdotes e magos em seus feitiços emanavam de suas vestimentas fumaças aromáticas, a água tornava-se roxa e laranja em recipientes finos. Em um levantar de dois dedos do faraó, os servos empurravam dois grandes volumes envoltos de seda azul. Ao colocarem em frente ao templo onde jazia os cordeiros e aves mortas.
         O mago precipitou a zombar e gritar em um ulo maldito e entre os dois volumes cobertos, começou a ditar a sentença em egípcio.
         - Anubis os  recebem hoje, o patrono dos cemitérios aguardam sua cobiça e ambição dourada no ventre mais escuro e medonho do Egito. Os mesmos olhos que desejaram o ouro, os denunciaram. A coloração acinzentada não faz parte de um de nós. A quem forasteiros poderiam enganar do que a si mesmos? Tragam-nos.
        Segurados pelos guardas e a vista de todos, se esgueiravam como os gatos que os encaravam, em silencio profundo todos os fitavam, em frente o mago, podiam ver a direta o faraó, os deuses desenhados ao fundo e a ira no semblante de todos. Em um ato jogou ao chão uma esfera de cristal, e fez que a fumaça alaranjada subisse e ao dissipar, os dois viram suas tumbas desnudas da seda. Em inscrições douradas na primeira estava escrito Aureus, na outra, Mortem.
         - Por toda insensatez e abuso, entrego-lhes o seu caminho de vida, com ouro e trevas, não necessitarão mais da busca por riqueza, entrarão na morte e a eternidade possuindo tudo o que desejaram em vida. Que o deus que lhes recebem, seja generoso em seu tormento eterno.
        Sendo assim, colocaram os dois forasteiros, um em cada tumba, deitaram-nos e despejaram ouro derretido formando de seus corpos eretos múmias douradas e pavorosas, a temperatura do metal derretido e a estreita cavidade tornaram duas medonhas faces agonizantes no ritual perfeito da morte de ouro aos ladrões.



                                
- Marcos Leite




 
 
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